O problema dos semicondutores está para durar, causando sérias perturbações em diversas áreas da indústria, não sendo a automóvel uma exceção. Com efeito, são já vários os problemas de produção causados pela falta de chips semicondutores, levando a atrasos substanciais nas entregas a clientes.

A causa está relacionada com o aumento da procura de dispositivos eletrónicos desde o início da pandemia, o que também causou problemas na produção devido a interrupções na produção. Carlos Ribas, representante da Bosch em Portugal e diretor da infraestrutura daquela marca em Braga, reconhece o problema e admite que a sua resolução não está para breve.

Uma pequena peça com grandes problemas. O aumento considerável da procura de chips semicondutores trouxe consigo uma escassez daquele componente para as mais diversas áreas, desde a informática à automóvel, fazendo com que prazos de entrega de bens de consumo fossem dilatados no tempo. A dependência de outros mercados, nomeadamente dos do Oriente, avolumou o problema na Europa, onde a falta de chips semicondutores tem causado paragens nas linhas de produção de automóveis, havendo marcas sem veículos para entrega ou com sistemas menos avançados para minimizar o tempo de espera.

Neste cenário, a Bosch anunciou recentemente o aumento do investimento nesta área de produção. A marca germânica, que tem em Braga um importante centro de pesquisa e de investigação tecnológica, pretende investir, apenas em 2022, mais de 400 milhões de euros nas suas fábricas alemãs de Dresden e Reutlingen e na infraestrutura malaia de Penang.

Carlos Ribas, responsável da Bosch em Portugal, admite que a escassez de chips tem tido efeitos nefastos na produção local de componentes para o setor automóvel, advertindo que o impacto não deverá ser aliviado até meados do próximo ano.

“Uma catástrofe. Tem tido um impacto muito negativo, sobretudo aqui na fábrica de Braga. O nosso plano de negócios era bom, as encomendas eram muito melhores [este ano] e não estamos a conseguir fazer nem uma coisa, nem outra. Todos os dias paramos linhas, não temos semicondutores. A escassez de semicondutores é significativa. Penso que 20% do mercado tem falta de semicondutores e isso impacta-nos a nós e aos nossos clientes todos os dias”, referiu aquele responsável durante um evento da Bosch relativa aos desenvolvimentos da condução autónoma. Indica, também, que o problema é particularmente mais visível na indústria automóvel.

“A nossa fábrica de Ovar, que também é de eletrónica, está a ser muito menos afetada e e o plano de negócios vai ser provavelmente ultrapassado. O volume de faturação vai superar o plano de negócios, o que não vai acontecer aqui em Braga”, acrescentou, deixando a indicação de que o “otimismo é muito reduzido”.

“O ano de 2022 será também de dificuldades. Prevê-se que do meio de 2022 ao fim de 2023 a situação possa estar resolvida ou quase resolvida, mas o primeiro semestre do próximo ano prevê-se também bastante difícil”, garantiu.


Mais de 400 milhões para recuperar o tempo perdido

Anunciado o investimento de 400 milhões de euros para acelerar a produção de chips semicondutores, a maior parte das despesas de capital é destinada à nova fábrica de chips de 300 milímetros de Dresden, onde a capacidade de fabricação será expandida ainda mais em 2022.

Cerca de 50 milhões de euros do total de investimento previsto serão gastos na fábrica de chips em Reutlingen, perto de Estugarda, também no próximo ano. A Bosch vai investir um total de 150 milhões de euros num novo espaço de sala limpa que irá surgir entre 2021 e 2023.

Em Penang, na Malásia, a Bosch está também a construir do zero um centro de teste para semicondutores. A partir de 2023, o centro testará sensores e chips semicondutores acabados.