Não é a primeira vez que a Yamaha nos mostra algo muito semelhante a um Transformer. Toda a gama MT parece ir buscar inspiração aos famosos robôs alienígenas, e desta vez contamos com um novo reforço para manter a humanidade em segurança – ou pelo menos aqueles que andam de moto.

Aceitámos o convite da Yamaha para testar a «bizarra» Niken na sua apresentação em Portugal. Veículos com três rodas não são propriamente uma novidade, existem no mercado há vários anos mas são todos sob a forma de scooter como a Tricity da marca, e podem ser conduzidos com carta de automóvel.

Yamaha Niken

Uma das coisas que torna a Niken num “animal” raro no panorama das motos é a forma como o conceito de inclinação em multi-rodas funciona, sendo utilizado pela primeira vez numa moto de produção. Na verdade toda a gente que já conduziu um carro experimentou o mesmo sistema que está presente na Niken. Trata-se de um paralelogramo que utiliza o principio de Ackermann, em que a roda interior vira progressivamente mais do que a exterior para resolver a necessidade das duas rodas precisarem de descrever arcos diferentes numa curva. Por outro lado é necessária a carta de condução da categoria A para a poder conduzir. Estamos perante uma moto com prestações elevadas, já conhecíamos o triclínico com 847cc e 115cv que sempre nos surpreendeu em todos modelos em que está instalado. Na Niken não é diferente, ainda que esteja um pouco mais “domesticado” para uma melhor resposta em baixa rotação, continua a deixar-nos com um sorriso na cara quando passamos as 8000 rotações por minuto.

Mas considerações técnicas à parte, porquê duas rodas na frente? Porque sim. A inovação sempre esteve presente no adn da Yamaha resultando em produtos que chegam frequentemente ao público – mesmo que não sejam um sucesso comercial, como a GTS 1000 sem forquilha na frente. Mas também porque a marca quer que quem ande de moto se divirta com segurança, afinal poucos têm a sorte de terem a habilidade do Valentino Rossi. Circular na estrada numa Niken significa que vamos ser alvo de muitos olhares curiosos, mais ainda se estivermos numa caravana de cinco estranhos veículos que mais parecem robôs vindos do espaço. Os automobilistas aprovam com o polegar, os transeuntes acenam, só os outros motociclistas mostram alguma indiferença.

Yamaha Niken

Ultrapassada a estranheza do contacto visual, é tempo de perceber como se comporta. Parados quase parece estarmos numa moto normal, sendo denunciada sobretudo pela volumetria da parte frontal, e pelo peso (263kg), muito dele também concentrado na frente, a sensação não é muito diferente da de uma moto desportiva de aventura. Em movimento, primeiro estranha-se mas a habituação não tarda, e é em curvas lentas e a velocidade baixa que notamos alguma falta de desembaraço por parte da Niken, revelando alguma resistência às solicitações de mudança de direção. No entanto a segurança da roda extra parece estar logo lá para nos apoiar, e o seu comportamento é muito neutro. Rapidamente estamos a rolar a ritmos mais elevados do que é costume em apresentações, e é assim que damos conta que o nível de confiança garantido pelas duas rodas é real. Normalmente não nos apercebemos como a zona de contacto entre os pneus de uma moto e a estrada é tão pequena, só quando por causa disso nos falta a aderência na roda frente. Durante os quilómetros que fizemos sentimos sempre uma segurança excecional, rolámos até Torres Vedras por estradas com diversos tipos de piso (algumas em mau estado), num percurso definido pelo staff da Yamaha Portugal.

A marca diz ser possível uma experiência semelhante ao descer uma pista de neve em skis ao andar na Niken mas sentimos que o peso está sempre presente. As coisas melhoram ao aumentar a velocidade, e de repente estamos a rodar a um ritmo superior ao esperado sem problema porque a frente aguenta realmente tudo por onde passamos: buracos, empedrado escorregadio, alcatrão em mau estado, nada parece estragar a compostura que as duas rodas de 15 polegadas e a suspensão com quatro pernas proporciona, sobretudo a curvar. O nível de confiança é realmente desconcertante, facilmente estamos a curvar mais do que seria normal numa moto que não conhecemos (a marca diz serem possíveis ângulos de 45 graus).

Esta é uma moto que certamente vai ter tantos adeptos como detratores. O seu look Transformer terá um peso determinante nisso. O desafio é experimentar antes de formar uma opinião. Só o tempo dirá o sucesso da Niken. Independentemente disso a Yamaha merece o reconhecimento por criar uma moto que contribui para o divertimento com segurança dos motociclistas.

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