Veículos com motores de combustão dizem adeus em 2035

10/06/2022

Com 339 votos a favor, 249 contra e 24 abstenções, o Parlamento Europeu aprovou a proibição da venda de veículos novos com motores de combustão interna a partir de 2035, na Europa. Reações e comentários.

O Parlamento Europeu votou para estabelecer o ano de 2035 como o prazo limite para que todos os veículos ligeiros de passageiros e de mercadorias novos a serem vendidos tenham de ter emissões zero.

A votação em plenário no Parlamento Europeu apoia, assim, a proposta da Comissão Europeia de proibir a venda de carros novos com motores de combustão interna a partir de 2035, tendo contado com 339 votos a favor, 249 contra e 24 abstenções.

A medida faz parte do pacote “Fit for 55 in 2030”, sendo vista pela associação Zero como “um passo significativo para a ação climática, a qualidade do ar e a acessibilidade dos veículos elétricos”.

Mediante isso, a Zero pede ao Ministro do Ambiente e Ação Climática que apoie a confirmação da data final das vendas de novos motores de combustão quando se reunirem em 28 de junho.

Em Portugal, o transporte rodoviário é a maior fonte de emissões de gases com efeito de estufa, correspondendo à quase totalidade do setor dos transportes que em 2020 representou cerca de 25% do total. O setor de transportes consome 65% do petróleo na Europa, quase todo importado.

Francisco Ferreira, presidente da Zero, salienta que “o prazo significa que os últimos carros movidos a combustível fóssil serão vendidos até 2035, dando assim uma possibilidade de um forte contributo para evitarmos alterações climáticas descontroladas”.

Francisco Ferreira refere de forma clara: “A eliminação progressiva dos motores de combustão também é uma oportunidade histórica para ajudar a acabar com nossa dependência do petróleo. Dá também a certeza de que a indústria automóvel precisa de aumentar a produção de veículos elétricos, o que reduzirá os preços dos veículos”.

OS EURODEPUTADOS VOTARAM PARA EXIGIR QUE A INDÚSTRIA AUTOMÓVEL REDUZISSE AS SUAS EMISSÕES MÉDIAS DE VEÍCULOS NOVOS EM 15% EM 2025, EM COMPARAÇÃO COM 2021, EM 55% EM 2030 E EM 100% EM 2035.

Os deputados conservadores, a extrema-direita e até alguns eurodeputados progressistas rejeitaram uma meta mais alta para 2030 ou metas mais altas na década de 2020, lamenta a Zero, “o que exigiria que os fabricantes aumentassem as vendas de carros elétricos mais cedo. Infelizmente, tal não estimulará ações suficientes da indústria automóvel nesta década para ajudar os Estados-Membros a atingir as suas metas climáticas”.

Combustíveis sintéticos, uma falsa solução verde

Os ecologistas destacam ainda o facto de o Parlamento ter rejeitado uma abertura para combustíveis sintéticos em carros, “a mais recente falsa solução ‘verde’ da indústria de combustíveis fósseis que quer prolongar as vendas de novos motores de combustão além dos prazos de descarbonização”, denuncia a Zero.

Referem os ambientalistas que “os e-combustíveis reduziriam as emissões de dióxido de carbono (CO2) de um carro comprado em 2030 em apenas 5%, em média, ao longo de sua vida útil em comparação com a gasolina, confirma uma nova análise de ciclo de vida. Os testes mostram que a queima de combustíveis sintéticos também promoveria as emissões tóxicas de óxidos e azoto para o ar. Um carro com e-combustível é muito mais caro em comparação com um veículo elétrico”.

Por outro lado, declara ainda a Zero, “produzir e-combustíveis também é muito menos eficiente do que alimentar um carro elétrico a bateria”.

Francisco Ferreira reforça o apelo: “Os Ministros do Ambiente, em particular de Portugal, não devem deixar espaço para soluções verdes falsas, como os combustíveis sintéticos. Permitir combustíveis sintéticos em carros seria um desvio caro e dispendioso da tarefa gigantesca de limpar o transporte. Os veículos elétricos a baterias estão desde já disponíveis e são uma maneira mais limpa, barata e eficiente de descarbonizar”.

Os Ministros do Ambiente europeus decidirão a sua posição sobre as metas de emissões de veículos no final deste mês antes de entrar em negociações com o Parlamento. Espera-se que a lei final seja aprovada no outono.

A Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA) disse que a proposta anunciada pelo Parlamento Europeu endureceu as regras já duras para forçar a indústria a se tornar totalmente elétrica e seria impossível sem gastos maciços na rede de carregamento.

Proibição de motores de combustão a partir de 2035 “é oportunidade histórica”, diz Juice Technology
Christoph Erni, fundador e CEO da Juice Technology, uma empresa multinacional especializada na conceção e comercialização de soluções de carregamento para automóveis elétricos, que acaba de se lançar em Portugal, entende que a “decisão do Parlamento Europeu de proibir os automóveis com motor de combustão a partir de 2035 é um importante ponto de partida para a indústria da mobilidade elétrica. Com a aprovação da maioria dos MPE, o primeiro obstáculo foi ultrapassado. A Comissão da UE mostrou assim o seu apoio ao New Deal Verde para uma nova política em matéria de clima, energia e transportes. Com pacotes de investimento no valor de milhares de milhões, isto também é visto como uma saída para a crise causada pela COVID-19. As negociações com os estados membros individuais ainda estão pendentes antes de o regulamento poder entrar em vigor, mas a pedra fundamental foi oficialmente lançada”.
Como parte da indústria de veículos elétricos, a Juice Technology só pode congratular-se com esta decisão. Para os peritos da indústria há muito que é um facto: a eletromobilidade está gradualmente a ganhar terreno como a tecnologia de propulsão dominante. No entanto, esta aprovação é importante para a perceção do público em geral”.
“Este marco estabelece um horizonte temporal e, ao mesmo tempo, exclui a escolha de tecnologias de propulsão alternativas, tais como gás natural ou hidrogénio, pelo menos para automóveis de passageiros e furgões. Mas o que significa isto para a indústria automóvel, que tem um papel de apoio tão importante para a economia nacional? Afinal, a mudança afeta não só os grandes OEM, mas toda a cadeia de abastecimento, incluindo as pequenas e médias empresas. Eles precisam de se apressar e acelerar a transição”, diz Christoph Erni, fundador e CEO da Juice Technology.
Este responsável acrescenta: “Ao mesmo tempo, a eletromobilidade abre oportunidades para a indústria local. As instalações industriais para produção de baterias poderiam absorver parte da força de trabalho que foi despedida. Em paralelo, deve ser fornecida uma infraestrutura de recarga que funcione em todo o país. Isto requer estações de carregamento que respondam a diferentes necessidades e cenários nos sectores público e privado: caixas de parede fixas e móveis, bem como sistemas dinâmicos de gestão de carregamento”.

foto: Simon Dawson/No 10 Downing Street