As derrotas em Singapura e na Rússia deixaram a Mercedes com mão e meia na taça e a Ferrari a lamber as feridas dos seus vários erros. Suzuka é uma pista tradicional e a casa de Maranello quer recuperar as tropas e erguer a cabeça, mas arrisca-se no país do sol nascente a apanhar outra desilusão até porque a RedBull está mais ameaçadora do que era esperado.

Chegamos à 17ª corrida da temporada e estamos perante um “dejá vu”: Sebastian Vettel e a Ferrari tinha a porta aberta para o alemão ganhar o quinto título durante os meses de verão, mas chegou ao Japão com apenas uma fresta por onde não conseguiu entrar. Parece que as energias e a imaginação acabaram-se lá para os lados de Maranello, pois o avanço que o SF71H tinha para o W09EQ, simplesmente, desapareceu! Razões para isso?

Uma delas está na FIA, pois desde Singapura que foram instalados sensores para avaliar a capacidade descarga das baterias do Ferrari e, como por magia, o SF71H deixou de andar muito mais depressa que o Mercedes e o RedBull. Outra razão pode estar no excesso de desenvolvimento da aerodinâmica do carro, prejudicando um equilíbrio notório na primeira parte do campeonato e que desapareceu, levando até o SF71H a ser menos clemente com os pneus.

Esta última razão pode ser preocupante pois a RedBull, apesar do “handicap” que é o motor Renault, mostrou na Rússia um andamento inesperado cortesia de um chassis que está no auge do seu desenvolvimento e que em Suzuka pode dar muitas dores de cabeça à Ferrari e até à Mercedes.

Evidentemente que a vantagem do motor Ferrari e as eternas dificuldades em ultrapassar em Suzuka, não deverão colocar em risco as intenções da equipa italiana de, pelo menos, lutar pela primeira fila da grelha. Mas para isso acontecer, os Ferrari têm de contrariar o favoritismo da Mercedes nesta pista.

Se é verdade que o nível está, agora, muito semelhante, a fluidez do traçado de Suzuka rimam com as qualidades do W09EQ e as quatro vitórias consecutivas provam isso mesmo. E para piorar o cenário para a Ferrari e seus “tifosi”, as temperaturas vão estar amenas em Suzuka e tufão “Kong Rey” vai passar por aquela zona do Japão banhando a pista com muita água. E este ano já se percebeu que com chuva, a Ferrari mete muita água… Portanto, aproxima-se mais um fim de semana muito duro para a Ferrari, onde não pode cometer erros e tem de forçar a Mercedes a cometê-los.

Quanto ao resto do pelotão, muita atenção à Sauber e a Charles Leclerc. O miúdo está apostado em assustar Vettel e vai assinando exibições e manobras de talento raro, empurrando a equipa suiça para patamares onde há muito já não andava. Palavra à Renault e à Haas que, na Rússia, estiveram menos bem. O motor Honda poderá ser uma bela ajuda para que Pierre Gasly e Brendon Hartley possam lutar por um lugar nos pontos. Já a McLaren e a Williams dificilmente deixarão os últimos lugares, arrastando-se até final da temporada de uma forma confrangedora e penosa, particularmente, para quem lembra os anos gloriosos destas duas equipas.

A Pirelli trouxe para o Japão as misturas Média, Macia e Supermacia, a mesma escolha de 2017, mas este ano com as misturas todas mais macias que no ano passado. Poderemos ter algumas surpresas neste particular como sucedeu na Rússia, com o desgaste a surpreender e a obrigar a jogadas táticas que deixaram a nu algumas fragilidades. Sendo um circuito que não tem ressaltos e com corretores benignos, os carros terão, todos, suspensões afinadas para o mais duro, colocando mais um desafio aos pneus, particularmente na famosa curva 130R. Palavra final para a Honda. Numa prova onde não deverão surgir um grande número de novidades técnicas como será o comportamento da Honda em casa?

Lembram como foi o GP do Japão de 2017? Lewis Hamilton começou na “pole position” (com o tempo de 1m27,319s) e dominou as 53 voltas da corrida, tendo apenas um pequeno sobressalto no final quando o Mercedes desenvolveu vibrações que dificultavam a pilotagem do campeão do Mundo em título. Foi por isso que Max Verstappen se aproximou, bastante, e terminou a corrida a 1,211 segundos de Hamilton. O terceiro lugar ficou para o outro RedBull de Daniel Ricciardo, ficando fora do pódio os Ferrari, o de Vettel apoquentado por um problema numa vela defeituosa que o obrigou a abandonar e o de Raikkonen a ficar no quinto lugar, atrás de Valteri Bottas. A volta mais rápida da corrida foi do finlandês da Mercedes com 1m33,144s e Hamilton saiu de Suzuka com 59 pontos de vantagem que não desperdiçou, conquistando o seu quarto título mundial.