Marcelo Sousa, diretor de Marketing e Business Intelligence da Fidelidade, explica como as seguradoras enfrentam os novos desafios de uma era marcada pelo big data e pela inteligência artificial, nomeadamente na área da mobilidade. À medida que os carros particulares forem diminuindo, o seguro deixará de estar assente menos na responsabilidade da pessoa e mais na segurança da pessoa, desde que sai de casa e usa vários tipos de mobilidade até que regressa a casa.

Estamos perante um novo desafio, uma nova era, para as seguradoras com a realidade do big data e da inteligência artificial?

É uma nova era para todo o mercado, e as seguradoras como parte integrante do mercado também são impulsionadoras desta mudança. Toda esta lógica da inteligência artificial e do big data acabam por ser muito relevantes para o desenvolvimento quer de novas linhas de negócio quer para conhecermos o comportamento dos nossos clientes e podermos apoiá-los melhor na tomada de decisões futuras.

Como conseguir recolher cada vez mais dados sem violar a privacidade das pessoas?

Tudo isto assenta num princípio-base que está no RGPD [Regulamento Geral de Proteção de Dados], que é a licitude. Eu não posso recolher dados que não tenham que ver com a minha atividade. Há um conjunto de informação que estou autorizado a recolher de forma aberta, mas depois, quando entro em dados de saúde, para dar um exemplo, é muito mais complicado ter permissão para isso. Só mesmo no âmbito de um seguro de saúde é que eu consigo ter permissão, caso contrário não consigo estabelecer relação com o cliente. Passa tudo por um consentimento muito informado. O cliente quando diz que nos dá o consentimento está perfeitamente claro para ele que a informação será para aqueles fins e não outros.

Que tipo de recolha de dados fazem e como é que os tratam?

Os dados que nós recolhemos dos nossos clientes são sempre no âmbito da atividade que a seguradora exerce e que tem que ver, apenas e só, com o perfil de compra que o cliente tem dentro da Fidelidade, além de outros dados pessoais que recolhemos de perfilagem: se tem ou não animais domésticos, com quem partilha a sua habitação, muito na perspetiva de construir um perfil daquele cliente e saber qual é a melhor proposta para apresentar. Poderá ser de um produto, ou de um serviço, ou apenas um aconselhamento de melhoria de coberturas.

Mas também pode ajudar a detetar alguns comportamentos, como fraudes, por exemplo…

Aí numa perspetiva mais da seguradora e não só do cliente, ainda que no final também tenha um resultado mais positivo para o cliente. Se for possível identificar de uma forma clara quais são as pessoas que têm maior probabilidade perante os eventos que são recolhidos de existir uma fraude, vou conseguir ter uma proposta de valor mais económica para as pessoas, pois consigo isolar esses casos e detetá-los antes que eles aconteçam.

Os veículos autónomos são um dos maiores exemplos a requerer adaptação das seguradoras. Não há uma pessoa para responsabilizar, há uma máquina…

Há uma máquina que poderá falhar. É a máquina que, perante um acidente inevitável, vai tomar a decisão de escolher a vítima – é um pouco absurdo isto, mas a máquina vai ter de tomar este tipo de decisões – variará consoante a cultura do país onde a máquina estiver a operar. E obviamente que toda aquela lógica de seguro assente nesta perspetiva é completamente diferente daquela que hoje é o seguro de responsabilidade civil, que assenta na responsabilidade de uma pessoa. Passamos a ter uma responsabilidade de um produto, que é algo que não existe hoje.

Como está a regulamentação?

Está numa fase muito embrionária. Na prática, na própria indústria automóvel ainda não há um conjunto de normativos que possibilitem construir uma proposta. Já existem hoje seguros relacionados com a robotização, etc., ou seja, com responsabilidade da própria máquina, dos riscos que advêm da utilização dessas máquinas. Os dos carros não serão diferentes desses.
À medida que vão diminuindo os carros particulares, optando-se por veículos autónomos comuns, bicicletas, trotinetes, por exemplo, como entrará a seguradora neste modelo de negócio?
A seguradora entrará neste modelo de negócio da mesma forma como entra no negócio atual, mas numa perspetiva muito mais integrada de mobilidade. Ou seja, o seguro deixa de estar assente na responsabilidade da pessoa, passará a estar assente na segurança da pessoa, numa perspetiva de acompanhar a pessoa desde que se levante da cama de manhã até que volte a casa no final do dia. Isto é, numa lógica de acidentes pessoais e numa lógica integrada com estes seguros de responsabilidade da máquina que terão de existir. Será uma mudança completa.

Elisabete Silva

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