Museu do Caramulo inaugura exposição “Supercarros”

21/08/2019

O Museu do Caramulo vai inaugurar no próximo fim-de-semana a sua maior exposição temporária de 2019, intitulada “Supercarros”, dedicada às criações da “alta-costura” da indústria automóvel das quais sobressaem a espectacularidade das linhas, a sofisticação mecânica e as velocidades alucinantes.

A ser preparada há mais de um ano, a exposição “Supercarros” conta com um verdadeiro alinhamento de luxo, começando por aquele que é considerado o primeiro supercarro do mundo, o Lamborghini P400 SV Miura, passando pelo icónico Ferrari F40 ou pelo Bugatti EB110, automóvel que quebrou o jejum de quase 40 anos da casa de Molsheim. A marca das flechas de prata também se faz representar com dois modelos o Mercedes-Benz SLR e o Mercedes-AMG GT R. A exposição conta ainda com Ford GT, modelo lançado para celebrar os 40 anos do mítico GT40, o McLaren 675 LT MSO, um dos mais exclusivos modelos da marca, o Lamborghini Aventador SV e o mais potente 911 produzido pela Porsche, o GT2 RS.

Uma das estrelas da exposição será com certeza aquele que a Ferrari apelida como o seu mais ambicioso projecto, o LaFerrari, um exclusivo e valioso modelo com 963 CV e uma velocidade máxima de 349 Km/h e do qual existe apenas um exemplar em solo português.

De acordo com a direcção do Museu do Caramulo “esta foi a exposição mais difícil que já montámos até hoje pela dificuldade em reunir um conjunto de automóveis tão raros e valiosos em todos os aspectos. São modelos muito exclusivos, que raramente aparecem, pelo que conseguir trazê-los todos até ao Caramulo, mesmo que por um curto período de tempo, foi um grande desafio.”

A exposição “Supercarros” estará patente no Museu do Caramulo até 1 de Outubro de 2019 e conta com o apoio da Câmara Municipal de Tondela, da Fidelidade, do Jornal dos Clássicos e do Banco BPI.

Supercarros

O que é e o que faz um supercarro? Dirão os mais cépticos que serão sobretudo espampanantes e algo ostensivos, mas para os apreciadores são o nec plus ultra dos automóveis. São a derradeira expressão, tanto estilística com técnica, de uma linguagem muito própria, de uma paixão – ou doença, as opiniões dividem-se – de produtos muito exclusivos, completamente manufacturados e feitos por medida, a pedido e segundo as especificações de quem os adquire.

Impraticáveis, exclusivos e longe de serem perfeitos, os supercarros não só proporcionam emoções raras como também exigem dos proprietários dedicação e compromisso. Podemos dizer que, por si só, os supercarros são uma raça à parte. Mas, como nasceram os supercarros?

Hoje podemos afirmar que o conceito de supercarro nasceu na segunda metade dos anos de 1960, em Itália. Tendo a Lamborghini como a grande percursora de este tipo de automóveis, com o fantástico Miura, não tardou até outras marcas apresentarem produtos similares e concorrentes.

O nome foi dado por LJK Setright, célebre jornalista da revista inglesa Car, que há falta de melhores adjectivos, utilizou o termo numa reportagem precisamente sobre o Lamborghini Miura.

Durante as décadas seguintes para qualificar nesta categoria, os requisitos eram mecânicas sofisticadas, a promessa de velocidades impossíveis de imaginar, o motor em posição central traseira, como que a imitar as categorias mais elevadas do desporto automóvel e linhas com a capacidade de deixar boquiaberto o mais distraído transeunte que tivesse a sorte de encontrar um destes espécimes ao vivo. Uma grande dose de mistério e inacessibilidade eram recomendáveis, como que a contribuírem fortemente para a criação de um certa aura, quase mística, que rodeava estes produtos. Questões de ordem mais mundana como conforto, praticabilidade e fiabilidade não entravam no caderno de encargos dos construtores. O foco era a espectacularidade das linhas e sofisticação das mecânicas. A inacessibilidade era ditada pelo preço, normalmente estratosférico. O importante era surpreender os potenciais clientes e deixá-los sonhar com as promessas das prestações anunciadas e com as linhas e proporções do modelo.

Com o passar dos anos e a crescente sofisticação dos produtos da indústria automóvel, o conceito foi sendo, na sua maioria, progressivamente aburguesado. É certo que a maior parte dos proprietários destes automóveis não abdica de uma certa dose de conforto, que encontra noutros produtos, pelo que os supercarros começaram a incorporar soluções neste sentido. Na maior parte dos casos servem de laboratório para conceitos e soluções que vêm a ser utilizados mais tarde em produtos mais correntes.

Não são de todo consensuais, ainda havendo muita gente que questiona a razão da sua existência. Podemos olhar para os supercarros como criações de alta-costura. É certo que não primam pela descrição, e são mais ou menos espectaculares, mas servem de guia, como influenciadores de opinião, como a prepararem o público para soluções estéticas que se avizinham. Adicionalmente, por se tratar de um sector onde não há pressões de quantidades, dado ser à partida um limitado mercado, há uma maior liberdade estilística e técnica que permite criações mais arrojadas.

E tal como na moda, os supercarros também seguem tendências. A julgar pelo posicionamento de algumas marcas, a exclusividade parece ser o caminho a seguir. Seja em modelos únicos, customização extrema em colaboração com o cliente ou o desenvolvimento de serviços específicos para melhorar a utilização destas máquinas fabulosas.

Actualmente, quase todos os fabricantes já controlam a utilização, já sabem quando, como e onde os automóveis são utilizados. Alguns oferecem inclusive, a possibilidade de o configurar remotamente para uma utilização mais específica, como a McLaren com o seu programa McLaren Special Operations (MSO).

Há apenas dez anos a realidade de hoje seria impensável, o que significa que quando olhamos para o futuro dos supercarros, tudo é possível.

Hélio Valente de Oliveira / Jornal dos Clássicos