A Renault lança uma nova gama híbrida para três dos seus modelos mais importantes em termos de venda, com a designação E-Tech para os Clio, Captur e Mégane a proporem uma maior poupança nos consumos e nas emissões. Pudemos ensaiar as três versões destes Renault, que incorporam tecnologia derivada da Fórmula 1 e que se destacam por um conceito diferente da de outros modelos híbridos no mercado.

Trata-se de uma tecnologia modular e de plataforma igualmente adaptável (graças às novas arquiteturas CMF-B e CMF-C/D, concebidas para alojar sistemas eletrificados), que permitem adoção de sistema híbrido simples ou de ligar à tomada (plug-in), mas com componentes idênticos em ambos os casos.

Em comum, o esquema técnico é composto por um motor de combustão interna desenvolvido especificamente para o efeito – um 1.6 atmosférico de quatro cilindros de 91 CV com -, associado a duas unidades elétricas, que servem para efeitos de tração e, no caso de um deles, mais vocacionado para funções de motor de arranque/gerador, estando associado ao motor de combustão. Esse também pode fornecer potência para locomoção elétrica.

Depois, numa nota inovadora, o conceito escolhido pela Renault para esta sua tecnologia híbrida recorre a uma caixa de velocidades sem embraiagem, de carretos direitos, derivada da F1, sem sincronizadores e com redução de fricções mecânicas, dispondo de um total de 15 modos de condução – não confundir com mudanças. Sem sincronizador, cabe ao motor elétrico secundário adaptar as rotações do motor térmico, para que as transições de modos sejam suaves. A ideia da Renault é que o sistema seja suave no seu funcionamento e eficaz, podendo o sistema híbrido escolher o seu modo mais eficiente de atuação para que tal seja conseguido.

Parece complicado no papel, o que até é verdade, mas na prática dificilmente seria mais simples, já que ao condutor não é imputado nenhum esforço adicional. Ou quase… isto porque pode escolher um modo mais intenso de regeneração de energia (‘B’ na alavanca da caixa, que aumenta a intensidade das desacelerações) para acumular energia na bateria – seja no Clio, seja nos Captur e Mégane. Bomba de água e ar condicionado contribuem para a eficiência geral, sendo elétricos.

Para tomar o gosto a estes novos modelos, a Renault Portugal trouxe os Clio, Captur e Mégane E-Tech até Portugal, para uma variante de apresentação internacional… nacional. Neste primeiro contacto, trajetos distintos para cada modelo: no Clio, mais urbano, viagem pelo centro de Lisboa enquanto nos outros dois modelos houve mais variedade de percursos, entre autoestrada, cidade e nacionais com alguma montanha à mistura.

Comecemos esta abordagem com o Clio E-Tech.

Clio E-Tech: Cidade e não só

O modelo mais vendido da Renault e ‘campeão’ de vendas em Portugal nos últimos sete anos chega com uma variante híbrida simples: sem possibilidade de ligar à tomada, mas com uma competência técnica que a marca diz ser capaz de passar até 80% do seu tempo em condução urbana apenas com o motor elétrico. Apesar de ter uma bateria bem mais compacta, de apenas 1.2 kWh (componentes fabricados pela Hitachi e sistema de 240 V), o Clio E-Tech debita uma potência máxima de 140 CV, um valor bem interessante para um modelo compacto, com o motor de combustão a debitar 91 CV e os elétricos 36 kW (do E-Motor) e 15 kW (do motor de arranque/gerador).

Sem possibilidade de se ligar à tomada, dispõe, ainda assim, de modo de condução ‘Eco’ do Multi Sense, no qual a primazia é dada ao modo elétrico sempre que possível, como no arranque e na marcha-atrás, que são feitos sempre no modo elétrico, naquela que é uma característica deste sistema híbrido E-Tech.

O funcionamento do sistema é totalmente automático e permite facilidade de utilização por parte do condutor. A entrada em ação do modo elétrico é frequente, havendo uma transição que é percetível nalgumas ocasiões, mostrando também boas performances graças ao binário elétrico, fundamental quando é preciso acelerar com rapidez. Mesmo quando é preciso acelerar um pouco mais depressa, ao contrário de outros híbridos, o motor elétrico não se desativa rapidamente, permitindo por isso ganhos nos consumos.

O foco é mesmo esse: ser-se o mais poupado possível e este esquema usado no Clio E-Tech permite exatamente isso: um carro eficiente, com um sistema que é inovador e que, ao contrário de outros modelos híbridos, tem uma caixa de velocidades que não é anónima. Ocasionalmente, faz-se sentir, num conceito que é até algo estranho para quem já conduziu muitos híbridos. O ruído não é intrusivo, exceto em aceleração muito forte, mas evita o mesmo volume de uma CVT nesse aspeto.

Apontando uma média de consumo WLTP de 4,3 l/100 km, vale a pena apontar que este é um valor totalmente alcançável e até possível de baixar com alguma facilidade. No nosso percurso, já perto de hora de ponta por Lisboa (ainda longe das filas pré-pandemia…), obtivemos uma média de consumo de 3,9 l/100 km. Um bom registo, sem dúvida, auxiliado pela regeneração muito eficaz que permite acumular mais energia na bateria para utilização posterior.

Captur e Mégane E-Tech: Outras capacidades

Passando para os dois outros modelos E-Tech, o Captur e o Mégane Sport Tourer (no início de 2021 virá a berlina), os conceitos base são os mesmos, mas ao mesmo tempo existem diferenças fundamentais. Primeiro, a potência combinada é diferente: dos 140 CV no Clio E-Tech, passa-se para os 158 CV no Captur e Mégane, estes dois com o tal motor 1.6 atmosférico associado igualmente a dois motores elétricos, de 49 CV (E-Motor) e de 25 CV (motor de arranque/gerador). Os consumos médios homologados são de 1,4 l/100 km no Captur E-Tech e de 1,3 l/100 km no Mégane E-Tech (diferenças que se devem ao formato da carroçaria), enquanto as emissões de CO2 são de 32 e de 28 g/km, respetivamente (o mesmo motivo para a diferença).

O arranque e marcha-atrás são feitos em modo elétrico, mas o funcionamento elétrico recorre a uma bateria de 9.8 kWh (componentes LG e sistema elétrico de 400 V) para uma autonomia em ciclo WLTP até 50 quilómetros (ou 65 quilómetros em cidade). Aqui, o Multi Sense conta com um modo diferente do Clio, o ‘Pure’ que substitui o ‘Eco’ e que força a entrada do motor elétrico.

Tal como no Clio, ambos os modelos são suaves de conduzir, mas também a configuração da caixa de velocidades não é anónima. Sente-se amiúde e, por vezes, em aceleração a fundo, há um aumento do ruído do motor de combustão até ao momento em que – lá está – passa de mudança, mesmo que as quatro relações de caixa pareçam muito espaçadas. É no momento em que pensamos que está num patamar de rotações muito elevado, que o sistema de controlo do sistema híbrido decide passar de mudança. Essa mesma possibilidade torna a condução mais satisfatória, até pela disponibilidade do esquema mecânico – o conjunto motriz é lesto a responder e, em conjunto, permitem boas prestações, tanto em ambiente urbano, como em autoestrada, ainda que nas retomas haja um ligeiríssimo momento de ‘espera’.

Tendo uma bateria maior, o Captur e o Mégane permitem mais quilómetros com zero emissões, o que é muito benéfico para o ambiente e para os consumos. Nos nossos ensaios em ambos os casos com percursos variados, a carga das baterias das unidades que nos foram cedidas estava longe de completa, o que quer dizer que isso acabou por influenciar o nosso consumo médio no final.

No caso do Mégane E-Tech, tínhamos cerca de 30 quilómetros de autonomia elétrica para um percurso de cerca de 50 quilómetros. Neste, obtivemos uma média de 2,1 l/100 km, enquanto o Captur E-Tech, com carga mais ou menos semelhante na bateria, tinha uma autonomia elétrica de cerca de 35 quilómetros, o que nos garantiu um total de 2,6 l/100 km. Mas, em ambos os casos seria possível obter um valor mais económico caso a bateria elétrica estivesse carregada. Além disso, o ar condicionado também quase nunca foi abandonado devido ao calor intenso. No sistema de modos de condução Multi Sense passa ainda a haver um modo ‘e-Save’, que permite guardar a carga presente na bateria para utilização posterior.

Não podendo ser carregado num posto de carga rápida, o tempo de carregamento varia entre três e cinco horas, sendo o mais demorado numa tomada de 2.4 kW. Nas tomadas de 3.7 kW leva três horas, exatamente o mesmo que num posto de 7.4 kW. E mesmo nas ‘wallboxes’ até 22 kW, os Plug-in demoram as mesmas três horas, uma vez que o carregador de bordo dos E-Tech Captur e Mégane é de 3.6 kW.

Tanto o Captur como o Mégane nas suas versões E-Tech passam a ter eixo traseiro multibraços, em lugar do eixo rígido, de forma a lidar melhor com o aumento do peso na ordem dos 200 kg com a adição do sistema elétrico. Este ponto também é importante, pois o peso sente-se em qualquer dos casos, mesmo que todos eles pareçam agora muito mais talhados para uma condução em conforto, com suspensão macia e bom amortecimento dos pisos irregulares.

Em suma…

A tecnologia híbrida da Renault é diferente, mas merece destaque pelo arrojo e pela solução que procura dar aos modelos uma maior eficiência de utilização. O Clio E-Tech é talvez o elemento mais relevante atendendo à sua competência para circular em modo elétrico na maior parte do tempo graças a um aproveitamento muito eficaz da energia da travagem, não obstante uma bateria de pequena capacidade.

Os modelos de ligar à tomada são mais polivalentes em matéria de utilização, permitindo uma condução mais extensa em modo 100% elétrico, em redor dos 50 quilómetros em ciclo WLTP. Essa sua competência e aprumo podem também ser muito apelativas para os clientes frotistas, que olham para estes modelos híbridos com especial atenção devido aos seus benefícios fiscais e custos de operação mais reduzidos face, por exemplo, a um modelo Diesel. Mas também poderão ser bastante relevantes para os clientes particulares que observam esta tecnologia com interesse, tendo aqui três facetas que podem ser excelentes escolhas para quem quer o melhor da eletrificação sem abdicar da segurança das longas distâncias.

 

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.