Poucos modelos têm uma gama tão ampla e variada quanto o Hyundai Kauai. O atrevido SUV da marca sul-coreana parece ter uma versão à medida de cada um e fomos avaliar o que é que as quatro soluções apresentadas pela Hyundai neste modelo representam em termos de funcionalidade.

Ao longo de duas semanas pudemos experimentar toda a gama do Kauai, uma vez que se trata de uma gama com quatro opções de motorização, a mais recente sendo a híbrida que chegou no final do ano passado a Portugal, propondo o melhor de dois mundos – emissões que podem ser zero, mas também maior eficiência e boas prestações sem preocupação com autonomia.

Gasolina a abrir: 1.0 T-GDi

A opção mais acessível tem por base a compacta motorização 1.0 T-GDI a gasolina, um bloco de três cilindros turbo que debita 120 CV e que surge como uma variante de boas prestações relativas e que, como tem um peso reduzido do conjunto (1308 kg), permite uma condução bastante divertida, concedendo assim uma boa agilidade a este conjunto.

O motor chega perfeitamente para as necessidades de condução do quotidiano, mostrando boa energia e elasticidade apreciável, graças aos 172 Nm de binário ainda que possa também contar com a ajuda da caixa manual de seis velocidades para necessidades de retomas mais rápidas. O consumo acaba por ser um elemento não tão positivo, já que em utilização dita normal tende a rondar os seis litros por cada 100 quilómetros, embora fique em linha com aquilo que o ciclo WLTP preconizou para este modelo, ou seja, 6,4 l/100 km.

O comportamento divertido deste Kauai acaba por ser o seu melhor predicado, possibilitado por motor expedito e relativamente poupado, que acaba por ter, em termos de preço, a maior rivalidade do seu ‘irmão’ Diesel, equipado com o motor 1.6 CRDi de 115 CV de potência, que foi o segundo a teste.

Gasóleo? E porque não?

A versão a gasóleo surge quase como um contraciclo do próprio segmento, que se vai afastando dessa tecnologia de forma paulatina. Contudo, tem ainda uma presença válida, sobretudo para quem tem uma ideia de utilização para distâncias mais longas com gastos de consumo relativamente baixos.

Aqui, o gasóleo continua a ser peça fundamental. Com um bloco turbodiesel de 136 CV de potência e 320 Nm de binário máximo (às 2000 rpm), que se demonstra convincente para uma utilização mais desafogada do que a sua versão congénere a gasolina, sobretudo pela desenvoltura a regimes intermédios, permitindo-lhe por exemplo registar veleidades fora do asfalto.

Embora ligeiramente mais ruidoso do que o motor a gasolina – e, naturalmente, face aos eletrificados -, esta mecânica compensa também pelo consumo baixo, na casa dos cinco litros por cada 100 quilómetros. No nosso ensaio, o valor de 5,6 l/100 km foi um bom dado no que diz respeito ao consumo médio, embora existam propostas no mercado ligeiramente mais comedidas.

A condução fica quase a par com a variante a gasolina, embora valorizada pela maior disponibilidade do motor CRDi aliada à caixa automática DCT de dupla embraiagem e pelo bom acerto do chassis, que é firme mas sem ser desconfortável.

Híbrido como novidade

No final de 2019, a Hyundai decidiu completar a gama do Kauai com uma versão híbrida, que pretende tirar partido da crescente procura por este tipo de motorizações, sendo também das poucas propostas no segmento a contar com uma unidade híbrida enquanto não chegam os híbridos Toyota Yaris Cross e Honda Jazz Crosstar.

Este Kauai Hybrid recorre a um sistema composto por um motor 1.6 GDi atmosférico de ciclo Atkinson com 105 CV de potência e 147 Nm de binário, a que se junta um motor elétrico de 43.5 CV, alimentado por uma bateria de 1.56 kWh de capacidade. Compacta, mas essencial para fornecer breves momentos de condução com zero emissões. A potência máxima combinada é de 141 CV, enquanto o binário máximo é de 265 Nm, sendo a potência transmitida às rodas dianteiras por uma caixa de velocidades automática de dupla embraiagem com seis relações. A solução é, muito basicamente, a mesma utilizada no Hyundai IONIQ Hybrid e no ‘primo’ Kia Niro. A bateria de polímeros de lítio está situada sob os bancos, permitindo assim que o espaço da bagageira se mantenha inalterado face aos outros Kauai, não sendo por aí que obtém desvantagens (361 litros).

A sua condução é pautada pela suavidade, com acelerações progressivas sem se assemelhar a um desportista nas prestações, antes preferindo uma toada mais relaxada para se aproveitar as potencialidades do sistema híbrido. A atuação da caixa DCT permite ainda maior tranquilidade na condução, evitando assim efeitos pouco agradáveis dos sistemas híbridos com recurso às caixas CVT, sobretudo ao nível do ruído – no Kauai Hybrid, a insonorização foi muito bem cuidada, pelo que não existem grandes problemas nesse campo.

A marca anuncia um consumo médio de 5,0 l/100 km em medição WLTP, embora resulte sempre variável consoante o estilo de utilização pretendido – conduzir com suavidade retribui com um maior potencial de poupança (nem sempre é fácil, atenção), enquanto uma abordagem mais agressiva retira-lhe os potenciais ganhos. Para medir a ecologia da condução, este Kauai apresenta um novo potenciómetro em vez do conta-rotações, mostrando como é que o condutor está a atuar ao volante.

O painel de instrumentos é novo, sendo específico do Hybrid. Foto cedida por Rodrigo Hernandez.

Uma forma de conseguir ser poupado é rodando em velocidade estável e sem carga no acelerador, fazendo entrar em ação o motor elétrico sempre que possível, com o concordante recuo na média de consumo de combustível. Em cidade, também tem benefícios, mesmo que não sejam tão evidentes, porque os arranques devem ser mesmo muito suaves. Contudo, atendendo ao motor e bateria compactos, acaba por ser expectável. O peso total do Kauai Hybrid é de 1451 kg, pelo que o seu comportamento é também marcado pelo amortecimento mais firme, mas sem se mostrar demasiado penalizador no conforto.

No interior, destaque para o novo sistema de infoentretenimento com ecrã tátil central de 10.25’’, com boa visibilidade e fácil manuseamento. Há ainda novos revestimentos nalguns pontos e molduras coloridas em pontos como as saídas da climatização.

Choque elétrico

Por fim, aquele que é um dos melhores elétricos na atualidade. O Kauai Electric mostra como a competência elétrica se aplica aos SUV compactos, embora não seja propriamente acessível. Lançado apenas com variante mais potente e de maior autonomia, o Kauai Electric conta com um motor elétrico de 204 CV/150 kW de potência e uma autonomia em ciclo WLTP de 449 quilómetros, mercê de uma bateria de polímeros de lítio de 64 kWh de capacidade. Essa autonomia é a maior entre os seus rivais no mercado.

O Kauai tem um funcionamento suave e a autonomia não desaparece a velocidade alarmante. Antes pelo contrário, replica quase de forma fidedigna os quilómetros percorridos. Quase.

Rapidamente se percebe que o Kauai é evolução na autonomia. Com este novo SUV é perfeitamente possível fazer uma vida normalíssima, sem padecer da ansiedade da autonomia. A média de consumo energético no nosso ensaio de 100 quilómetros foi de 11.7 kWh, isto sempre com o modo ECO ativado e sem consumos de ar condicionado, além de utilização ostensiva das patilhas de regeneração de energia atrás do volante, naquele que é simultaneamente, um ponto muito importante para manter a autonomia e, também, para introduzir alguma diversão na condução.

Depois do teste de consumo de 100 quilómetros, já com ar condicionado e ativação do modo Sport, que permite acelerações dignas de desportivo (mas algumas incongruências de suavidade de condução, sobretudo na passagem da potência ao asfalto), o consumo subiu para ainda assim muito elogiáveis 12.4 kWh/100 km, aqui num percurso com cerca de 25-30 quilómetros. Note-se que o ar condicionado ativado ‘rouba’ algumas dezenas de quilómetros de autonomia.

Seja como for, este é um elétrico extremamente bem concebido nas suas prestações, sendo super-reativo quando se ativa o modo Sport de condução (através de um botão). A aceleração dos zero aos 100 km/h cumpre-se em 7,6 segundos, o que mostra um ritmo quase digno de desportivo. São, certamente, as recuperações que realmente se destacam, tirando partido do binário elétrico (395 Nm) disponível no momento em que se pressiona o acelerador com mais força, fazendo mesmo patinar as rodas com a entrega mais repentina da potência, o que nem sempre é uma sensação agradável mesmo quando já se vai com alguma velocidade.

É através das patilhas atrás do volante que se pode aumentar ou anular a força de regeneração de energia decorrente das travagens ou desacelerações.

Ultrapassagens ou arranques não têm qualquer tipo de dificuldade, mesmo que o uso continuado dessas façanhas lhe retire autonomia, como seria de supor. A relação única de caixa (que é manuseada a partir de quatro botões na consola central) também contribui para essa mesma rapidez de reações.

Se no modo Sport parece ganhar uma faceta desportiva, o modo Comfort e, sobretudo, o ECO conferem-lhe maior suavidade e eficiência na atuação, moderando a entrega da energia e dando mais primazia à poupança da bateria.

Apesar da eficiência da bateria e da força do motor elétrico, que parecem resolver a equação da autonomia, importa perceber que uma bateria de maior capacidade tem como contrapartida tempos de carregamento maiores, sobretudo quando se tem de apostar em tomadas domésticas. Já lá iremos.

Primeiro, num posto de carga rápido (DC) de potência de 100 kW, a bateria de 64 kWh carrega 80% em 54 minutos (numa estação de 50 kW, o tempo de carregamento é de 75 minutos), enquanto o carregador de bordo, de 7.2 kW, permite carregar em AC (corrente alternada) em pouco menos de dez horas (9h35m, para maior precisão). Porém, numa tomada doméstica de 230 V, a espera é longa, rondando as 31 horas!

O interior replica em grande parte o dos modelos com motor de combustão interna, mas varia na oferta de mais espaço para arrumação de objetos na consola central – uma vez que não há necessidade de túnel de transmissão – e no painel de instrumentos digital que varia as informações apresentadas consoante o modo escolhido de condução.

O comportamento em curva, por outro lado, é o menos composto de todos os Kauai ensaiados, essencialmente porque o peso muito maior – 1760 kg – torna mais difícil a oscilação de massas, mesmo que a suspensão tente combater essa tendência de menor precisão. Não é que seja lento nas reações, mas em comparação com o 1.0 T-GDi, por exemplo, que é ágil e divertido, o Kauai elétrico é menos ‘compreensivo’ nas curvas.

Mas é o preço que mais o ‘trai’ ainda nesta fase – a marca propõe o Kauai Electric por 44.500€…

VEREDICTO

A ideia deste ensaio quádruplo foi tentar perceber qual o Kauai que se adapta a cada um e qual aquele que poderá ser mais vantajoso para cada tipo de utilização, sobretudo atendendo ao custo de aquisição em contraponto com os custos de utilização.

Com autonomia ‘vencedora’, o elétrico Kauai Electric assume-se como o modelo mais ecológico neste quarteto e aquele que oferece, por larga margem, as melhores prestações – calcando o pedal do acelerador, o Kauai ‘dispara’, transmitindo até ao volante as dificuldades de motricidade. Se os custos de carregamento podem ser mais baixos do que os de um veículo com motor de combustão, o mesmo se aplicando aos custos de operação (vide as manutenções, que serão mais baixas), o seu custo inicial de 44.500€ é mais do dobro do custo base de um Kauai 1.0 T-GDi de 120 CV (18.106€).

Pegando neste último, é aquele que melhor traduz a diversão de condução de um Kauai, sendo ligeiro e dinâmico, com uma mecânica bem conseguida, capaz até de surpreender pelas boas prestações dentro e fora da cidade. O consumo médio pode ser o mais alto de todos os Kauai – na casa dos seis litros por cada 100 quilómetros, mas a funcionalidade e o seu custo mais baixo podem fazer a diferença ainda nesta fase. A unidade ensaiada, com jantes de 18 polegadas, ecrá tátil de 7.0″ e câmara de estacionamento, entre outros itens, tinha um custo de 20.600€. Ainda assim, o equipamento generoso é traço geral da gama Kauai…

O Diesel de 136 CV (há uma mais acessível com 115 CV) adapta-se sobretudo a quem procura fazer muitos quilómetros com custos contidos, valendo-se igualmente de boas prestações em praticamente todas as circunstâncias. É, porventura, o segundo melhor em prestações atrás do elétrico. Com um custo base de 25.160€, o menor dispêndio no combustível pode compensar quem faça mais viagens longas, embora seja preciso fazer quilometragens acima dos 30 mil por ano para que se torne mais vantajoso.

Sobra o novo Kauai Hybrid que, de forma curiosa, é uma súmula de todos os outros modelos. Não sendo tão fogoso ou eficiente como o elétrico, é uma ajuda muito competente para cumprir as normas de emissões e para obter uma maior economia de custos com recurso a uma eletrificação simplificada – motor elétrico e bateria compactos, consumos comedidos e potencial de poupança nas emissões e nos consumos traduzem neste modelo uma expressão intermédia que tanto se adapta a uso quotidiano em cidade, como fora dela. Atendendo ao seu custo base – 27.410€ -, pode-se entender até que o seu principal rival é o Kauai Diesel, com uma postura mais consciente e ecológica.

Sem vencedores ou vencidos, a realidade é que… cada Kauai preenche um desejo próprio de quem os procura, embora seja de enaltecer a ousadia da Hyundai ao oferecer uma tecnologia para cada utilização.

Fichas técnicas

Hyundai Kauai 1.0 T-GDi Premium Tech
Motor: Gasolina, 998 cc, 3 cilindros em linha, injeção direta, turbo
Potência: 120 CV às 6000 rpm
Binário: 172 Nm às 1500-4000 rpm
Transmissão: Caixa manual de 6 vel, tração dianteira
Aceleração 0-100 km/h: 12 seg.
Velocidade máxima: 181 km/h
Consumo médio: 5,2 l/100 km (NEDC)
Emissões CO2: 117 g/km (NEDC)
Comprimento/Largura/Altura: 4165/1800/1550 mm
Distância entre eixos: 2600 mm
Peso: 1308 kg
Bagageira: 361-1143 litros
Preço: 20.600€ (Desde 19.000€)

Hyundai Kauai 1.6 CRDi DCT Premium + Navi + Tech
Motor: Gasóleo, 1598 cc, 4 cilindros em linha, injeção direta, turbo
Potência: 136 CV às 4000 rpm
Binário: 320 Nm às 2000-2250 rpm
Transmissão: Caixa automática DCT de 7 vel, tração dianteira
Aceleração 0-100 km/h: 10,2 seg.
Velocidade máxima: 191 km/h
Consumo médio: 5,4 l/100 km (WLTP)
Emissões CO2: 134 g/km (WLTP)
Comprimento/Largura/Altura: 4165/1800/1550 mm
Distância entre eixos: 2600 mm
Peso: 1393 kg
Bagageira: 361-1143 litros
Preço: 27.910€ (Desde 25.160€)

Hyundai Kauai Hybrid
Motor térmico: Gasolina, 1580 cc, 4 cilindros em linha, injeção direta
Potência: 105 CV às 5700 rpm
Binário: 147 Nm às 4000 rpm
Motor elétrico: 44 CV/32 kW
Binário elétrico: 170 Nm
Bateria: Polímeros de lítio/1.56 kWh
Potência combinada: 141 CV/104 kW
Binário combinado: 265 Nm
Transmissão: Caixa automática DCT de 6 vel, tração dianteira
Aceleração 0-100 km/h: 11,2 seg.
Velocidade máxima: 160 km/h
Consumo médio: 5,0 l/100 km (WLTP)
Emissões CO2: 114 g/km (WLTP)
Comprimento/Largura/Altura: 4165/1800/1550 mm
Distância entre eixos: 2600 mm
Peso: 1451 kg
Bagageira: 361-1143 litros
Preço: 29.160€ (Desde 27.410€)

Hyundai Kauai Electric
Motor: Elétrico, síncrono de íman permanente
Potência: 150 kW/204 CV
Binário: 395 Nm
Transmissão: Automática de relação única; tração dianteira
Bateria: Polímeros de lítio/64 kWh
Aceleração 0-100 km/h: 7,6 seg.
Velocidade máxima: 167 km/h
Consumo médio: 15,4 l/100 km (WLTP)
Emissões CO2: 0 g/km (WLTP)
Comprimento/Largura/Altura: 4165/1800/1570 mm
Distância entre eixos: 2600 mm
Peso: 1760 kg
Bagageira: 332-1114 litros
Preço: 44.500€

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