Concebido sob a mesma base do Jazz que se apresta a sair de linha, o HR-V ajudou a avolumar as vendas da Honda no mercado europeu, indo ao encontro de duas tendências – a dos SUV de dimensões mais compactas e a dos motores a gasolina. Na intenção de manter o HR-V como um dos candidatos às preferências dos europeus, aplicou alguns retoques no capítulo estético, sendo fácil encontrá-los no exterior, sobretudo, quando visto de frente: a grelha cromada – quase como um escudo – passa agora a dominar a parte superior unindo os dois faróis, que também passam a dispor de uma faixa cromada na sua zona cimeira. Além disso, dispõem de iluminação LED e de configuração redesenhada. Na frente, ainda, para-choques com ligeiras diferenças. Atrás, tudo muito mais ténue, já que apenas temos farolins escurecidos com configuração redesenhada e tecnologia LED.
Para um segmento onde as novidades que se aprestam a chegar, como o Renault Captur ou Peugeot 2008 apostam e muito no arrojo estético, a proposta da Honda resiste bem ao teste do tempo, mas resta saber por quanto mais tempo.
Grande ponto de destaque é o interior, que sem deslumbrar nos seus materiais, oferece qualidade muito interessante, mesmo que na parte superior do tablier seja fácil encontrar plásticos duros ao toque. Ainda assim, a construção e a junção entre painéis denotam solidez, num hábito de robustez que se repete noutro modelo da marca japonesa. Gostámos ainda da posição de condução e dos próprios bancos, com conforto adequado para longos trajetos, sendo eles também uma novidade.
Mais vantajosa ainda é a habitabilidade, já que sobretudo atrás, é fácil acomodar adultos até de maior estatura, mercê de altura e de amplitude para colocação das pernas bem acima da média para o segmento. Não pode deslizar o banco traseiro, mas não lhe faltará espaço. A sua versatilidade é garantida ainda pela bagageira ampla, com 470 litros (incluindo fundo duplo), e pelo sistema de ‘bancos mágicos’, que permite levantar o assento para ganhar espaço no piso do veículo. Este é claramente um dos pontos a seu favor.
Sem grandes correriasPara entrada na gama do HR-V, a Honda propõe versão com motor 1.5 i-VTEC de quatro cilindros, mas atmosférico, deixando para a versão Sport a unidade com 182 CV, beneficiando essa ainda de uma afinação de chassis mais desportiva. No caso da versão ensaiada, o motor debita 130 CV de potência e 155 Nm de binário máximo, sendo valores que claramente indiciam pouca vontade para correrias. Com efeito, esta é uma motorização que cumpre perfeitamente com todos os requisitos em torno de utilização quotidiana – prontidão na resposta e progressividade na entrega da potência tornam o HR-V num modelo ‘certinho’, oferecendo mais ‘alma’ numa faixa mais cimeira de rotações. Mas sem entusiasmar, sobretudo no caso das recuperações, obrigando a recorrer à caixa de velocidades com frequência na tentativa de manter o ritmo ou para concretizar uma ultrapassagem.
O motor está associado a uma caixa manual de seis velocidades que tem manuseamento quase desportivo com um seletor curtinho, mas o escalonamento, sobretudo de quarta, quinta e sexta remetem também para uma utilização mais pacata, procurando incentivar à poupança e eficiência dos consumos. A este respeito, no nosso ensaio, com 100 quilómetros feitos entre cidade (60) e nacionais e vias rápidas (40) sempre a velocidades legais, obtivemos uma média de 6,4 l/100 km, que fica abaixo da média homologada WLTP, que é de 6,6 l/100 km. Também aqui nos parece um bom ponto para o HR-V.
O SUV dispõe ainda de um modo ECON, em botão situado do lado esquerdo atrás do volante, mas a sua atuação é praticamente impercetível na condução entre ligado e desligado. Talvez ajude em efeito ‘placebo’…
O comportamento do HR-V transmite segurança e estabilidade ao condutor mas, pese embora, uma tónica mais firme da suspensão, também não entusiasma dinamicamente. Pelo contrário, sobressai pela propensão familiar e cuidada, algo que as jantes de 17 polegadas também não lhe retiram em demasia.
Já o equipamento é farto no caso da versão Executive, que tem elementos como a climatização automática de duas zonas, bancos aquecidos, cruise control, vidros traseiros escurecidos, sistema de entrada e arranque sem chave, teto panorâmico e jantes de 17 polegadas, num conjunto que é ainda reforçado pelo sistema Honda Connect, que nem sempre é intuitivo nem fácil de usar, afastando-se do que muitos dos concorrentes já fazem no segmento. Tem por base um ecrã de 7.0 polegadas, com boa leitura, mas de grafismo já a pecar na modernidade. O preço desta variante supera já a fasquia dos trinta mil, ficando pelo 30.500 euros, que pode ser pesado aos olhos de muitos dos potenciais compradores, mesmo que compense pelo equipamento e pela garantia de sete anos sem limite de quilómetros, associado a sete anos de assistência em viagem… Argumentos de boa onda. A gama começa nos 25.550€ para este mesmo motor mas em nível Comfort.
VEREDICTO
A Honda procurou dar uma lufada de ar fresco ao HR-V, reconhecendo a sua importância e a fundamentação de um segmento que tem hoje mais de 20 concorrentes e no qual é imperioso estar presente. Apesar das mudanças operadas, o Honda HR-V não alterou significativamente o seu posicionamento, mantendo-se como um SUV de créditos seguros, primando muito mais pelo espaço a bordo do que pela emotividade de condução, estando associado a um motor a gasolina que é mais do que suficiente para as tarefas do dia-a-dia, sem atribuir particularidades de diversão à experiência.
Talvez o seu maior pecadilho seja mesmo a faceta tecnológica aquém do que muitos dos rivais estão já a oferecer. No cômputo geral, um modelo solidamente construído, bastante agradável de conduzir, económico na utilização e sobremaneira espaçoso, que preenche as medidas para quem tem em atenção estes parâmetros. Mas, serão estes argumentos racionais suficientes na luta contra a expressão emocional?