Covid-19 pode mudar a forma como se desenham automóveis

01/05/2020

O conceito do habitáculo como santuário ganhou relevância com a crise pandémica
Designers acreditam na mudança de paradigma: clientes vão começar a olhar o automóvel de dentro para fora.

 

A crise sanitária provocada pelo novo coronavírus fechou fábricas e obrigou a parar o desenvolvimento de automóveis novos, com consequências já arrasadoras para todos os setores da indústria. E os analistas advertem que as ondas de choque de catástrofe que dizimou o mercado automóvel vão continuar a sentir-se no pós-pandemia, em áreas insuspeitas.

Numa entrevista concedida esta semana aos especialistas da Bloomberg, um grupo de designers explicou que o design automóvel será uma das áreas industriais em que se produzirão mudanças importantes por culpa da Covid-19.

Gorden Wagener, chefe do gabinete de estilo da Daimler, afirmou que “a pandemia vai mudar a nossa perceção de segurança e de luxo no futuro”. De acordo com aquele responsável, os dois conceitos estarão muito mais interligados. “Estes podem ser tempos desafiantes, mas também muito excitantes”, concluiu.

A teoria é corroborada pelo diretor do design da Rolls-Royce, Felix Kilbertus, que acrescentou que “no futuro, mais do que nunca, irá valorizar-se a liberdade de podermos a ir sítios em segurança e nesses automóveis importará, mais do que nunca, o seu interior”. Kilbertus explica que o habitáculo de um automóvel foi sempre olhado como um local seguro, mas defende que a ideia do cockpit como um grande santuário ganhará relevância. “Eu acredito que é um fenómeno que a situação atual irá acelerar”, afirmou.

Para ambos, o setor automóvel pode estar a preparar-se para assistir a uma nova mudança de paradigma, em que a higiene e a sensação de segurança nos habitáculos passam também a ser elementos muitíssimo mais valorizados no momento da aquisição de carro novo.

Ao mesmo tempo que vários construtores já oferecem sistemas avançados de filtragem de ar, a Jaguar Land Rover vem experimentando o uso de luz ultravioleta para impedir a propagação de bactérias e vírus no interior dos seus automóveis. No ano passado, o consórcio observou que a tecnologia da luz ultravioleta poderia ser incorporada no sistema de ar condicionado do carro para neutralizar patógenos nocivos. Solução que pode ser adaptada às novas exigências sanitárias.

Marcas como a Mercedes- Benz estão inclusivamente a desenvolver soluções técnicas que permitem melhorar o ar fora do habitáculo, tecnologia que Wagener não pormenorizou: “Estamos a trabalhar na ideia de que o carro pode realmente retirar partículas nocivas do ar e quase limpar o ar”.