Ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, põe o foco em “todos e em cada um de nós” para atingir um novo modelo económico em que nada se desperdiça no uso racional dos recursos.

Um país que foi o primeiro a dizer ao mundo que seria neutro em carbono em 2050 terá sempre de olhar para o que foi feito nas últimas duas décadas para saber que a meta não é inatingível. A rede de abastecimento de água – que de 50% cresceu para 98,9% –, o tratamento de efluentes, que permitiu passar de 65 para 352 bandeiras azuis nas praias, é o caminho já feito que o ministro do Ambiente e da Transição Energética apontou no encerramento da segunda sessão do Portugal Mobi Summit, em Setúbal.
O percurso serve para mostrar que a rota da descarbonização está ao nosso alcance e conta ainda com o trunfo acrescido de “vivermos num território onde há sol, mar e vento em abundância suficiente para o país ser energeticamente independente”, relembrou José Pedro Matos Fernandes. Mas quando se põe o automóvel no centro desta transformação, o desafio ganha uma dimensão muito mais complexa do que construir e alargar infraestruturas de saneamento básico.

O esforço envolverá todos os setores – construtores, vendedores, compradores – e a mudança pode até acelerar com o impulso da tecnologia: “Mas só resultará se houver um compromisso de todos e de cada um de nós para essa necessidade imperiosa de mudar o comportamento.” Este é o ponto onde tudo se consegue ou tudo desaba, havendo um longo trajeto para transformar as cidades até agora construídas para o automóvel ser rei: “Ficamos escandalizados com uma trotineta atirada na via pública, mas achamos normal um carro em cima do passeio.”
É um sintoma da importância do automóvel nos nossos modos de vida. E da necessidade de mudar a relação que ainda se tem perante o transporte individual: “Não temos de ser nós os donos deles nem têm de ser eles movidos a combustão.” Os fabricantes já estão atentos a essa necessidade – diz o ministro –, assumindo a função de não só vender carros, mas também de colocá-los no mercado apenas para prestar um serviço. Ao consumidor cabe agora o papel de, em vez de adquirir um produto, adquirir um serviço: “Acredito que é esse o futuro enquanto modelo de negócio de utilização do automóvel.”

E a possibilidade de ter outros modos de transporte individual também deve seguir esta perspetiva de economia circular: “Porque é que eu, com os meus 85 quilos bem pesados, preciso de um veículo de 900 quilos, quando posso optar por um de 25 quilos?” Esta é a mudança que tem de acontecer não só por força dos mercados, mas também porque os consumidores vão exigir cada vez mais veículos com menos materiais, automóveis com uma pegada carbónica “insuportavelmente menor” e motores com o mínimo de consumo possível: “É aqui que as construtoras estão a dar o exemplo, não só ao se comprometerem com metas de redução de emissões como com um leque alargado de veículos movidos a eletricidade ou a hidrogénio.”

Os obstáculos ainda são muitos e, nos últimos tempos, os sinais não são muito otimistas, avisa o ministro do Ambiente, relembrando que o presidente Trump rompeu o acordo de Paris e que eleição de Bolsonaro no Brasil pode comprometer este equilíbrio: “Diria que a boa notícia são mesmo as manifestações dos jovens e o seu maior compromisso com as questões ambientais.”
A expectativa agora é que estejam dispostos não só a mudar o mundo, mas o seu próprio comportamento. A meta, essa, é chegar a um modelo económico em que não sobra nada no uso racional dos recursos: “Este é o desafio que lanço a mim próprio e este é o desafio que lanço a todos.”

Katia Catulo

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