Charles Landry: Rumo a cidades mais saudáveis e com menos carros

29/11/2023

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O curador internacional de Portugal Mobi Summit, Charles Landry, explicou o desenvolvimento de um século de mobilidade baseada no automóvel, “materialmente expansiva, socialmente divisiva e ambientalmente hostil”.

Nos últimos cem anos, as cidades cresceram em torno do carro e expandiram-se de forma extraordinária, mas a forma como as pessoas se movem continua a mudar. Os números conhecidos são impressionantes. Em 1950, havia no mundo 70 milhões de automóveis; atualmente, esse número é superior a 1,5 mil milhões, o que representou um aumento de 20 vezes.

 

Este foi um dos dados mais impressionantes na intervenção de Charles Landry, também curador internacional da Portugal Mobi Summit, autor que popularizou o conceito de cidade criativa. Na sua curta palestra, antes do segundo painel da cimeira de Cascais da Portugal Mobi Summit, Landry procurou explicar a transformação que as cidades sofreram em torno do crescimento deste aparelho de mobilidade, o automóvel, que ainda nos anos 20 era visto como uma espécie de tirano: “Quando havia acidentes, as autoridades achavam que o carro tinha culpa”.

Tudo mudou nas décadas seguintes: os carros conquistaram espaço que antes estava disponível, já que 90% do tempo estão parados e precisam de parques de estacionamento; houve uma verdadeira revolução na forma como as pessoas consomem e compram; as crianças deixaram de ir para a escola a pé; surgiu a necessidade de viajar muitos quilómetros diariamente. Em 1950, disse Landry, havia 25 milhões de turistas internacionais; esse número é agora de 1,4 mil milhões, o que representa um crescimento superior a 50 vezes.

Outro exemplo que provoca perplexidade é o simples pequeno-almoço, no qual deixou de haver produtos locais, mas que pode ser traduzido em comida-quilómetros, indicador que atinge até 50 mil quilómetros, somando-se a distância percorrida por cada produto consumido. Isto foi feito em nome de vantagens e conveniências, mas teve um custo na qualidade de vida. O movimento e a distância provocaram uma alteração “materialmente expansiva, socialmente divisiva e ambientalmente hostil”, resumiu Landry.

Nas últimas décadas surgiram muitas ideias para repensar a forma da mobilidade nas metrópoles contemporâneas e redesenhar as cidades, como por exemplo o conceito da cidade de 15 minutos, que visa simplificar a vida dos cidadãos, fornecendo todos os serviços nessa proximidade.

As novas ideias estão a reposicionar o papel do carro, poderão libertar espaço que tem valor elevado e criar condições para cidades mais saudáveis. A cidade do futuro, acrescentou Charles Landry, terá planeamento urbano a pensar na saúde das pessoas e elevada preocupação com a qualidade de vida.

O que motiva esta mudança? “Sobretudo a urgência e a crise, a pandemia, por exemplo, e o que considero interessante é que depois [dos confinamentos] tanta gente tenha considerado que a antiga normalidade não era positiva, mas um destino exótico”.

Portugal Mobi Summit