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O custo dos veículos elétricos deverá baixar este ano, mas continuam a ser necessários incentivos à compra, que estão a ser usados sobretudo por empresas. Estas foram apenas duas das ideias da Talk Tendências da Mobilidade 2024, em parceria com a Europ Assistance, que também falou do papel dos transportes públicos.

O elevado custo dos veículos elétricos continua a ser a principal barreira a impedir os portugueses de fazerem a transição para uma mobilidade mais sustentável. E, na Europa, são mesmo dos que mais apontam a razão económica para justificar o adiamento da decisão. Esta conclusão do Barómetro da Mobilidade 2024 da Europ Assistance foi também confirmada pelos convidados da Talk Tendências da Mobilidade, que se realizou esta semana e contou com as participações de João Horta e Costa, Chief Commercial Officer da Europ Assistance, Tiago Lopes Farias, professor do Instituto Superior Técnico e ex-presidente da Carris, e Dora do Rosário, diretora de marketing da Santogal.

“Em Portugal, os veículos elétricos (VE) ainda são caríssimos”, atestou Dora do Rosário, que relaciona também esse custo com a “elevada carga fiscal” sobre os automóveis que é praticada em Portugal. Aquela responsável considera, todavia, que “os preços vão começar a baixar ainda este ano”, graças a uma maior competitividade trazida ao mercado pelas marcas chinesas. Um movimento que, acredita, arrastará também uma tendência para a baixa nos preços das marcas europeias.

Segmento elétrico continua a crescer, com as vendas dos 100% elétricos a duplicarem em 2023

Este segmento continua a crescer, com as vendas dos 100% elétricos a duplicarem em 2023. Mas “a esmagadora maioria das vendas é no segmento empresarial”, assinalou a diretora. No caso do grupo de concessionários Santogal, as vendas totalizaram os 34%, sendo que 14% dos quais são relativos a 100% elétricos. Dora do Rosário confirma que, no seu grupo, a maioria do aumento de 8% nas vendas de elétricos também se deveu aos clientes empresariais, numa tendência que se manteve, aliás, no primeiro trimestre deste ano.

Por isso mesmo, aquela responsável considera que valeria a pena manter ou reforçar os incentivos para aquisição de VE por individuais, pois o mercado ainda está longe de estar maduro, aludindo à intenção manifestada pelo Governo anterior de retirar estes apoios e transferi-los para o consumo. E lembrou o exemplo da Alemanha que retirou os incentivos e em Janeiro registou uma quebra de 55% nas vendas. Apesar da tendência inequívoca de viragem gradual para a mobilidade elétrica, “os consumidores ainda manifestam muitas dúvidas” sobre a real capacidade de autonomia ou de relação custo/benefício destes veículos. “Há falta de informação”.

Foi justamente para ir ao encontro das dúvidas e receios dos consumidores que querem comprar um veículo elétrico ou para dar maior tranquilidade aos que já têm um que a Europ Assistance criou um produto inovador. Há dois anos, a seguradora lançou “uma assistência própria para veículos elétricos, que permite a substituição por um veículo a combustão em um ou dois períodos do ano”, explicou João Horta e Costa. O objetivo assumido por aquele responsável comercial é proporcionar o mesmo nível de conforto, sobretudo quando se viaja para locais com menor previsibilidade de carregamento, tendo em conta que “os condutores de elétricos têm mais receio de ter uma avaria ou de ficar sem bateria, até porque o reboque tem de ser diferente. O standard não consegue fazer o reboque se for falta de bateria, porque as rodas podem ficar travadas”, exemplificou.

Europ Assistance lançou uma assistência própria para veículos elétricos, que permite a substituição por um veículo a combustão em um ou dois períodos do ano

Transporte público versus carro individual

O Barómetro de Mobilidade 2024 revelou alguns indicadores surpreendentes, como a queda de 13 pontos percentuais do uso da bicicleta, face a 2022, e a manutenção do uso do carro individual como principal meio de deslocação em Portugal versus a utilização do transporte público.

Questionado pelo moderador Paulo Tavares sobre as possíveis razões da baixa utilização do transporte público em Portugal, João Horta e Costa considerou que, tal como noutros setores, “a nossa experiência de cliente de transporte público tem de ser boa: não podemos ter atrasos, comboios suprimidos, greves, escadas rolantes que não funcionam, enfim é preciso um elemento de comodidade”. O executivo da Europ Assistance acredita que “não há ecossistema de mobilidade sem uma boa rede de transportes públicos” e, nesta matéria, “Portugal tem duas velocidades: as grandes cidades com mais investimento e alargamento da rede de metro, tendência de gratuidade do passe para alguns segmentos, Carris Metropolitana, etc.” e o resto. “Acredito que o esforço está a ser feito entre os vários operadores para que no fim do dia tenhamos um maior equilíbrio entre os vários modos, carro, bicicleta ou transporte público”. Mas também defendeu a necessidade de desafiar a nossa resistência ao hábito e usar os transportes aqui, tal como fazemos quando visitamos cidades europeias.

Na mesma linha, o ex-presidente da Carris Tiago Lopes Farias, considerou que “o indicador mais preocupante do barómetro é a tendência do transporte individual como solução dominante” e é, simultaneamente um desafio, disse. Em Lisboa, por exemplo, o tráfego terá aumentado 8% em 2023. “Apesar de haver mais intenções de transitar para o modo coletivo, é preciso reequilibrar o sistema de mobilidade”.

Para melhorar este quadro e o acesso, o professor do IST e também ex-diretor de Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa defendeu que “é necessário ter um sistema inteligente e integrado, o que envolve planeamento, nomeadamente para chegar ao conceito da cidade dos 15 minutos”. A experiência do cliente na rede de transportes “tem de ser muito positiva ao nível de fiabilidade, velocidade e previsibilidade”, considerou. Por outro lado, Tiago Lopes Farias disse que “há que ser mais assertivo na forma como exploramos o meio digital”, para reforçar a interconectividade de todo o sistema.

A redução substancial do preço dos passes metropolitanos de Lisboa e Porto em 2019 teve um papel importante na adesão aos transportes coletivos

A redução substancial do preço dos passes metropolitanos de Lisboa e Porto em 2019 teve um papel importante na adesão ao meio coletivo, trazendo também simplificação a todo o sistema, lembrou. “É um passo importante, mas não chega quando a velocidade média da Carris é abaixo dos 10 km/hora”. Há, portanto, muito a fazer, seja com mais áreas dedicadas a BUS, menos carros a circular nas cidades ou melhorar a experiência do utilizador, acrescentou.

Outro dado surpreendente revelado no inquérito da Europ Assistance, que entrevistou 8 mil indivíduos online, foi a redução de 18% no orçamento que os portugueses destinam à mobilidade, face ao que destinavam em 2022, num total de 132 euros mensais. João Horta e Costa atribui parte dessa redução à generalização de regimes híbridos de trabalho, com mais teletrabalho e menos deslocação ao local do emprego em carro próprio; ao ajustamento dos preços dos combustíveis após as maiores subidas de 2020 e 2021, e também ao efeito da redução do custo dos passes sociais, sobretudo em certos grupos para os quais se tornou gratuito, como jovens e idosos.

Apesar de Portugal ser o país com o parque automóvel mais envelhecido nos oito países europeus abrangidos no inquérito (média de 14 anos com 33% acima dos 10 anos), também é aquele em que uma percentagem maior (89%) afirma ter um ou mais carros. E aquele em que há a maior percentagem de compra de usados fora do circuito das concessionárias. Dora do Rosário atribui a situação ao “grande encargo” que representa para as famílias portuguesas a compra de um carro, face aos rendimentos auferidos e à elevada carga fiscal.

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