“A integração dos vários modos de transporte é fundamental e hoje em dia praticamente inexistente”

30/11/2023

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Responsáveis da Via Verde, Fidelidade, Deloitte e Brisa discutiram as dificuldades na criação de um ecossistema conectado e as barreiras que ainda é preciso ultrapassar.

O caminho para termos cidades mais inteligentes e melhor mobilidade passa por quebrar “silos”, aumentar a partilha de informação entre as diferentes plataformas e intervenientes, trabalhar mais os dados para tomar decisões e fazer planeamento urbano adequado. As ideias estiveram em cima da mesa, esta quinta-feira, no painel “Como criar um ecossistema conectado? – Oportunidades e ameaças na cidade sem barreiras”, na Mobi Summit.

 

Para Pedro Mourisca, administrador delegado da Via Verde, ainda existem muitos “silos” na mobilidade. “A integração dos vários modos de transporte é fundamental e hoje em dia praticamente inexistente”, lamenta, apontando como exemplo o facto de os diferentes transportes não estarem centralizados num único organismo.

A tecnologia, acredita Pedro Mourisca, é importante para se perceber como podemos integrar o veículo automóvel com o transporte público (criando uma espécie de via verde ao simplificar o uso) e modos suaves e como otimizar as infraestruturas. Ainda assim, acredita, o automóvel próprio deverá “continuar a ter o seu lugar”.

O administrador delegado da Via Verde considera que a tecnologia existente nos carros ajudará a ajustar hábitos. No caso da Via Verde, o caminho é “digitalizar todos os serviços, primeiro fora das autoestradas e depois nas autoestradas”. O identificador que se usa para passar na Via Verde, por exemplo, poderá passar para o carro ou telemóvel. Há quem diga que somos pessoas de hábitos mas, “quando se introduzem serviços que são convenientes para as pessoas, elas adotam-nos”, sublinhou.

Tomás Sérvulo, chefe de Transformação de Motor e Mobilidade da Fidelidade, por seu lado, afiança que existe uma “tendência para menor posse de carro próprio”, e que a autonomia dos veículos e reorganização logística vai exponenciar a “partilha”.

As cidades sofrerão uma transformação quando a mesma procura for satisfeita com menos oferta, o que passará por “mais veículos autónomos e perda de relevância do veículo particular”, que está estacionado grande parte do dia. Isso vai “devolver muitíssimo espaço das cidades às pessoas”, acrescenta.

Os dados já vão ajudando a melhorar a mobilidade, havendo menos acidentes e intensidade de tráfego – o que terá implicações no custo do seguro, ou seja, “o que se cobra vai diminuir à medida que haja menos acidentes”, assegurou Tomás Sérvulo. Para o responsável da Fidelidade, é importante trabalhar “mais e melhor” os dados. “Não basta que existam, é preciso usa-los para tomar decisões”.

Sofia Tenreiro, líder do setor Energy, Resources & Industrials da Deloitte, acredita que as pressões causadas pelo elevado número de habitantes nas cidades e as pressões da sustentabilidade, fazem com que o tema da mobilidade tenha de “acelerar”. Mas a mobilidade como serviço “não tem uma plataforma comum”, passando pelos donos dos carros, das infraestruturas, das plataformas, pela regulação legal, etc..

É preciso haver partilha para permitir uma melhor gestão da cidade. No entender de Sofia Tenreiro, “têm de ser as entidades públicas a garantir que há plataformas comuns e uma regulação que permite essa partilha”, até para garantir a “segurança dos dados e dos veículos”.

A especialista da Deloitte aponta ainda a necessidade de se derrubar outras barreiras, fazendo nomeadamente melhor “planeamento urbano”, para termos cidades inteligentes.

No futuro que Frederico Vaz, diretor de tecnologia A-to-Be da Brisa, imagina haverá todo um “ecossistema de infraestruturas e veículos conectados e a disponibilizar informação”. Essa informação tem de se usada para gerir a forma como as pessoas usam os veículos à sua disposição, numa altura em que os temas de descarbonização e sustentabilidade estão na ordem do dia. E permitirá “otimizar tempo e dar mais qualidade de vida às pessoas”, contribuindo para o bem comum, disse Frederico Vaz.

Segundo a Brisa, um dos grandes desafios que se apresenta é como vai conseguir ajudar as cidades a evitar que haja congestão ou dificuldades de tráfego. Ou seja, como usar a informação das cidades em termos de fluxos de saída para aumentar a segurança e uso das infraestruturas por parte dos utentes.

Outro desafio, o da eletrificação, está no bom caminho, uma vez que na rede da Brisa já é possível encontrar a cada 40 quilómetros postos de carregamento disponíveis.

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