24 Horas de Le Mans de 1939: O fim de uma era

08/06/2019

O Bugatti 57C de Jean-Pierre Wimille e Pierre Veyron, na curva de Arnage, em perseguição ao Delage D6-70 de Louis Gérard e Georges Monneret – que dominaria a prova quase até ao final. No entanto, seria a dupla da Bugatti a vencer esta edição das 24 Horas de Le Mans.

Este Bugatti 57C tinha uma carroçaria especial “Tank” em “gota de água” sobre um chassis Type 57 SC de série. Extremamente avançado para a época, iria influenciar as linhas de alguns dos automóveis de Sport do pós-guerra, como por exemplo, o Jaguar XK120C.

De notar que o 57C já dispunha dos novos faróis amarelos, tornados obrigatórios a partir de 1936 para, na eventualidade de uma guerra contra a Alemanha se poderem distinguir as viaturas francesas das do inimigo.

A guerra viria mesmo, dois meses e meio depois desta vitória. Mas antes dessa grande tragédia ainda houve espaço para um drama que mudaria a história da Bugatti.

Isto porque a marca de Molsheim decidiu participar uma vez mais no Grand Prix de La Baule, que se disputava no início de Setembro.

Este 57C vencedor de Le Mans foi reconstruído na fábrica (tinha acabado estas 24 Horas em muito mau estado mecânico) e deveria ter sido entregue ao semi-retirado piloto de fábrica William Groover-Williams, vencedor do primeiro Grande Prémio do Mónaco e múltiplo vencedor do Grande Prémio de La Baule disputado na famosa estância de veraneio da Normandia, onde ele possuía uma casa de férias.

No dia 15 de Agosto de 1939, véspera da fábrica fechar (para as férias obrigatórias desde 1936) Jean Bugatti foi ensaiar este automóvel, acabando por morrer ao tentar evitar um ciclista bêbado.

O 57C ficou dobrado ao meio e seria enterrado nos terrenos da fábrica, em Molsheim, num local que se manteve secreto até hoje. Por sua vez, o Grande Prémio de La Baule seria cancelado com o início da Guerra, no dia 1 de Setembro.

Quanto à dupla do Delage que dominou quase toda a prova, refira-se que Georges Monneret era acima de tudo um motociclista que competiu entre (pasme-se) 1928 e 1966, quando já tinha 58 anos, mas andamento para ficar em 2º das 350 cc na última prova que disputou, em Montlhéry.

Vendedor do GP de França de motociclismo em 1936, Monneret alinhou por quatro vezes nas 24 Horas de Le Mans, em 1938, 1939, 1951 e 1956, conseguindo ficar duas vezes em segundo.

O seu amigo e companheiro Louis Gérard conheceu uma carreira completamente diferente: empresário de slot machines começou a correr em 1937 porque adquiriu (com um grande saco de moedas!) um Delage D6-70 e decidiu estreá-lo nas 24 Horas de Le Mans, aos 38 anos de idade… tendo chegado no 4º posto absoluto. Nos dois anos seguintes ficaria em segundo lugar por duas vezes, com uma quase vitória em 1939.

O mais curioso é que Gérard ainda daria uma volta de exibição com o Delage D6 antes das 24 Horas de Le Mans de 1999. Tinha então 100 anos de idade!

Ricardo Grilo / Jornal dos Clássicos

Imagem colorida por Ricardo Grilo