70mm: American Graffiti (1973)

24/12/2018

American Graffiti é um clássico de George Lucas, transporta-nos para o epicentro da cultura hot rod, uma pequena cidade da Califórnia, no início dos anos 60. Retracta a última noite de Verão de um grupo de finalistas do ensino secundário.

O filme tem a capacidade de mergulhar o espectador numa época perdida, repleta de sinais de néon, Dinerse Rock ‘n’ Roll, uma era na qual o automóvel era uma peça central da cultura e um reflexo da personalidade do proprietário. Estes, circulavam num circuito bem definido, como num desfile coreografado. Percorriam as ruas em marcha lenta, para exibir as últimas modificações, anunciar lutas ou corridas, treinar frases de engate e trocar insultos, durante horas.

Ford, Chevrolet, Dodge e curiosamente um 2CV perdido no meio de tanto aço de Detroit, fazem as delícias de qualquer um que nasceu com uma percentagem de gasolina no sangue. É difícil escolher um favorito, contudo o Deuce Coupe de John Milner (Paul Le Mat) merece ser destacado. Não só pela importância histórica do modelo na cultura hot rod, mas também pelo facto de ser um ponto principal na história.

Estes coupés de cinco janelas de 1932 são bastante procurados pela sua estética, o Hot Rod quintessencial para muitos dos entusiastas, mas acima de tudo facilmente alterável. Este modelo foi dos primeiros a possuir um V8 a um preço acessível e assim despoletou a paixão dos americanos pelos motores V8. Potente e de mecânica simples, formou a base de quase todos os Hot Rods até o Small Block da Chevrolet chegar ao mercado.

Milner é conhecido na zona por ser o mais veloz nas corridas ilegais, ser procurado por adversários das cidades vizinhas era usual. Nesta noite Bob Falfa (Harrison Ford) tenta encontrá-lo com o intuito de o desafiar para uma corrida, ao volante de um Chevrolet de 1955, outro automóvel simbólico na cultura. O qual veio substituir os Ford dos anos 30 como a principal escolha para a base de um hot rod, simboliza o final da era de Milner.

Esta película remete para uma altura da nossa historia em que o automóvel era muito mais que um meio de transporte, era uma expressão pessoal, a posse mais preciosa de um jovem, um bilhete para a liberdade. Quando os passeios pelas ruas da cidade eram uma forma de convívio, um palco onde exibir as suas máquinas. No caso de Curt (Richard Dreyfuss) a oportunidade de se apaixonar pela loura do Thunderbird branco, Toad (Charles Martin Smith), descobrindo que afinal não é tão “totó” como se julga e Milner tenta reverter a efemeridade característica da juventude.

A última noite de liberdade antes das responsabilidades da vida adulta…

António Almeida/Jornal dos Clássicos