SUV: o grande amor dos americanos é também o maior inimigo

03/07/2018

Alexandra Beny
Alexandra Beny
Jornalista
Cada vez mais altos, mais pesados, mais largos e potentes, os SUV estão na ordem do dia no que ao mercado automóvel diz respeito. Veículo tendência na europa, numa tipologia originária da América, o estilo SUV é alvo de interesse dos condutores que procuram um utilitário desportivo ou versátil, mas também a cólera de quem vive com este automóvel no quotidiano e de quem perdeu um ente querido num atropelamento mortal.
Alexandra Beny
Alexandra Beny
Jornalista

A verdade é que a reputação deste veículo de grandes dimensões não é a melhor para os condutores, mas sobretudo para os peões. Segundo um estudo levado a cabo pela Detroit Free Press e a USA TODAY NETWORK, em caso de acidente, os SUV são dois ou três vezes mais propensos a matar um peão do que outro tipo de automóvel.

Nos Estados Unidos, as mortes de peões aumentaram 46% desde 2009, ano em que a venda de SUV subiu a pique naquele país. Em 2016, quase 6 mil peões morreram nas estradas americanas – quase tantos como os soldados que morreram em combate no Iraque e no Afeganistão desde 2002. O número preocupa e a opinião pública reclama. Contudo, grande parte do público deixa-se encantar pelas dimensões do SUV.

Entre outros fatores, a falsa sensação de segurança que este veículo provoca nos condutores é um dos grandes responsáveis pelos números negros registados na lista da sinistralidade rodoviária norte-americana. Na realidade, quanto maior for o veículo, mais hipóteses tem de provocar lesões corporais graves num peão em caso de impacto.

Felizmente, a chegada de sistemas de segurança como a travagem de emergência automática promete contribuir para a redução da sinistralidade. Contudo, a lei da física fala mais alto: quanto maior o carro, mais perigoso é.

Além dos constantes alertas que apelam ao não uso do telemóvel ou de outro tipo de equipamento que possa distrair o condutor, procuram-se mudanças no dia-a-dia das cidades. Nova Iorque, por exemplo, conseguiu reduzir a estatística mortal quase para metade em apenas quatro anos, graças aos limites de velocidade, mais passadeiras e melhor iluminação.

Mas, combater este problema pode ser mais difícil do que parece. Ao contrário da Euro NCAP na Europa, a americana NHTSA (Administração Nacional de Segurança Rodoviária) responsável pelos testes de segurança dos veículos, ainda não inclui os testes de colisão com pedestres nos novos veículos. A NHTSA, citando as conclusões de dezembro de 2015, anunciou um plano para rever o sistema de classificação de segurança de veículos para incluir uma nova pontuação para a segurança dos peões. O plano era lançar um New Car Assessment Program, ou NCAP, em 2018 para os veículos do ano-modelo de 2019.Contudo, isso não aconteceu.

Segundo a Detroit Free Press, a NHTSA não justificou o atraso. O facto de a agência não ter um administrador permanente desde o início do mandato do presidente Donald Trump, também não ajuda este processo. Em comunicado à Free Press, a NHTSA garantiu estar a trabalhar numa uma proposta padrão que inclua a proteção contra lesões na cabeça e pernas de pedestres vítimas de impacto, além das interações entre motoristas, peões e ciclistas.