Alba: Da estrada para as pistas

08/01/2021

Ficam para memória futura muitas das conversas que tive com António Augusto Martins Pereira, criador do automóvel português Alba.

António Augusto em discurso directo: no dia em que o motor trabalhou, o Albérico e o teu avô Francisco vieram disparados de Lisboa para ver a obra. No primeiro ensaio, fixámos o motor na bancada e adaptámos uma panela da fábrica como volante do motor.

 

Como foi feita a carroçaria do OT? Quem a desenhou? Essa e as outras foram feitas à mão com martelo e encontrador. Eu fiz vários esboços e o José Marques, que era o desenhador, aperfeiçoou e desenhou as linhas.

Porque é que o automóvel foi pintado de amarelo? Não me lembro bem, mas sempre gostei daquela cor. Também pintámos as cadeiras do cinema e os bancos com a mesma cor e outras peças feitas lá em cima na fábrica.

A bateria ficou dentro do habitáculo do lado direito dos pés do pendura, porquê? Por uma questão de espaço e mais fácil acesso. Deu muito jeito quando houve um curto-circuito e o carro teve um princípio de incêndio numa prova com o Chico (Circuito da Boavista).

O automóvel foi praticamente feito à mão na fábrica, em que ano? Sim, o Alba foi feito durante o ano de 1952 à moda antiga. Até veio cá um engenheiro alemão da Bosch de propósito para ver o motor e fazer os distribuidores adequados.

O ganso pintado no OT, que significado tem? Nenhum especial. Um dia ia a passar na fábrica e esse desenho estava em cima de uma secretária. Gostei e pedi para pintar no carro. Acho que foi o Ângelo que desenhou (Ângelo Costa, um dos construtores do motor Alba).

Quando foi a primeira prova do Alba? Em 1952? Sim, em Agosto ou Setembro. Foi em Vila do Conde com o Chico (Francisco Côrte-Real Pereira).

Qual a vitória mais importante do Alba? Foi com o Chico no Porto, com o FAP a falhar por todos os lado. (O Alba ganhou a Taça Cidade do Porto na categoria Sport de pequena cilindrada até 1100cc). A partir daí já se começou a falar no Alba em todo o país, além dos FAP e DM.

Reparei nas fotografias antigas e o carro não tinha a entrada de ar no capot como tem hoje, porquê? O motor tinha alguns problemas e até lhe desenhei um circuito de lubrificação exterior. Antes de ir a Guimarães (Rali de Guimarães de 1955) fizemos a entrada de ar para arrefecer melhor.

Quem pilotou em Guimarães? Eu! E ganhei! Com o motor Alba? Sim. Aí venci na classe e ganhei também à geral no Rali do Vinho do Porto na Régua e no Rali da Mundial em Lisboa. E circuitos? Nunca fiz, quem os fazia era o Côrte-Real Pereira: o da Boavista e o Circuito de Monsanto, mas nunca ganhou (ficou em 5º lugar no circuito de Monsanto).

A sua amizade com o Côrte-Real Pereira era grande? Sim. Ele era daqui (Freguesia da Branca, Albergaria-a-Velha). Era um grande amigo, excelente piloto e mecânico. Era muito activo e estava sempre a inventar. Morreu numa corrida em Angola. Foi um desgosto. Também construiu lá um carro com o Emílio Marta. (O Marta Real com chassis de base Lotus em Y).

Francisco Côrte-Real Pereira faleceu num acidente a 15 de Agosto de 1970 em Sá da Bandeira (Huíla) ao volante do seu Lótus nas “3 Horas da Huila”.

De salientar que António Augusto de Lemos Martins Pereira e Francisco Côrte-Real Pereira foram os principais pilotos da Alba que também foram pilotados por Manuel Alves Barbosa, um grande campeão da motonáutica, com quem falaremos sobre os Alba mais à frente, Noémio Capela, Elísio de Melo, Baltazar Vilarinho, Castro Lima e Manuel Nunes dos Santos. Demos um abraço e ficámos de nos encontrar no Natal em Albergaria.