Tornar as cidades mais inteligentes, aproveitando a tecnologia para melhorar a qualidade de vida, é, mais do que nunca, uma prioridade para os municípios. Porém, a ideia dominante é que não basta criar projetos-piloto ou implementar inovações, se tal não resultar em benefícios reais para todos. Foi precisamente isso que os autarcas de Cascais, Almada e Aveiro sublinharam nesta terça-feira, em Ovar, na sessão dedicada às smart cities, no âmbito do Portugal Mobi Summit.

O concelho de Cascais é precisamente um dos melhores exemplos do que está a ser feito para melhorar o quotidiano dos munícipes através da tecnologia. Carlos Carreiras, enquanto convidado do conselho autárquico do evento, na Escola de Artes e Ofícios, não hesitou em criticar erros que se têm cometido: “Somos especialistas em Portugal em fazer coisas giras, mas sem consistência.” E foi mais longe, considerando que o termo smart cities foi inventado por presidentes de câmara, porque se andaram “a fazer cidades estúpidas nas últimas três décadas”.

Entre a aposta na plataforma de transportes integrados ou o recente veículo autónomo, Cascais tem vários exemplos de como se está a transformar, com Carlos Carreiras a sublinhar que a “cidade inteligente tem de ser a favor das pessoas”.
Na mesma linha, Inês de Medeiros não poderia ser mais taxativa: “Almada é exemplo do que não se deve fazer nos entusiasmos das smart cities.” Para a autarca, o seu concelho ficou “um bocado pelos projetos-piloto”, na gestão anterior. E deu exemplos desproporcionados, como o facto de existir um sistema de medidor de iluminação pública, mas apenas em duas avenidas, quando noutros locais ainda há lâmpadas a mercúrio. “O que nos interessa é saber como a revolução tecnológica pode ajudar os munícipes”, afirmou.

A autarca do PS quer dar o passo em frente na aplicação da tecnologia para beneficiar todos e não apenas alguns. A mobilidade é também uma das apostas, tal como a recolha de resíduos, apoiada por dados em tempo real. Ou seja, a ideia é a recolha passar a ser feita de acordo com a necessidade real, tornando-se mais eficiente. Esta tecnologia é aliás já bastante referenciada noutros concelhos, sendo uma marca das smarts cities e um exemplo de eficácia.

Quanto à mobilidade, a autarca salientou algo bem em voga: “As trotinetas são uma coisa gira, mas não resolvem o problema.” Uma das novidades em Almada será a transformação do comboio Transpraia, cujo projeto prevê a sua eletrificação e que passe a ir da Costa de Caparica até à Trafaria.
José Ribau Esteves, autarca de Aveiro, salientou como é essencial que exista uma “base, que tem de ser bem gerida, para que sobre ela as novas tecnologias tenham lógica”. “Queremos ter a comunidade mais mobilizada para este tipo de cidades”, acrescentou, considerando que “se a inovação em marcha não for feita em prol dos cidadãos então “não faz grande sentido”.

Referiu igualmente a importância do ecossistema existente em torno da Universidade de Aveiro, com várias empresas a conseguirem desenvolver-se. Há três áreas que são referência no desenvolvimento local: ambiente, energia e mobilidade. Algo comum a Cascais, Almada e não só. Ficou ainda a garantia de que Aveiro quer ser das primeiras a receber a rede 5G.
José Ribau Esteves não é tão crítico como Carlos Carreiras, considerando que o urbanismo dos últimos 30 anos “fez-se na lógica do tempo”, em resposta às necessidades de então. Agora, o conhecimento da população faz-se de uma forma mais digital, numa gestão de dados que não é fácil, pois “não pode ser feita à custa da privacidade de cada um”.

Além da gestão de dados, há que dar atenção à gestão de recursos, para combater os desperdícios financeiros, de recursos humanos, alimentares e de energia.
Carlos Carreiras considerou que “estão a consumir-se recursos a uma velocidade que o planeta não produz”. Portanto, há que usar a tecnologia não só para melhorar a qualidade de vida atual mas também a pensar nas gerações futuras. O autarca de Cascais observou que, “na construção das smart cities, o segredo não é a alma do negócio, há que partilhar”.

Elisabete Silva

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