André Lefebvre, um génio desconhecido

09/05/2019

André Lefebvre (de boina azul nesta foto colorida) e Henri Guilbert partilharam o S.C.A.P. Type O com o número 24, nas 24 Horas de Le Mans de 1928, onde foram a derradeira equipa a desistir. O S.C.A.P. Type O era um modelo bilugar francês equipado com um motor de 4 cilindros em linha e 1500 cc de capacidade.

S.C.A.P. era o acrónimo de Societe de Construction Automobile Parisienne, uma marca de curta vida (acabou com a crise económica de 1929) mas que durante a sua existência apostou no desporto automóvel para promover a sua imagem.

André Lefebvre era um engenheiro que tinha trabalhado na empresa Avions Voisin, quer na parte aeronáutica, que na parte automóvel, onde desenhou e pilotou o Voisin C6 Laboratoire, modelo experimental de Grande Prémio com linhas algo revolucionárias.

Além de ter participado em diversos Grande Prémios, Lefebvre alinhou uma vez nas 24 Horas de Le Mans e, em seguida, esteve ligado às participações na mítica prova francesa dos revolucionários Tracta, automóveis desportivos com tracção dianteira e motores S.C.A.P.

Estas participações dos Tracta fizeram Lefebvre confirmar a mais-valia da tracção dianteira que então poucos usavam.

Entretanto, com o fim da Voisin, o jovem engenheiro passou brevemente pela Renault antes de rumar à Citroën, onde iria associar o seu génio técnico ao génio industrial de André Citroën, começando logo por criar o inovador Traction Avant , uma verdadeira revolução no mundo do automóvel quando foi apresentado em 1934. Construção monobloco, piso rebaixado e com tracção dianteira, o novo modelo da Citroën iria marcar novos padrões de eficácia, estabilidade e segurança.

Quando André Citroën faleceu no início de 1935, André Lefebvre iria permanecer fiel ao departamento de design da marca, onde iria ainda criar – veja-se bem – o Citroën 2CV (apresentado em 1948), o conhecido furgão HY de chapa ondulada e tracção dianteira e, cereja sobre o bolo, o fantástico Citroën DS de 1955, viatura ultra-vanguardista com suspensões hidropneumáticas, forma aerodinâmica, tracção dianteira, volante dito “de segurança” e travões de disco nas 4 rodas – que de imediato tornou obsoletos todos os outros carros do mundo.

(Discos de travões que tinham sido estreados em Le Mans, com um triunfo da Jaguar, somente dois anos antes de serem equipamento de série no DS! )

Tendo caído no esquecimento com o passar dos anos, André Lefebvre continua a ser o único piloto de Grande Prémio que desenhou os seus próprios carros de Grande Prémio e ainda alguns dos mais revolucionários e icónicos modelos da história do automóvel. Um verdadeiro génio, com uma visão completamente “out of the box” e, devido a isso, senhor de um currículo inédito.

Ricardo Grilo / Jornal dos Clássicos

Imagem colorida por Ricardo Grilo