Morreu o pai dos motores rotativos da Mazda

28/12/2017

Conheça a incrível história de Kenichi Yamamoto, o líder dos ‘Samurai 47’ que foi responsável pela tecnologia que ajudou a salvar a marca de Hiroshima. E, como poderá ler, mesmo tendo desaparecido aos 95 anos, o legado deste histórico líder da Mazda, também com influência no nascimento do MX-5, perpetua-se no tempo…

Faleceu um dos nomes mais emblemáticos da história da Mazda, pois Kenichi Yamamoto morreu aos 95 anos. Ele fica na história da marca, por ter sido Presidente mas especialmente pelo papel principal que ocupou no desenvolvimento de uma tecnologia emblemática para a empresa, os motores Wankel. Por esses motivos, Kenichi Yamamoto, considerado por muitos como o pai dos motores rotativos da Mazda, fica ligado aos muitos sucessos que eles garantiram e à forma como asseguraram a sua sobrevivência. Além disso, também está ligado à origem do MX-5, pois foi na sua liderança que este projeto nasceu. Esta é uma incrível história, que lhe contamos resumidamente nos parágrafos seguintes…

Nascido em Hiroshima, no ano de 1922, Kenichi Yamamoto tirou o seu curso na Universidade Imperial de Tóquio em 1944, altura em que o país era uma das potências do Eixo que combatia os Aliados na Segunda Guerra Mundial. Como tal, Yamamoto foi para co-responsável de uma fábrica de aviões, onde terá permanecido até ao fim do conflito. Retorna depois a casa, no seguimento de uma carta da sua mãe, descobrindo que a irmã mais nova tinha falecido e o seu pai sofria com as sequelas da radiação causada pela bomba atómica que caiu na sua cidade natal.

Para ajudar a família encontrou trabalho em uma das poucas unidades fabris que tinha sobrevivido ao flagelo da mais potente bomba dessa altura, a unidade de camiões e artilharia Toyo Kogyo. Esta é a empresa que esteve na génese da Mazda, e onde Yamamoto começou por fabricar transmissões. Mas em apenas dois anos passou aos quadros da gerência, assumindo responsabilidade num veículo comercial de três rodas que seria comercializado como Mazda.

A companhia apenas aposta anos mais tarde no seu primeiro “verdadeiro” automóvel, o R360 de 1960. E no ano seguinte este engenheiro estava a desenvolver, através de uma parceria com a germânica NSU (uma das companhias na origem da Audi), um motor rotativo. É precisamente este o bloco utilizado no carro que, segundo muitos, foi responsável pela sobrevivência da marca de Hiroshima, o Cosmo apresentado como protótipo em 1964.

Mas estes eram tempos negros para a companhia, depois do Ministério da Indústria nipónico ter decidido que a Toyota, a Nissan e a Isuzu seriam as representantes ‘oficiais’ do país na indústria automóvel. Isto não tornava impossível a produção à Toyo Kogyo, mas significava que esta tarefa seria um esforço hercúleo. Algo que Yamamoto ajudou a mudar, convencendo as autoridades a dar uma oportunidade à empresa.

Produzido a partir de 1967, o Mazda Cosmo deu início a uma verdadeira saga de motores rotativos na marca, uma história abrilhantada por desportivos como os inesquecíveis RX. Um trabalho que derivou dos esforços dos ‘Samurai 47’, o grupo de 47 engenheiros liderados por Kenichi Yamamoto que ficou responsável pelo desenvolvimento dos motores rotativos. Algo que garantiu também a ascensão deste especialista dentro dos quadros da marca, ainda durante a década de 1970 a responsável de pesquisa e desenvolvimento e depois, já nos anos 80, a Presidente.

Este período fica associado a outro dos mais míticos modelos de sempre da marca (talvez mesmo o mais emblemático…). Falamos do automóvel que nasceu no seguimento de uma conversa entre Yamamoto e o jornalista Bob Hall, que aconselhou a empresa a desenvolver um desportivo de dois lugares ao estilo dos modelos clássicos europeus. O que marcou o arranque da história do roadster mais comercializado de sempre, o Mazda MX-5.

Mas ainda havia mais conquistas reservadas para Yamamoto e os motores rotativos. Uma delas é a única vitória de um motor sem pistões nas 24H de Le Mans e o único carro japonês a subir ao lugar mais alto do pódio. Um feito que foi assinado em 1991 pelo Mazda 787B equipado com quatro rotores, outro modelo com lugar assegurado na história do fabricante de Hiroshima. E, com mais este triunfo no seu currículo, Yamamoto reformou-se no ano seguinte, em 1992.

Agora falecido, o espírito de Yamamoto, pai dos motores rotativos da Mazda, e dos seus Samurai 47 permanece bem vivo, como a marca tem demonstrado através de várias inovações nos últimos tempos. A mais emblemática é a aposta no ressurgimento dos motores rotativos em duas aplicações distintas. A primeira é como o principal propulsor, mas a Mazda quer tirar também as suas vantagens ao nível da eficiência e baixos ruídos para o utilizar como extensor de autonomia. Este é uma ideia já patenteada pela marca, e que mostra como o legado de Yamamoto promete perdurar no tempo…

Fonte: Jalopnik, Road&Track e Mazda