Lançado em 2014, o Honda HR-V foi alvo de ligeiras alterações para se manter em linha com os seus principais rivais no segmento dos SUV compactos. Sem grandes novidades técnicas no caso da unidade ensaiada, ainda com o motor atmosférico de 1.5 litros, valem os detalhes que sempre fizeram a diferença no SUV mais compacto da Honda.

Concebido sob a mesma base do Jazz que se apresta a sair de linha, o HR-V ajudou a avolumar as vendas da Honda no mercado europeu, indo ao encontro de duas tendências – a dos SUV de dimensões mais compactas e a dos motores a gasolina. Na intenção de manter o HR-V como um dos candidatos às preferências dos europeus, aplicou alguns retoques no capítulo estético, sendo fácil encontrá-los no exterior, sobretudo, quando visto de frente: a grelha cromada – quase como um escudo – passa agora a dominar a parte superior unindo os dois faróis, que também passam a dispor de uma faixa cromada na sua zona cimeira. Além disso, dispõem de iluminação LED e de configuração redesenhada. Na frente, ainda, para-choques com ligeiras diferenças. Atrás, tudo muito mais ténue, já que apenas temos farolins escurecidos com configuração redesenhada e tecnologia LED.

Para um segmento onde as novidades que se aprestam a chegar, como o Renault Captur ou Peugeot 2008 apostam e muito no arrojo estético, a proposta da Honda resiste bem ao teste do tempo, mas resta saber por quanto mais tempo.

Grande ponto de destaque é o interior, que sem deslumbrar nos seus materiais, oferece qualidade muito interessante, mesmo que na parte superior do tablier seja fácil encontrar plásticos duros ao toque. Ainda assim, a construção e a junção entre painéis denotam solidez, num hábito de robustez que se repete noutro modelo da marca japonesa. Gostámos ainda da posição de condução e dos próprios bancos, com conforto adequado para longos trajetos, sendo eles também uma novidade.

Mais vantajosa ainda é a habitabilidade, já que sobretudo atrás, é fácil acomodar adultos até de maior estatura, mercê de altura e de amplitude para colocação das pernas bem acima da média para o segmento. Não pode deslizar o banco traseiro, mas não lhe faltará espaço. A sua versatilidade é garantida ainda pela bagageira ampla, com 470 litros (incluindo fundo duplo), e pelo sistema de ‘bancos mágicos’, que permite levantar o assento para ganhar espaço no piso do veículo. Este é claramente um dos pontos a seu favor.

Sem grandes correrias

Para entrada na gama do HR-V, a Honda propõe versão com motor 1.5 i-VTEC de quatro cilindros, mas atmosférico, deixando para a versão Sport a unidade com 182 CV, beneficiando essa ainda de uma afinação de chassis mais desportiva. No caso da versão ensaiada, o motor debita 130 CV de potência e 155 Nm de binário máximo, sendo valores que claramente indiciam pouca vontade para correrias. Com efeito, esta é uma motorização que cumpre perfeitamente com todos os requisitos em torno de utilização quotidiana – prontidão na resposta e progressividade na entrega da potência tornam o HR-V num modelo ‘certinho’, oferecendo mais ‘alma’ numa faixa mais cimeira de rotações. Mas sem entusiasmar, sobretudo no caso das recuperações, obrigando a recorrer à caixa de velocidades com frequência na tentativa de manter o ritmo ou para concretizar uma ultrapassagem.

O motor está associado a uma caixa manual de seis velocidades que tem manuseamento quase desportivo com um seletor curtinho, mas o escalonamento, sobretudo de quarta, quinta e sexta remetem também para uma utilização mais pacata, procurando incentivar à poupança e eficiência dos consumos. A este respeito, no nosso ensaio, com 100 quilómetros feitos entre cidade (60) e nacionais e vias rápidas (40) sempre a velocidades legais, obtivemos uma média de 6,4 l/100 km, que fica abaixo da média homologada WLTP, que é de 6,6 l/100 km. Também aqui nos parece um bom ponto para o HR-V.

O SUV dispõe ainda de um modo ECON, em botão situado do lado esquerdo atrás do volante, mas a sua atuação é praticamente impercetível na condução entre ligado e desligado. Talvez ajude em efeito ‘placebo’…

Painel de instrumentos combina dois elementos analógicos com um computador de bordo do lado direito, que é monocromático. Boa qualidade geral pese embora seja fácil encontrar plásticos duros ao toque no tablier.

O comportamento do HR-V transmite segurança e estabilidade ao condutor mas, pese embora, uma tónica mais firme da suspensão, também não entusiasma dinamicamente. Pelo contrário, sobressai pela propensão familiar e cuidada, algo que as jantes de 17 polegadas também não lhe retiram em demasia.

Numa nota menos positiva, o HR-V deixou passar para o interior algum do ruído do motor de quatro cilindros, sendo perfeitamente audível o funcionamento do bloco a gasolina apesar dos esforços anunciados pela Honda no capítulo da insonorização neste facelift.

Já o equipamento é farto no caso da versão Executive, que tem elementos como a climatização automática de duas zonas, bancos aquecidos, cruise control, vidros traseiros escurecidos, sistema de entrada e arranque sem chave, teto panorâmico e jantes de 17 polegadas, num conjunto que é ainda reforçado pelo sistema Honda Connect, que nem sempre é intuitivo nem fácil de usar, afastando-se do que muitos dos concorrentes já fazem no segmento. Tem por base um ecrã de 7.0 polegadas, com boa leitura, mas de grafismo já a pecar na modernidade. O preço desta variante supera já a fasquia dos trinta mil, ficando pelo 30.500 euros, que pode ser pesado aos olhos de muitos dos potenciais compradores, mesmo que compense pelo equipamento e pela garantia de sete anos sem limite de quilómetros, associado a sete anos de assistência em viagem… Argumentos de boa onda. A gama começa nos 25.550€ para este mesmo motor mas em nível Comfort.

VEREDICTO

A Honda procurou dar uma lufada de ar fresco ao HR-V, reconhecendo a sua importância e a fundamentação de um segmento que tem hoje mais de 20 concorrentes e no qual é imperioso estar presente. Apesar das mudanças operadas, o Honda HR-V não alterou significativamente o seu posicionamento, mantendo-se como um SUV de créditos seguros, primando muito mais pelo espaço a bordo do que pela emotividade de condução, estando associado a um motor a gasolina que é mais do que suficiente para as tarefas do dia-a-dia, sem atribuir particularidades de diversão à experiência.

Talvez o seu maior pecadilho seja mesmo a faceta tecnológica aquém do que muitos dos rivais estão já a oferecer. No cômputo geral, um modelo solidamente construído, bastante agradável de conduzir, económico na utilização e sobremaneira espaçoso, que preenche as medidas para quem tem em atenção estes parâmetros. Mas, serão estes argumentos racionais suficientes na luta contra a expressão emocional?