Automóveis clássicos, antigos ou só velhos?

27/11/2020

Hoje, graças às novas tecnologias, conseguimos com os nossos smartphones ou computadores ver seja o que for em qualquer parte do mundo. Para os aficionados dos automóveis, esta é uma excelente ferramenta de pesquisa de informação e de enriquecer conhecimento.

O simples curioso consegue, rapidamente, ficar a saber tudo sobre as especificações de um qualquer desportivo de linhas clássicas, com cromados a brilhar que passou por si durante um passeio solarengo de Domingo.

É o milagre da Internet e com ele vieram os grupos de discussão, de compra e venda de automóveis, ou apenas de peças que de outra forma não encontraríamos e, subitamente, novas possibilidades surgiram, novos negócios floresceram e muitos aficionados nasceram, mas nem tudo são rosas! Já lá vamos.

É um admirável mundo novo, sobretudo para todos os que foram presenteados pela vida com um automóvel, seja ele herdado, ou adquirido como um pedaço de história. Afinal de contas, os automóveis são isso mesmo, pedaços de história, da nossa história pois, para cada um de nós, aquele automóvel que possa parecer banal aos olhos de muitos, será certamente o orgulho de outros. Para isso é muito importante o respeito entre indivíduos, proprietários, ou simplesmente curiosos.

Se até há bem pouco tempo ter um automóvel clássico estava ao alcance de muito poucos, hoje em dia estará de alguma forma mais acessível, atendendo à oferta. Claro que muitos de vós estarão a pensar, “nem todos os automóveis são clássicos” e pronto, abre-se a caixa de pandora e da discussão mais concorrida da Internet automobilística. O que é um automóvel clássico? E um antigo? E um automóvel de interesse histórico?

Esse é um assunto amplamente discutido e divulgado e não faltam esclarecimentos a estas dúvidas. Facto é que para os mais puristas, um automóvel clássico é todo aquele que pelas suas linhas, normalmente desportivas, roncar inconfundível e rolar distinto se evidencia dos demais. É aquele que ganhou estatuto, fruto do bom envelhecimento, levando-o a valer mais hoje do que quando foi lançado.

Ainda para os puristas, um automóvel clássico genuíno é um factor de distinção, de selecção natural e ao alcance de poucos, como se de uma elite ou irmandade se tratasse. No entanto, a grande moda de ter um automóvel clássico levou a discussão para um novo patamar, que é a dos antigos que querem ser clássicos e a dos velhos que querem ser antigos e é neste grupo de veículos que a discussão reside, maioritariamente.

A verdade é que a quantidade de automóveis disponíveis online para restauro, disparou completamente, ao ponto de assistirmos à inflação desajustada de determinados modelos que ainda circulam nas nossas estradas em melhores ou piores condições. A moda de restaurar o automóvel do pai ou do avô, ou de comprar um modelo igual ao primeiro automóvel e devolvê-lo à vida tornou-se uma espécie de febre (boa) que uniu entusiastas de Norte a Sul de Portugal, ultrapassando fronteiras em muitos casos.

Oficinas menos modernizadas, mas com mão-de-obra especial revitalizaram-se. Existem também casos de aparente conhecimento técnico de restauro em veículos, que no fim se revelam pesadelos para quem os quer restaurar. O ditado é bem antigo “o barato sai caro”.

No entanto, no meio de tanta informação disponível, anúncios publicados, fotos divulgadas, o que mais prolifera é o curioso. Esse tipo ser humano que gosta de automóveis.

O curioso bom, que faz perguntas pertinentes, procura algo concreto e quer saber, normalmente por ter um projecto em mãos ou em vista, ou simplesmente porque gosta de automóveis de outras épocas. Também temos o curioso mau. Habitualmente, trata-se de quem não tem qualquer automóvel, nem vai ter, critica todo e qualquer condutor que coloca uma foto do seu automóvel dos anos 80, que não é considerado clássico, nem antigo e normalmente não acrescenta valor à discussão. Existe ainda o curioso que vê uma carcaça oxidada debaixo de um barracão e coloca fotos para saber se está perante uma barn find.

Esta é a parte má da Internet. A dificuldade em filtrar com rigor todos os que não tem interesse real em desfrutar das imagens, das histórias, dos projectos de restauro e da partilha, inerentes a ter um automóvel mais velho do que nós.

Ter um automóvel clássico, antigo, ou só velho é uma realização pessoal, que implica esforço, sacrifício, resiliência, capacidade de improviso e adaptação. Durante o processo permite conhecer novas pessoas, fazer amigos e entrar em grupos de interesse comum.

Clássico, antigo, ou só velho é o mote perfeito para pormos mãos à obra e devolver a vida a todo e qualquer automóvel que nos diga algo, por ser parte de nós e da nossa história. E a nós, curiosos por automóveis deste mundo, o que se pede é que sejamos dos bons e daqueles que respeitam gostos e interesses, para que tenhamos cada vez mais quatro rodas da nossa história pelas ruas do nosso Portugal.