O anúncio recente de que a Red Bull irá ficar com a tecnologia dos motores híbridos da Honda para as temporadas de 2022 a 2024 do Mundial de Fórmula 1, com a denominação Red Bull, pode causar alguma estranheza, mas está longe de ser o primeiro caso do género. Por vezes, o nome dado ao motor é só para enganar…

Com uma história a cruzar os 70 anos, o Mundial de Fórmula 1 é pródigo em soluções revolucionárias no capítulo da técnica, mas também se tem pautado por soluções pouco normais fora das pistas. Por vezes, os departamentos comerciais ou imperativos desportivos ditam alternativas como a que irá acontecer com a Honda e com a Red Bull (juntamente com a sua afiliada AlphaTauri) a partir da temporada de 2022.

Já na segunda metade de 2020, a marca japonesa deu a conhecer a sua decisão de deixar a modalidade no final da temporada de 2021, colocando um ponto final à parceria com as duas equipas criadas pela Red Bull. Mesmo que o anúncio tivesse sido feito com antecipação, a Red Bull deparou-se com a situação inesperada de ter de encontrar um fornecedor de motores V6 híbridos para 2022, o que poderia ser complicado atendendo a que Ferrari e Mercedes-AMG já fornecem muitas outras equipas e que a Renault, com a qual obteve os seus títulos mundiais no início da década de 2010, seria uma opção ‘non grata‘, atendendo ao ‘divórcio’ tumultuoso da relação entre ambas as companhias no final de 2018.

A decisão da Federação Internacional do Automóvel (FIA) de ‘congelar’ o desenvolvimento dos motores a partir de 2022 foi a ‘chave’ que permitiu à Red Bull ‘abrir’ a porta de uma outra opção para a sua participação na F1 até à entrada em vigor do próximo conjunto de regulamentos para os motores, em 2025.

Assim, criando um novo departamento para a montagem e manutenção dos motores V6 híbridos herdados da Honda em 2022, a Red Bull Powertrains irá conceder o nome Red Bull àquelas unidades de potência. A solução, embora tenha contornos caricatos, não é desprovida de antecedentes, já que ao longo dos anos, o fornecimento de motores tem dado azo a soluções do género.

Por exemplo, a partir de 1997, a Ferrari passou a ceder os seus motores de especificação atrasada (geralmente um ano de diferença) à Sauber, com a equipa de Hiwill a aproveitar a liberdade concedida pela marca italiana para renomear o motor de Petronas, ao mesmo tempo obtendo assim uma receita suplementar para pagar esses mesmos blocos provenientes de Maranello.

Na mesma faixa temporal, depois de ter surpreendido com o anúncio da sua saída da Fórmula 1 enquanto fornecedora de motores, a Renault deixou os seus motores a cargo de uma parceira de longa data, a Mecachrome. Assim, a equipa campeã de 1997, a Williams, surgiu na temporada seguinte com motorizações Mecachrome, que mais não eram do que unidades Renault evoluídas face às de 1997. Da mesma forma, mantendo o acordo com a Benetton, os motores desta última tinham a denominação Playlife, uma submarca de roupa desportiva da italiana Benetton.

Mas, essa não foi a derradeira alteração identitária dos motores Renault, já que, de 1999 em diante passaram a ser chamados Supertec, impulsionando os monolugares da Williams, BAR e da Arrows, além dos da Benetton, mantendo o nome Playlife. A base, porém, era a mesma – tecnologia Renault, com ligeiros avanços a cada temporada, mas gradualmente mais distantes dos motores líderes daqueles anos, nomeadamente os Mercedes-Benz e Ferrari.

A própria Honda contou com uma solução semelhante à atual no início da década de 1990, proporcionando a entrada na modalidade da preparadora Mugen. Criada pelo filho de Soichiro, Hirotoshi Honda, com o intuito de melhorar os carros da marca, a Mugen acabou por servir de plataforma de desenvolvimento para alguns dos motores Honda ao longo dos anos, a começar em 1991 quando efetuou a preparação dos blocos V10 para a equipa Tyrrell – usando motores Honda de especificação anterior. Ao longo dos anos, a Mugen foi usando motores de génese Honda para a Tyrrell, Footwork e Lotus (as três já desaparecidas). Só mais tarde, já depois de a marca japonesa sair da Fórmula 1 a título oficial, viria a construir os seus próprios motores, cedidos à Ligier e à Jordan. Porém, o papel da Mugen Honda seria reduzido e eventualmente extinto devido ao regresso a nível oficial da Honda à Fórmula 1 em 2000.

Alain Prost, ao volante do McLaren-TAG em 1985.

Motores como relógios

Se a ideia parece ser relativamente recente, uma tendência da década de 1990, muito antes já as equipas de Fórmula 1 apresentavam soluções na mesma linha – e com grande sucesso. Em 1984, a Porsche desenvolveu um motor V6 turbo para a McLaren, que aproveitou para renomeá-los de TAG-Heuer, conseguindo nesse ano os títulos de pilotos (Niki Lauda) e de construtores. Este nome viria a ser utilizado novamente por via de um contrato de patrocínio com a Red Bull Racing entre 2016 e 2018, com os nomes dos motores Renault a serem ‘trocados’ por TAG Heuer (como já atrás foi escrito).

Na mesma linha de ideias, a Megatron forneceu motores BMW turbo de quatro cilindros à Arrows nas temporadas de 1987 e 1988, enquanto a Asiatech deu o seu nome aos blocos Peugeot em 2001 e 2002 depois de a marca francesa ter saído da Fórmula 1 em 2000 após a aventura pouco frutuosa com a Prost GP.