UNiRAID 2024: Solidariedade sobre rodas

13/04/2024

A Uniraid é um Rali Solidário que percorre cerca de 2500km por Marrocos, distribuindo material solidário por várias aldeias. Este ano realizou-se a 13.ª edição e reuniu mais de 300 participantes.

 

As condições impostas pela organização são várias, das quais se destacam: ser-se estudante universitário ou ter até 28 anos de idade, possuir um automóvel com mais de 20 anos, até 1400 centímetros cúbicos e ter tracção apenas a duas rodas motrizes. Ao que sabemos o Regulamento para o próximo ano alterou algumas condições de participação. De qualquer forma, são 9 dias de plena emoção, adrenalina e companheirismo!

A minha experiência

Depois de estar decidido, depois de ter encontrado um companheiro e depois de ter pago a inscrição…não havia volta atrás: era mesmo 100pabrir, o nome que veio a ficar para a minha equipa.

Eu e o meu colega Pedro, ambos estudantes de Engenharia no ISEP no Porto, e ambos apaixonados por automóveis clássicos, apostámos tudo num Citroën AX 11 TRE: irreverente, leve e que cumpria as normas de participação neste concurso. Ainda que para alguns, esta escolha possa parecer um pouco ousada, de tantas outras marcas… fomos e voltamos sem percalços técnicos relevantes… e os caminhos nem sempre foram bons!

O tempo voou e de entre manutenção de páginas que criámos no Instagram, recolha de donativos e preparação dos eventos para angariação de fundos, deslocações às empresas, tivemos muitas horas de preparação mecânica e técnica, mediante o Regulamento da UNIRAID: revisões mecânicas profundas, colocação de pneus apropriados para terra/areia, protecções em chapa do cárter, ganchos reforçados, pranchas de areia, barra LED para condução nocturna, subida de suspensões, compressor de ar, jerrican de gasolina (20L), e também retirar os bancos traseiros para uma melhor organização do material solidário na parte de trás do automóvel.

Passados 6 meses de preparações no nosso Citroën AX 11 TRE, chegou o dia de arrancar: 9 de Fevereiro 2024. 800 quilómetros para fazer com muita chuva e vento, sob os efeitos que a tempestade Karlotta decidiu trazer ao nosso país e lá fomos nós, de Vila Nova de Gaia até Algeciras, com 110 quilos de material solidário, mais as peças sobressalentes, mais os nossos pertences, as tendas, o fogareiro e a comida!

Foi na manhã de 10 de fevereiro que, em Algeciras, a minha equipa se juntou às restantes 146 participantes, oriundas de diferentes países da Europa, para que, oficialmente, o raid tivesse início.

Tudo começou no ferry de Algeciras para Tânger de onde iríamos começar a nossa Etapa 0, de cerca de 400 kms até ao primeiro acampamento. Este primeiro dia foi soft. Ainda não tínhamos chegado ao deserto, o verdadeiro raid começaria no dia seguinte.

Bússolas e RoadBooks preparados, arrancámos às 6 da manhã para a Etapa 1, que foi onde tivemos o nosso primeiro contacto com terra e areia, desde Azrou até Aoufous, por 383 Km. Tivemos a oportunidade de passar pelas minas abandonadas de Mibladen, assim como, pelas melhores curvas que uma Estrada Nacional pode proporcionar: a estrada de Lkheng. Piso com curvas e asfalto em excelentes condições acompanhado de uma vista incrível.

À chegada ao segundo acampamento, já em pleno deserto, uma associação solidária de Marrocos visitou-nos para receber o material solidário.

Tivemos um jantar para participantes e habitantes de Marrocos: o primeiro momento de interacção cultural e social.

Na manhã seguinte, os rios de areia (percursos com acentuadas camadas fundas de areia) começaram a estar presentes no nosso roadbook. O pó levantado pela força do vento começou a baralhar os participantes e a dificuldade realmente começou a ser notada por todos. Graças ao trabalho em equipa, todas as dificuldades em termos de trajecto foram superadas, até mesmo as mecânicas!

A assistência constante da organização, em caso de avarias, permitia (quase) sempre seguir caminho, o que proporcionava momentos de enorme alegria a quem pensou por segundos que a Uniraid terminaria por ali. Protecções de cárter amassadas, cárteres rotos, pára-choques caídos, ganchos de reboque mal soldados e algumas batidas com outros carros devido à poeira levantada eram as situações mais comuns. Claro que houve equipas com menos sorte e que cujo o acidente ou avaria não permitiu resolução atempada para a permanência na prova, o que criava sempre angústia. Mas o nosso Citroën AX 11 TRE deu-nos a alegria de ir e voltar!

A Etapa 3, de Tisserdmine até Merdani, foi a que concretizámos em menor tempo, com um piso bastante arenoso e condições climatéricas adversas.

A penúltima noite terminou mais tarde do que o esperado. A organização preparou um “trajecto surpresa”. O percurso consistia num itinerário nocturno, para o qual as 147 equipas foram divididas em 10 grupos diferentes e o objetivo era fazermos uma caça ao objecto no deserto.

A Uniraid não só conta com uma vertente solidária, como também conta com uma componente um pouco mais competitiva. As tabelas classificavas são formadas por vários pontos a ser avaliados numa equipa, dos quais: não excedência do limite de velocidade (todas as viaturas são controlados por GPS), quantidade de material solidário transportado (mínimo 40kg), etapas concluídas e etapa nocturna.

A Etapa 4, com lugar em Er-Rissani, foi o caminho de volta à civilização e ao longo de 104 kms percorremos paisagens fenomenais!

A Etapa 5 foi o regresso ao asfalto, em direção a Marraquexe para duas noites num hotel reservado pela organização para podermos descansar os motores e as pernas de 2000km de deserto já feitos. Na ida para Marraquexe, parámos para almoçar num dos locais mais icónicos no que toca ao cinema: a aldeia milenar de Ait Zineb, palco de variados filmes, como Gladiador, A Múmia, Príncipe da Pérsia, Game of Thrones e ainda a Bíblia.

Depois do descanso e após usufruirmos de parte do que a cultura de Marrocos tem para oferecer, voltámos a fazer-nos à estrada. Desta vez, o rumo era em direcção a Tânger, para regressarmos a Algeciras. A nossa paragem para almoço teve lugar na capital de Marrocos, Rabat, que aconselho vivamente, uma realidade diferente e mais positiva do que a que assistimos nos anteriores dias de viagem.

Passados 9 dias de viagem, e sem nenhuma avaria mecânica no nosso valente AX 11 TRE, trazemos para casa amigos para a vida e uma noção de companheirismo ainda maior do que aquela que tínhamos presente. Se não fosse o trabalho em equipa, os carros ficariam presos na areia, por exemplo, e seria impossível concluir as várias etapas.