Aston Martin DBS Superleggera: James Bond por um dia

03/10/2020

É inegável que o universo cinematográfico do espião britânico provoca um enorme fascínio. Ninguém fica indiferente aos destinos exóticos onde as missões o levam, às engenhocas desenvolvidas pelo extravagante cientista “Q”, às deslumbrantes “Bond girls” e aos carros que ele tem a sorte de conduzir.

O agente secreto haveria de passar por Portugal para filmar mais uma aventura. Dessa vez, Cascais, Estoril e Guincho seriam também protagonistas de ”Ao Serviço de Sua Majestade” (1969) – o espião chega mesmo a atravessar a Ponte 25 de Abril para ir aos estaleiros em Cacilhas, onde conhece o futuro sogro. Sim, esse é o único filme em que James Bond se casa com a belíssima Teresa di Vicenzo, interpretada por Diana Rigg. Mais uma vez o carro escolhido foi um Aston Martin e o modelo seria o primeiro a usar a sigla DBS, em 1969. Tal como James Bond, também nós haveríamos de passar a Ponte 25 de Abril aos comandos de um DBS, mas neste caso um muito especial Superleggera, graças ao convite da Aston Martin Lisboa, cuja importação em Portugal está agora a cargo da C. Santos VP.

O agente secreto haveria de passar por Portugal para filmar mais uma aventura. Dessa vez, Cascais, Estoril e Guincho seriam também protagonistas de ”Ao Serviço de Sua Majestade” (1969)

Encontro de irmãos. O primeiro AM Superleggera versus o mais recente. Qual o mais bonito?

A premissa era simples: levantar o DBS em Cascais e fazer um “test drive”, conduzindo-o até ao Algarve, mais concretamente até Portimão, onde fica a Spy Manor, uma casa digna do 007. Vanda Everke é a anfitriã e a fundadora da Spy Manor Productions, empresa que pretende atrair produções cinematográficas para o Algarve. A empresária russa de 41 anos confessa ter ficado maravilhada com a semelhança que a região mais a sul de Portugal tem com a Califórnia e, por essa razão, ser uma ótima alternativa para filmagens que possam simular o estado americano, mas não só.

Além disso, a produtora também projeta mansões e garagens temáticas personalizadas, com a ajuda de Peter Ogunsalu, produtor com mais de vinte anos de experiência na indústria cinematográfica, tendo colaborado com os estúdios Miramax, Paramount Pictures e Warner Brothers.

Este protótipo do AM Valkyria está na sala de estar da Spy Manor.

Vanda Everke e o marido são aficionados do universo dos filmes do espião britânico 007 e de automóveis de uma marca em particular: Aston Martin. A Spy Manor é o reflexo dessa paixão e, por todo o lado, existem referências aos carros da marca e aos filmes. Exemplo disso é o protótipo do super exclusivo Valkyria que encontrámos na sala de estar ou a sala de cinema, cuja entrada (acionada por voz) está dissimulada por trás de uma estante com “memorabilia” das películas do agente secreto. Não está previsto que o Aston Martin DBS Superleggera venha a entrar em algum filme da saga 007, no entanto, como substituto do Vanquish S que teve uma aparição em “Die Another Day”, nas mãos de Pierce Brosnan, tem expectativas altas para manter.

É um belíssimo gran turismo que aflora o território dos superdesportivos e se a ficha técnica não for suficiente para impressionar, o motor V12 biturbo com 5.200 Cc, 725 Cv e 900 Nm deixa-nos sem palavras

Seja qual for o lado escolhido, a beleza está presente.

É um belíssimo gran turismo que aflora o território dos superdesportivos e se a ficha técnica não for suficiente para impressionar, o motor V12 biturbo com 5200 cc, 725 CV e 900 Nm deixa-nos sem palavras. A estrutura é herdada do DB11, mas para ser digno da designação “Superleggera” foi preciso recorrer a uma “dieta rigorosa” de fibra de carbono para reduzir uns significativos 72 quilos. Ainda assim, a balança acusa uns consideráveis 1845 kg, distribuídos na proporção de 51% no eixo dianteiro e 49% no eixo traseiro, para um equilíbrio quase perfeito. Para atingir esse objetivo, o motor V12 foi colocado atrás do eixo dianteiro e a caixa de velocidades no eixo traseiro. No final ficamos com uma impressionante relação peso/potência de 2,34 kg/CV. Assustador? Sim, sobretudo se tivermos em conta que toda esta potência está alocada às rodas traseiras – não há tração integral. No entanto, parece que estamos perante um jogador de rugby vestido de smoking: os engenheiros da Aston Martin fizeram um excelente trabalho ao dotar este “monstro” de 725 CV com maneiras de “gentleman”.
É impossível não nos sentirmos bem neste “cockpit”.

Antes de nos fazermos ao caminho, é impossível não apreciar o exercício da manufactura no rigor da montagem e da escolha dos materiais no interior do DBS. A lista de opções para personalização parece não ter fim, mas ainda há a possibilidade de ir mais além: “Um cliente pediu-nos pó da lua para ser aplicado no tejadilho de um modelo que já de si era bastante especial”, revela-nos Corenn Lange, responsável por este tipo de solicitações na Aston Martin Europa.

Assim que damos vida ao V12 através do botão destacado na consola central, o som gutural parece dizer-nos que alguém acabou de acordar mal disposto. A cada solicitação do acelerador há um rugido grave, seguido de um borbulhar constante (premindo o botão durante dois segundos, torna o “acordar” do V12 mais civilizado, e não cria má vizinhança). Isto promete, dizemos em surdina.

A lista de opções para personalização parece não ter fim, mas ainda há a possibilidade de ir mais além: “Um cliente pediu-nos pó da lua para ser aplicado no tejadilho de um modelo que já de si era bastante especial”

Para o pôr em marcha selecionamos o botão “D” (drive), também na consola central, e arrancamos. Apreensivos de início, mas não tardou a ficarmos ambientados no “cockpit” deste super GT. A aceleração é estonteante. Os 900 Nm esmagam-nos contra o banco, um paradoxo entre o apoio e o conforto irrepreensível que proporciona – tal como as botas na música de Nancy Sinatra. Este carro foi feito para andar muitos quilómetros, por isso é bom que seja muito confortável.

Potência e elegância num Gran Turismo que desafia os Superdesportivos.

Por mais tentador que fosse testar a velocidade do DBS Superleggera em autoestrada (340 km/h segundo o construtor), prezámos muito os pontos da nossa carta de condução e, por isso, a serra algarvia serviu de cenário para avaliar o desempenho deste gran turismo sempre dentro da legalidade. Os modos de condução disponíveis estão escalonados de uma forma que o condutor pode ir descobrindo o comportamento do carro, gradualmente. Do mais civilizado GT, passando pelo equilibrado Sport, até ao explosivo Sport Plus, a escolha é feita no botão instalado do braço direito do volante. No braço esquerdo existe outro botão que permite regular o comportamento da suspensão. Para os mais atrevidos é ainda possível “brincar” com o controlo de estabilidade entre os modos On, Track e Off. Deixámos sempre em On para não entrarmos em despesas.

Por mais tentador que fosse testar a velocidade do DBS Superleggera em auto-estrada (340 km/h segundo o construtor), prezámos muito os pontos da nossa carta de condução

Dependendo do nosso estado de espírito, podemos andar no modo GT e apreciar a paisagem, descontraidamente. O chassis do DBS parece inabalável em curva, a caixa automática ZF de oito velocidades é rápida, as relações são curtas e os travões cerâmicos parece que nunca se cansam. Os modos Sport e Sport Plus permitem desfrutar dos troços de estrada de serra sem trânsito, com o último a exigir toda a nossa atenção à condução e, em especial, à forma como doseamos o acelerador.
Aston Martin DBX, a surpresa da marca para o segmento SUV.

A nossa missão de ensaiar o DBS Superleggera termina ao chegarmos à Spy Manor. A preocupação é visível no rosto de Eva Driessen, pois somos os últimos a chegar: “Pensávamos que não queriam devolver o DBS”, brinca a Senior Manager da Aston Martin Europa. Ficámos tentados, respondemos. A missão podia ter terminado, mas ainda havia mais uma surpresa em forma de “briefing”. Somos convidados a ir para o exterior da Spy Manor e aguardar no jardim, enquanto o dono da casa aponta um comando para uma zona onde só existem plantas e flores. De repente, bem ao estilo dos filmes 007, o jardim transforma-se na porta de uma garagem de onde sai a nova coqueluche da marca: o Aston Martin DBX. Trata-se de um ponto de viragem para a marca, pois é o seu primeiro modelo no segmento SUV. Miles Nurnberger, designer da AM diz ter ficado impressionado a primeira vez que andou num protótipo. A razão foi a premissa de construírem um SUV com o comportamento de um desportivo, digno de um Aston Martin. Nós também ficámos impressionados com o que vimos: a elegante solução de design encontrada disfarça bem os cinco metros de comprimento, o interior é espaçoso e a grelha frontal é fenomenal. Infelizmente, não pudemos andar nele, quem sabe numa próxima missão?

A preocupação é visível no rosto de Eva Driessen, pois somos os últimos a chegar: “Pensávamos que não queriam devolver o DBS”, brinca a Senior Manager da Aston Martin Europa

Ficha técnica
Motor: 12 cilindros em V com 5204 cc Potência: 725 cv/6500 rpm Binário: 900 Nm/1800-5000 rpm Transmissão: Traseira Caixa de velocidades: Automática de 8 vel. Travôes: Discos cerâmicos Peso: 1845 kg Velocidade máxima: 339 km/h Aceleração 0-100 km/h: 3,4 s

Aston Martin DBS Superleggera Coupé
Preço a partir de: 368.850 €
Modelo testado: 392.259 €

Opcionais: Pintura Scintilla Silver (6077 €), Interior Jewellery Pack-Satin Silver (1514 €), farolins traseiros escurecidos (753 €), pinças travão em preto (1513 €), forro do tejadilho em Alcantara “Bitter Chocolate” (1513 €), logo “DBS” nos encostos de cabeça (448 €), Pele Caithness “Chestnut Tan” (1818 €), etc.