Mercury XM-800, o reflexo de um futuro brilhante

12/03/2020

Nascido no auge da era atómica, o clássico que em seguida vos apresento, capta o olhar onde quer que se apresente. Foi na década de 50 do século passado que os automóveis passaram de meios de transporte, a arte sobre rodas. Esta década brindou-nos com um estilo muito próprio. Por estes anos, as linhas subtis esmoreceram, dando lugar aos designs mais arrojados e elegantes. Longas linhas caracterizam este clássico, que ainda hoje reflectem classe, num brilho futurístico difícil de não percepcionar.

Apresentado em 1954, no Salão Automóvel de Chicago, o Mercury XM-800 era uma obra de arte inconfundível. O design deste modelo conceptual foi da autoria de John Najjar, projectista oficial das marcas Lincoln e Mercury. Ambas as marcas faziam parte do universo Ford, que regulava assim a oferta bem estratificada de veículos no mercado americano. Apenas para o leitor se situar, a Lincoln era a marca de luxo detida pela Ford, que almejava a hegemonia na venda dos automóveis premium, de topo. Imediatamente abaixo, a Mercury iniciava a entrada no segmento premium, com uma qualidade geral superior à Ford.

Assim sendo, durante longos anos, a Mercury sobressaiu no mercado americano com modelos aclamados pela critica e incorporando nos seus automóveis um pouco do luxo dos grandes Lincoln, rivais da prestigiada Cadillac.

XM é uma designação algo comum, derivada dos vocábulos «eXperimental Mercury», e o número, provavelmente nunca saberemos a que se refere. Bastante inovador para o seu tempo, a literatura descreve este automóvel como um «preview» dos modelos vindouros da Lincoln-Mercury. Um autêntico «Dream car» como era mencionado.

Pormenores distintos como as asas de peixe, nunca antes vistas no universo Ford, fizeram deste modelo um exercício de estilo automóvel. Este e outros pormenores como os faróis sobrepostos e as amplas janelas, foram posteriormente adoptados em modelos, como o Lincoln Première, Mercury Montclair e o emblemático Ford Crown Victoria.

Possivelmente a sua característica mais inovadora era a sua construção ser feita em fibra de carbono. Assente na plataforma Mercury 1954, o XM-800 foi apresentado como um automóvel pensado para produção, estando equipado com um V8 de 5.1 litros capaz de debitar 270 cavalos. Pese embora a quantidade considerável de cavalos disponíveis, o automóvel não possuía uma transmissão funcionante. Deste modo, até ao seu restauro em 2009, o XM nunca se deslocou autonomamente. Por questões estéticas, foi colocada a carcaça da transmissão Ford-O-Matic, que equiparia o modelo, tendo este sido posto em produção. As comodidades deste fantástico clássico são apreciáveis. Accionadas electricamente, tanto a bagageira, como o capot do motor abriam por meio de interruptores localizados no interior do veículo. Alem disto, os bancos tinham regulação eléctrica, bem como os vidros eram accionados por meio de interruptores.

Um verdadeiro luxo, quando falamos de um automóvel com mais 65 anos! O interior refinado, juntamente com uma luminosidade bestial, fazia a viagem neste clássico uma experiência tirada de um filme de ficção. Devido à disposição dos vidros, uma visão de quase 360 graus era garantida. Equipamentos como rádio e direcção assistida aumentavam o desejo por conduzir um automóvel destes. Com os seus dois escapes reais, uma silhueta baixa e esguia, considero que este clássico manteve a sua elegância bem aprimorada até aos dias de hoje. Possivelmente são os cromados que lhe conferem a classe difícil de encontrar nos automóveis de hoje.

O seu status de inovação foi de tal envergadura, que a após concluir a tour de apresentação, o único modelo produzido foi doado à universidade do Michigan para ser estudado pelos alunos de engenharia automóvel. Era expectável que usassem o modelo para inspiração e que compreendessem o futuro da indústria automóvel. O impacto desde clássico não deve ser esquecido, sendo que figurou em diversos filmes de sucesso da época. Embora não tivesse entrado em produção, devido ao lançamento da linhagem Edsel, alguns passos foram tomados no sentido de preparar o mercado para o seu lançamento. Além da sua entrada nos filmes, também uma miniatura do automóvel foi fabricada pela F & F Mold Company, sendo oferecida como brinde nas caixas de cereais «Grape Nuts Flakes».

Em 1954, era assim que o XM-800 nos mostrava o futuro, a elegância e a qualidade. Um automóvel de sonho na altura, que ainda hoje causa paixões. Em 2010 foi arrematado em leilão por 429 mil dólares, como se os anos não lhe tivessem tirado valor. Reapareceu triunfante em 2012 no mesmo lugar onde foi exposto ao mundo, no Salão Automóvel de Chicago.

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