M. Francis Portela
M. Francis Portela
Investigador
A cidade de Nova York é famosa pelos seus icónicos táxis amarelos. Mas estes automóveis poderão deixar as ruas da cidade que é a capital cultural mundial, pois a chegada dos serviços online de transporte pessoal tem acabado com a capacidade de muitos taxistas de poderem recuperar o dinheiro investido no negócio, tanto que alguns, mais desesperados, já optaram pelo suicídio, com cinco mortes nos últimos cinco meses.
M. Francis Portela
M. Francis Portela
Investigador

O preço de uma licença para operar um táxi em Nova York varia, já que muitos operadores vendem as suas licenças. Há cinco anos, uma licença, indicada por um medalhão dourado, podia custar 700 mil dólares (600 mil euros), como aconteceu a Yu Mein Chow, conhecido pelos seus clientes habituais como Kenny. Kenny Chow, de 56 anos, foi dado como desaparecido durante alguns dias, até que finalmente o seu corpo foi encontrado no rio Hudson, para onde saltou, por não poder pagar a dívida de aquisição do medalhão e operação do táxi.

Chow junta-se a Nicanor Ochisor, imigrante romeno de 64 anos, que se enforcou em casa depois de ter passado os últimos anos a fazer turnos de 12 horas. Como o táxi dava prejuízo, a sua mulher, Helen, pegava no táxi quando o marido chegava a casa e fazia outras 12 horas. O casal quase não se via. Há alguns anos, Ochisor contava vender a licença do seu táxi para usar o dinheiro para a reforma, numa fase em que um medalhão era vendido por um milhão de dólares. Mas hoje não vão além dos 175 mil.

O número de táxis autorizado a circular em Nova York está limitado a 13.857. No entanto, com a entrada em cena de serviços como a Uber ou Lyft, só a primeira passou a colocar em circulação mais 60 mil automóveis usados para transporte de pessoas. A diferença entre estes e os taxistas, como é habitual, é que não necessitam de pagar os mesmos seguros, equipamento e o exorbitante custo do medalhão dourado. O público aprecia esta escolha, já que, embora esta cidade americana tenha serviço bastante abrangente de transportes públicos, a ilha Manhattan pode estar bem servida destes, mas os extremos do Bronx, de Queens ou de Brooklyn já não.

Outro problema é que os carros da Uber e Lyft aumentaram desmesuradamente o tráfego, contribuindo para um aumento da poluição, feita por carros que normalmente não teriam motivo para se deslocarem. É que qualquer nativo novaiorquino sabe que não se leva o carro para o centro da cidade. Os autocarros locais agora deslocam-se a uma média de 8 km/h, também. Mas mesmo com estes protestos extremistas de taxistas, o poder local ainda não tem alternativas. Em 2015, a Uber conseguiu fazer lóbi junto do público para não regular a sua atividade em Nova York.