Citroën M35, o automóvel com motor rotativo

29/04/2019

O Citroën M35 é um automóvel coupé de duas portas e de configuração 2+2 derivado do Citroën Ami 8, e equipado com motor rotativo Wankel e suspensão hidropneumática. As carroçarias eram produzidas à mão pela Heuliez, de 1969 até 1971, e poucos componentes eram partilhados com o Ami 8, só mesmo o capot e os guarda-lamas dianteiros. As portas eram baseadas nas do Ami 8, mas mais compridas. No Outono de 1969, foram feitas seis carroçarias ainda antes do projecto ter oficialmente avançado, o que só aconteceu em Janeiro de 1970, estes M35 de pré-serie foram fotografados para a imprensa e catálogos, um deles é o M35 mais escuro e outro mais claro. Como só há fotos a preto e branco não se sabe a cor exacta.

O M35 era um veículo experimental e não foi vendido oficialmente e, ao contrário da maioria dos protótipos que são conduzidos exclusivamente por técnicos da marca mas, em vez disso, foi fornecido aos melhores clientes da Citroën, para tirarem as suas conclusões sobre o uso do automóvel, com uma pequena série de protótipos construídos, de modo a ajudar no desenvolvimento do denominado Project F e Project G, tanto ao nível mecânico como das suspensões. Tinha um preço de 14000 francos franceses, ou seja, quase o mesmo preço de um Citroën ID19 e mais do dobro de um 2CV. Os primeiros M35 foram comprados e conduzidos por condutores profissionais, que fizeram um total de mais de um milhão de quilómetros num período de cinco anos. Estava prevista a produção em massa para o ano de 1972, algo que não viria a acontecer.

Estava prevista a produção de 500 exemplares do M35 para residentes franceses e que conduzissem pelo menos 30 mil quilómetros por ano, tinham dois anos de garantia, mas somente 267 foram feitos. Os automóveis deveriam fazer a sua manutenção no Bureau d’Etudes para ver como os componentes reagiam com o passar dos quilómetros.

Das 500 unidades previstas 50 seriam entregues a concessionários Citroën para o usarem como automóvel de serviço e outros 50 para a empresa Citer de rent-a-car para ser conduzido por diferentes pessoas. Infelizmente as 233 carroçarias restantes não foram usadas. Cada um dos 267 exemplares vendidos estão individualmente numerados no guarda-lamas dianteiro em branco e eram todos em cinzento metalizado. Como a produção não chegou aos 500, e a Citroen não queria que as pessoas se apercebessem, os números não eram sequenciais, como por exemplo não foram produzidos M35 do número 175 até ao 376 e a produção acabou no 473. Foram entregues 6 M35 em 1969, 212 em 1970 e por fim os últimos 49 em 1971. Com o fim do projecto, os proprietários poderiam escolher em ficar com os automóveis ou entregar à Citroën, com bons incentivos, sendo que todos os que voltaram à casa mãe foram destruídos, sabe-se que cerca de 60 a 80 exemplares ainda existem.

O chassis era específico do M35, desenhado para acomodar a suspensão hidropneumática. O interior era mais luxuoso que o do Ami 8, com backets e o volante mono braço em pele, idêntico ao do DS, o painel de instrumentos tinha relógio e conta-rotações com redline às 6500 rpm e para evitar rotações altas, era emitido um aviso sonoro às 6700 rpm. O nome M35, não seria o nome final, pois era o nome dado ao projecto de pesquisa, mas como este nunca evoluiu para um modelo de produção, ficou-se por aqui.

O motor rotativo montado longitudinalmente tinha uma cilindrada de 497 cc, com uma capacidade nominal de 995 cc, debitando 50 cv às 5500 rpm, 6 cv segundo as taxas francesas. Atingia uma velocidade máxima de 144 km/h e uma aceleração dos 0 aos 100 km/h de 19 segundos, a taxa de compressão era de 9:1. Era refrigerado a água, tinha lubrificação a óleo misturado com combustível, similar aos motores a dois tempos.

De acordo com os dados de fábrica, o automóvel tem performances semelhantes ao do Morris 1300. O motor era fornecido pela empresa formada em 1967 pela NSU e Citroën, chamada Comotor, o mesmo motor era usado pelo NSU Spider. O motor do M35 sofreu algumas modificações para reparar problemas causados nos motores dos NSU, como por exemplo, o Citroën usava vedantes do rotor de ferro fundido com um desenho diferente e as paredes dos cilindros eram em Nicasil (composto de níquel com partículas de silicone suspensas). Para a alimentação do motor era usado um carburador Solex 18/32 HHD.

O motor era acoplado a uma caixa de velocidades G Series, com um desenho especial similar com o do Ami Super com o motor de arranque montado no topo como no 2CV, tinha quatro velocidades todas sincronizadas. Os travões frontais eram de disco, montados “inboard”, ou seja, junto ao diferencial, em cada lado deste, usando as pinças dos primeiros Ami 8. Na traseira tem travões de tambor. O travão de mão é accionado às rodas da frente. Os semieixos eram do Ami Super. A suspensão era independente às quatro rodas, auto-niveladora. Tem um peso total de 815Kg. Tinha um consumo anunciado de 9,68L/100 km a uma velocidade de 108 km/h.

Este projecto foi desenvolvido porque a Citroën pensava que os motores rotativos eram o futuro e tinha grandes planos para esta tecnologia. Muitos componentes do M35 entraram em produção. O motor rotativo foi considerado satisfatório e uma versão com dois rotores foi usada no GS Birotor em 1974 e era para ser feito uma versão do CX com três rotores, algo que nunca aconteceu. A caixa de velocidades do M35 era a do GS 1015 e muitos componentes da suspensão foram implementados no GS quando este foi introduzido em 1970. Os bancos que reclinam logo acima da cintura foram montados no mais luxuoso Citroën SM.

Além dos M35 cinzentos, existem três exemplares, que na época foram pintados de azul, na cor Blue Delta. Dois deles teriam a alavanca da caixa de velocidades no chão, similar ao Ami Super e outro teria uma caixa semiautomática idêntica ao GS, chamada de Convertisseur. O No.122 é azul e tem a alavanca no chão. Mas por debaixo da cor azul foi encontrado amarelo e por debaixo deste tinha a cor original, o Gris Nacré. O dono afirma que o anterior proprietário repintou-o em amarelo e posteriormente em azul. Foi nesta altura que instalou a alavanca da caixa no chão, pois a mulher tinha dificuldade em engrenar as mudanças. O No.39 tem a alavanca normal e foi entregue em cinzento, que pode ser visto em várias partes do automóvel. Após a entrega do automóvel, a M. Heuliez pintou-o na sua cor favorita, o azul. Este automóvel fez parte da colecção da Heuliez.

Um M35 foi usado para promover o piloto Ricard Anisette, no início do Paris-Kabul Raid. Este Raid era composto por modelos Mehari, 2CV e Dyane e era organizado pela Citroën. Tendo início em Agosto de 1970. Não é perceptível o número deste M35, pensando-se que seja o 150, mas actualmente o No.150 esta na cor original, Gris Nacré e num estado lastimoso.

O Citroën M35 No.1 está na posse da Citroën e é guardado no Conservatoire, em conjunto com o último M35 o No.473. Mas segundo o número de chassis este é o No.4. Além disso tem uns plásticos nos bancos da frente a tapar a entrada onde estaria o encosto de cabeça, equipamento que nunca teve disponível no M35, só mesmo no modelo mais escuro de pré-serie. Além destes dois, o Conservatoire também tem o No. 169, que pertenceu à colecção da fábrica da Citroën, em Rennes.

Muitos M35 permanecem em museus, por esse mundo foram. Existiu um coleccionador que conseguiu reunir 25 exemplares do M35, tendo sido vendidos posteriormente. Alguns são encontrados abandonados ou com algumas alterações. O que é certo é que o Citroën M35 fica marcado na história da marca francesa, não pelos melhores motivos, mas porque era um automóvel diferente e com uma fase de desenvolvimento incomum, algo idêntico ao GM EV-1.

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