Há datas incontornáveis e que merecem uma menção especial. Para a Maserati, 29 de junho é um desses dias históricos, uma vez que, há exatamente 60 anos, o Eldorado “subia ao palco” em Monza. Este automóvel do fabricante italiano, cujo desenvolvimento contou com a participação do engenheiro Giulio Alfieri, ficou conhecido por ser o primeiro monolugar na Europa a ser patrocinado por uma marca não vinculada ao mundo do automobilismo, a dos gelados Eldorado. Abriu, desta forma, um precedente que deu origem aos patrocínios como hoje os conhecemos.
O veículo “vestiu-se” com as cores da empresa parceira, ao invés do tradicional visual que a Federação Internacional atribuía a cada país. Abrindo caminho para uma nova realidade, esta não foi apenas uma questão estética mas sim uma inovação com uma importância assinalável para o futuro do desporto motorizado, que passou a contar com novos financiadores.
O emblemático patrocínio
Encomendado à Maserati por Gino Zanetti, proprietário da empresa de gelados Eldorado, que pretendia promover a marca a um nível internacional, este Maserati, identificado por 420/M58, chassi nº 4203, foi decorado num tom branco com pormenores em vermelho. Tinha estampado dois logótipos negros, com a palavra Eldorado destacada, colocados em ambos os lados do habitáculo. Complementava-se esta aparência com dois outros símbolos, posicionados na secção dianteira e sob o defletor que servia como para-brisas do Maserati Eldorado.
A escolha da Maserati por Gino Zanetti deve-se a uma razão em especial. A marca transalpina tinha vencido o Campeonato do Mundo de F1 um ano antes, com Juan Manuel Fangio. Após o triunfo, a Maserati decidiu abandonar a competição e concentrar-se em fabricar carros de corrida a pedidos de clientes privados. Zanetti não deixou escapar esta oportunidade.Giulio Alfieri dá “vida” ao Maserati ElDorado
A Maserati avançou com o projeto e Giulio Alfieri “deu vida” ao Eldorado. Com um motor V8 de 4190cc, derivado do bloco de oito cilindros que equipava os 450S twin cam, o monolugar desenvolvia 410cv de potência às 8000rpm. Tal como a transmissão, o propulsor estava posicionado nove centímetros para a esquerda em relação ao eixo longitudinal, garantindo uma adequada distribuição do peso tendo em consideração o sentido da marcha das curvas Monza.
A caixa de velocidades tinha apenas duas relações, enquanto o eixo posterior, do tipo De Dion, não dispunha de diferencial. O chassis tubular derivava dos 250F, embora redimensionado para resistir às exigências do pavimento do circuito de Monza. Numa tentativa de reduzir o peso do Maserati Eldorado, a marca incorporou discos de travão em magnésio Halibrand e pneus Firestone de 18 polegadas, com banda rolamento entrelaçadas e cheios com hélio. O peso do monolugar, com uma carroçaria de alumínio feita à mão, era de 758 kg.
Estreia atribulada
O futuro do monolugar passou pelo carroçador Gentilini, que procedeu a algumas alterações ao automóvel. A traseira foi modificada e a saída de ar do capô redimensionada para que o veículo pudesse ser inscrito nas 500 milhas de Indianápolis em 1959. Ainda que mantendo a identificação do patrocinador, o veículo foi repintado de vermelho. Na corrida, o piloto Ralph Liguori não obteve sucesso, ao estabelecer o 36º tempo.
O Maserati Eldorado encontra-se atualmente em Modena, integrando a coleção Panini. O histórico monolugar foi perfeitamente recuperado na sua linha original em branco. Hoje, sublinha a Maserati esta importante data. Afinal, o veículo abriu o precedente para o patrocínio como o conhecemos hoje.
Miguel Policarpo/Turbo
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