Vida curta de smartphones e equipamentos eletrónicos penaliza clima

19/09/2019

Um estudo agora divulgado avalia o pesado impacto que o uso “descartável” de diversos equipamentos eletrónicos e elétricos tem para o clima.

A associação Zero divulga hoje um relatório do European Environmental Bureau (EEB), organização de que faz parte, no qual um conjunto de especialistas avaliaram os benefícios climáticos de tornar os smartphones, computadores portáteis, máquinas de lavar e aspiradores da Europa mais duráveis.

O estudo constatou que estender em cinco anos a vida útil desses produtos comercializados na União Europeia economizaria quase 10 milhões de toneladas de emissões (CO2eq) anualmente até 2030.

A Zero faz parte da coligação CoolProducts constituída por organizações não-governamentais europeias, lideradas pelo EEB (European Environmental Bureau) e pela ECOS em Bruxelas, que trabalham para garantir que o design ecológico e a rotulagem energética realmente funcionem para os europeus e o ambiente.

Isso é semelhante a tirar 5 milhões de carros das ruas por um ano, aproximadamente o mesmo número de automóveis em circulação em Portugal. Mesmo uma extensão da sua vida em apenas um ano resultaria numa economia de 4 milhões de toneladas de emissões por ano.

Ou seja, se se aumentar a vida útil de smartphones e outros dispositivos eletrónicos em apenas um ano, a União Europeia economizaria tantas emissões de carbono como retirar 2 milhões de carros das estradas anualmente.

Estes elevados números devem-se à grande quantidade de energia e recursos envolvidos na produção e distribuição de novos produtos, bem como no descarte de produtos antigos.

O PESO DAS EMISSÕES ASSOCIADAS AO FABRICO SÃO CONSIDERÁVEIS EM DIVERSOS EQUIPAMENTOS ELETRÓNICOS.

Impacto climático negligenciado na política de produtos

O impacto climático das chamadas fases de não uso é muitas vezes negligenciado na política de produtos, com a legislação até agora focada na redução da energia necessária para alimentá-los, não contabilizando a sua produção.

“Essas emissões estão a ser ignoradas, apesar de um estudo concluir que, se fossem contabilizadas em mercadorias importadas para a Europa, a UE não teria alcançado nenhuma redução de emissões desde 1990”, dizem os ambientalistas.

O direito de reparar

O estudo coincide com o crescimento do movimento “Right to Repair” (“Direito à Reparação”) na Europa, que visa combater a obsolescência planeada – a prática pela qual os produtos são mal projetados, impossíveis ou caros de reparar e são substituídos prematuramente.

A VIDA ÚTIL MÉDIA DE UM SMARTPHONE NA EUROPA É DE TRÊS ANOS.

“Embora seja difícil avaliar se as empresas estão a reduzir propositadamente a vida útil dos equipamentos eletrónicos, a proporção de dispositivos defeituosos substituídos pelos consumidores aumentou de 3,5% em 2004 para 8,3% em 2012”, aponta a Zero.

Recentemente, as organizações não-governamentais conseguiram pressionar por uma regulamentação em toda a União Europeia que visa estender a vida útil de um pequeno grupo de produtos, incluindo televisores, frigoríficos, máquinas de lavar roupa, máquinas de lavar loiça e produtos de iluminação.

Peças de reposição e informações de reparação

A partir de 2021, os fabricantes terão que garantir que esses produtos possam ser desmontados facilmente e terão que disponibilizar peças de reposição e informações de reparação para reparadores profissionais. Espera-se que as novas regras sejam adotadas oficialmente pela Comissão Europeia em setembro ou outubro de 2019.

A Zero considera que este estudo “é mais uma prova de que a Europa não pode cumprir as suas obrigações climáticas sem abordar os seus padrões de produção e consumo. O impacto climático da nossa cultura de smartphones descartáveis é muito elevado. Não nos podemos dar ao luxo de substituí-los a cada poucos anos. Precisamos de produtos que durem mais e possam ser reparados se se avariarem”.

ESTENDER EM 5 ANOS A VIDA DE SMARTPHONES, COMPUTADORES PORTÁTEIS, MÁQUINAS DE LAVAR E ASPIRADORES EQUIVALE A TIRAR DE CIRCULAÇÃO TODOS OS CARROS EM PORTUGAL, EM TERMOS DE EMISSÕES.

Na visão da Zero, “à medida que cresce o apoio público a produtos mais duradouros e à ação climática, temos a oportunidade de repensar radicalmente a maneira como os produtos são projetados e produzidos. A União Europeia pode ser um líder nessa frente, já tendo sido pioneira em algumas leis inovadoras que obrigam os fabricantes a tornar certos produtos mais facilmente reparáveis”.
Factos e números: as conclusões do estudo
  • A produção dos smartphones da Europa tem o maior impacto climático entre os produtos analisados, enquanto as máquinas de lavar roupa estão no topo quando as necessidades energéticas durante o uso são incluídas;
  • O ciclo de vida completo dos smartphones da Europa é responsável por 14 milhões de toneladas de emissões (CO2eq) por ano, que é cerca de 25% das emissões médias de Portugal nos últimos anos. Aumentar a vida útil em apenas um ano economizaria mais de 2 milhões de toneladas de emissões;
  • A vida útil média de um smartphone na Europa é de três anos, com vendas anuais de quase 211 milhões de unidades. Os computadores portáteis duram cerca de seis anos, enquanto as máquinas de lavar roupa e aspiradores duram 11.4 e 6.5 anos, respetivamente;
  • Estender a vida útil de smartphones e computadores aumentando a sua capacidade de reparação deve ser uma prioridade, pois as emissões vinculadas ao fabrico são as mais importantes para esses produtos;
  • Para aspiradores e máquinas de lavar, a crescente adição de computadores, displays ou baterias está a tornar as suas fases de não uso mais intensivas em carbono;
  • Com muito poucas exceções, como produtos antigos ineficientes (por exemplo, aspiradores de potência elevada que não são mais permitidos no mercado), a reparação é sempre melhor do que substituir todos os produtos cobertos.