Quando o cavalo italiano partiu a pata

21/04/2020

Chegado o dia de ir comprar o clássico Ferrari 348TB com que brinquei na infância (desta vez em tamanho real) e levá-lo para casa, telefona-me a meio dessa viagem o meu amigo Carlos que me pergunta: “Já tens o carro? Inaugura hoje o Scuderia Ferrari Club, vai haver jantar! Chegas a tempo?”.

Era informação a mais para um jovem que tinha acabado de realizar um sonho. Alterei a rota de minha casa pela coincidência do sucedido e lá fui ter ao restaurante. Chego ao mesmo tempo que um outro proprietário com quase o dobro da minha idade que me pergunta ainda no parque “então há quanto tempo tem esta máquina?”. Respondo eu “há 2 horas!” ao que ele me questiona com ar surpreendido “E ainda não avariou?”.

Cheguei finalmente a casa e estacionei-o cuidadosamente na minha garagem. Olhei para aquela virtuosa amostra dos anos 80 com uma certa vaidade, pecado mortal, e no dia seguinte chegara finalmente o momento de poder desfrutar de uma tão desejada volta no carro de uma marca que, para muitos, significa um verdadeiro sonho de infância. Não perdi tempo em ligar à minha amiga Madalena (muito bonita e com o hobbie da fotografia) e convidá-la para um almoço na Arrábida na minha “nova” máquina, para lhe tirarmos algumas fotos.

Convite aceite e lá fomos de Lisboa até à fantástica Serra da Arrábida. Dia lindo, fotografias excelentes, algumas aceleradelas para ouvir aquele V8 atmosférico, óptimo almoço, Madalena encantada com tudo até que, no regresso, começo a “perder alguma força na perna direita”, ou seja, já quase não conseguia travar… Com uma certa astúcia lá consegui entrar numa bomba de gasolina a caminho de Lisboa, que estava encerrada para obras, e parar o carro já com o pedal do travão morto.

A Madalena avisou logo que a bomba estava fechada e que não daria para reabastecer. Expliquei-lhe que não precisávamos de mais gasolina e que o regresso iria ser feito de uma forma ainda mais divertida! E lá voltámos na carrinha reboque Isuzu conduzida por um senhor do norte que em cada cinco palavras dois eram palavrões e que assim que chegou disse alto e bom som: “Então ó amigo, o cavalo partiu uma pata?”.

Quando o troquei pelo F355 a Madalena já não o quis ir fotografar.

António Barbosa/Jornal dos Clássicos

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