Marchionne: O obreiro do ressurgimento do império italiano da Fiat

25/07/2018

Polémico, por vezes, mas com uma profunda visão global da indústria automóvel, Sergio Marchionne ficará para sempre ligado ao ressurgimento recente do Grupo Fiat. O italiano, de 66 anos, assumiu as rédeas da gigante marca italiana naquele que foi um dos momentos mais complicados da sua história, quando as nuvens negras da bancarrota pairavam sobre Turim. Hoje, o grupo Fiat Chrysler Automobiles, construído por Marchionne em pouco mais de uma década, é um dos mais fortes da Europa.

Era um cenário grave aquele que a Fiat vivia em 2004, quando Marchionne foi nomeado pela família Agnelli como Administrador-delegado da companhia a 1 de junho. Herdava uma marca automóvel com prejuízos superiores a 6 mil milhões de euros em 2003 e poucas perspetivas de crescimento sustentado. Um ano depois, assumia também o comando da Fiat Auto, lançando-se num caminho que viria a reconstruir um grande grupo automóvel, com ramificações nos Estados Unidos da América (após a aquisição da Chrysler) e com uma posição consolidada no mercado europeu.

Uma das suas ideias mais queridas foi sempre a das alianças, argumentando amiúde que apenas a partilha de componentes e de custos de desenvolvimento entre fabricantes poderiam fazer crescer de forma rentável o negócio numa época em que os constrangimentos financeiros se tornaram mais evidentes. Em 2009, com o mundo a sentir os efeitos da violenta crise económica e financeira, Marchionne alcançou um importante acordo para a aquisição da Chrysler, marca que em 2007 deixara de estar integrada no Grupo Daimler, levando a bom-porto as intensas negociações com os sindicatos americanos e com o governo local.

Com o acordo para se tornar acionista maioritária da Chrysler, nascia um novo gigante automóvel, o Grupo Fiat Chrysler Automobiles (FCA). As sinergias fizeram com que ambas as marcas crescessem nos anos subsequentes, mas Marchionne mantinha a sua convicção de que as sinergias e fusões eram fundamentais para o crescimento do grupo e das suas marcas. Já em 2015, Marchionne chegou a propor uma fusão com a General Motors, com Mary Barra, a CEO da companhia americana, a rejeitar liminarmente a proposta do italiano.

Ideias fortes para liderança forte

Apesar da ideia de grande grupo automóvel, a Fiat sempre se manteve no coração da estratégia global de Marchionne: uma reestruturação profunda nos primeiros anos da sua liderança e um plano de produto mais agressivo que teve o ‘retro’ Fiat 500 como ‘ponta de lança’ (surgiu no mercado em 2007), fizeram regressar a companhia aos lucros.

As vendas do 500 surpreenderam todos os observadores e recolocaram a companhia numa posição de força, o mesmo se aplicando com o Punto e com o Panda, todos modelos que granjearam enorme sucesso, não só no mercado interno, mas também por toda a Europa. Pelo caminho, recuperou a Alfa Romeo, marca de carisma indubitável que estava em posição delicada com uma gama limitada e sem grande poderio de mercado. O plano de produto foi global, com o Giulia a ser o primeiro de uma nova ‘fornada’ para chegar a outros mercados globais, como os EUA e a Ásia, graças a uma nova plataforma e a uma série de modelos que serão lançados ao longo dos próximos meses.

O ressurgimento da Alfa teve algo de fratricida, porém. Outra marca histórica do grupo, a Lancia, perdeu-se quase por inteiro, mantendo-se ‘viva’ apenas em Itália com um modelo único, o Ypsilon. Outro ‘peso pesado’ do mundo automóvel, a Ferrari, tornou-se marca independente da FCA, após um ‘spin off’ que colocou a marca de Maranello em bolsa, sendo também ele o seu presidente (o seu sucessor é Louis Camilleri, antigo CEO da tabaqueira Philip Morris International). Das outras marcas do grupo, a Maserati tem também contado com um percurso de sucesso recente, fruto do lançamento do Levante e do Ghibli, mas Marchionne não descartava outro ‘spin off’ para a companhia do ‘Tridente’.

O agravamento do seu estado de saúde obrigou o Conselho de Administração a uma substituição rápida: para o seu lugar foi nomeado Michael Manley, que recebe como ‘herança’ de Marchionne uma companhia sólida, com défice praticamente nulo e previsões de lucro para 2018. Sobretudo, em todas as marcas, um plano de crescimento e evolução sustentada até ao ano de 2022. O legado de um homem de ideias fortes e de liderança arrojada.

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