Um exemplar histórico do Ferrari 250 GTO tornou-se no segundo automóvel mais caro de sempre a ser vendido em leilão, superando a fasquia dos 51 milhões de dólares num evento levado a cabo pela conceituada leiloeira RM Sotheby’s.

Modelo de primeira série do GTO, o automóvel vendido em leilão, em Nova Iorque, é conhecido como o ‘Santo Graal’ para todos os colecionadores da marca italiana. Com efeito, este foi o único GTO a ser utilizado em competição pela própria Scuderia Ferrari, tendo sido vendido no dia 13 de novembro por 51.7 milhões de dólares (cerca de 48.220.000 euros à taxa de câmbio na data de publicação deste artigo).

O único GTO Tipo 1962 utilizado pela Scuderia Ferrari a título oficial apresenta uma história lendária, com pecúlio que inclui uma vitória à classe e o segundo lugar na geral dos 1000 Km de Nürburgring de 1962, além de ter competido ainda na edição desse ano das 24 Horas de Le Mans, pelas mãos de Mike Parkes e Lorenzo Bandini.

Este modelo tem por base a plataforma do 250 GT, então refinada por Giotto Bizzarrini ao abrigo dos novos regulamentos técnicos de competição para 1962, com muito trabalho de desenvolvimento aerodinâmico efetuado no túnel de vento da Universidade de Pisa, em Itália, e na pista de Monza, igualmente em Itália. O motor era um V12 de 3.0 litros (designado por Colombo, em honra do engenheiro Gioacchino Colombo), mas desenvolvido para competição, com soluções já avançadas como cárter seco ou seis carburadores Weber para uma potência de 300 CV, a que se juntava ainda uma nova caixa de cinco velocidades e suspensões revistas. De forma importante, a nova arquitetura do chassis e opção por sistema de lubrificação com recurso a cárter seco possibilitou a montagem do motor em posição mais baixa do que no SWB, melhorando o centro de gravidade e a sua agilidade. Era também 113 kg mais leve do que os modelos que substituía.

Mas essa é apenas uma parte do legado do GTO. A importância histórica deste carro advém da sua ligação à Scuderia Ferrari. Com a equipa empenhada, sobretudo, nas corridas de monolugares e nos protótipos Dino de motor traseiro, o 250 GTO foi entregue, essencialmente, a equipas privadas, como foi o caso da bem-sucedida ligação à North American Racing Team (NART) de Luigi Chinetti.

Com a mudança de regulamentos permitida pelo Automobile Club de l’Ouest (ACO), a Scuderia Ferrari decidiu ‘entrar em jogo’. O chassis #3765 é o único GTO de fábrica com um motor de 4.0 litros, construído de acordo com a arquitetura Colombo, mas uma cilindrada alargada, além de receber outras melhorias, também com lubrificação por cárter seco. Este modelo foi o 14º de 34 exemplares produzidos pela marca italiana com a carroçaria Tipo 1962, pintado na cor vermelho Rosso Cina. Estreou-se nos 1000 Km de Nürburgring em 1962, com Mike Parkes e Willy Mairesse a vencerem a sua classe e a terminarem no segundo lugar da classificação geral. Algumas alterações, como a do motor, permitiram à marca competir na edição desse ano das 24 Horas de Le Mans, com uma potência de 390 CV e retoques aerodinâmicos. Essa prova contou com 13 participantes da marca, entre privados e de fábrica, com o 250 GTO a ser um destes últimos. O GTO oficial viria a abandonar à passagem da sexta hora com problemas de sobreaquecimento do motor, atribuídos a uma saída de pista prévia, que ‘atascou’ o carro num escapatória de gravilha.

No final dessa temporada, a Ferrari não viu interesse em manter o 250 GTO com este motor de 4.0 litros em competição sob sua alçada e entregou-o a privados, como Pietro Ferraro, que o adquiriu em novembro de 1962 e passou depois por outras alterações, incluindo o retorno às configurações originais do 250 GTO. Nesse momento, foi equipado com o seu terceiro motor, de 3.0 litros, com o número interno de 670/62E, que permanece naquela unidade até aos dias de hoje.

O GTO participou depois em diversas provas ao longo dos anos, mudando de mãos mais algumas vezes, com a mais recente (pré-leilão) a acontecer em abril de 1985, quando foi adquirido por um colecionador de Ohio, nos EUA, beneficiando depois de uma total renovação pelos especialistas da Shelton Ferrari, da Florida, começando a participar então em concurso de clássicos e de beleza, nos quais recebeu mais distinções pela sua elegância e estado imaculado, nomeadamente, um ‘Best of Show’ no Concurso de Elegância de Amelia Island. Depois de quase quatro décadas em coleção particular, o modelo com o número de chassis 3765 conhece um novo proprietário por 51.7 milhões de dólares.

“Este resultado, alcançado através da colaboração entre a Ferrari, RM Sotheby’s e Sotheby’s, ecoa a nossa procura mútua pela perfeição – espelhando a própria ética que Enzo Ferrari [NDR: fundador da marca de automóveis] incorporou quando desenhou este carro. Ao alcançar os 51.7 milhões de dólares, esta transação adiciona um novo capítulo a um veículo com um legado sem igual”, afirmou Gord Duff, Diretor Global de Leilões da leiloeira.

Fotos cedidas pela RM Sotheby’s (Autoria: Jeremy Cliff/RM Sotheby’s)

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