A discriminação racial nos Estados Unidos da América (EUA) tem sido uma questão bastante debatida naquele país, sobretudo devido a várias situações de racismo e de abuso policial contra cidadãos afro-americanos, que culminaram em 2020 com os protestos associados ao movimento ‘Black Lives Matter’ (as vidas negras importam). Para chamar a atenção para o assunto, um conjunto de associações criou o automóvel que, de forma irónica, apelida de ideal para os condutores negros, o DWB, acrónimo para ‘Driving While Black’.

A coincidir com o Salão de Detroit, um trabalho conjunto da Courageous Conversation Global Foundation, Goodby Siverstein & Partners e a Critical Mass resultou no DWB, um protótipo ficcional (e apenas virtual) que chama a atenção para os casos de discriminação racial, sobretudo nas operações policiais de trânsito, sendo detalhadas várias funcionalidades que visam tornar as ditas operações mais seguras – mas com um sentido muito apurado de ironia.

Relacionando cada uma das funcionalidades com casos reais em que condutores negros foram vítimas de excessos de força, o Oldsmobile, marca bem conhecida nos Estados Unidos, surge com características únicas, mas que, de acordo com o site oficial, servem para exemplificar a dualidade de critérios na abordagem aos condutores negros.

Entre as tais funcionalidades estão as portas transparentes, para “eliminar a suspeita razoável, o que quer que isso seja”, bem como um volante com apenas a parte superior do aro para que as “mãos estejam sempre à vista”. O porta-luvas foi eliminado, evitando-se assim que o condutor possa debruçar-se para buscar os documentos aí guardados, bem como o porta-bagagens, que também foi suprimido para evitar a necessidade de buscas. Os pneus também são apresentados como elementos sem ar, o mesmo sucedendo com o motor, ausente… “porque não é preciso arriscar”.

“Na América, as pessoas reconhecem largamente que o racismo existe, mas não conseguem reconhecê-lo nas suas vidas e comunidades. Não é por escolha, mas nem sempre conseguem ver a duplicidade de padrões que existe à sua volta”, lê-se no site oficial do DWB. “Foi por isso que construímos este carro. Para ajudar a sublinhar essa duplicidade de padrões que as pessoas negras sentem, durante a interação mais comum com a polícia – as operações de trânsito. De microagressões a homicídios, as operações de trânsito rotineiras são tudo menos rotineiras quando se é negro”.

O objetivo daquele conjunto de entidades, ao criar o DWB, é chamar a atenção para a questão e fazer com que o assunto seja falado: “por isso, enquanto o carro não é real, é a nossa realidade”, lê-se ainda no site.

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