UMM, um automóvel para juntar os amigos

04/05/2019

Eu quero um UMM, eu quero um UMM, eu quero tanto um UMM. É impossível não querer um UMM. É brutal! É robusto, é lindo! A chapa quinada de aspecto angulado, as cores simples da época. Tem um ar bruto que impõe respeito. Ainda por cima é português! Se é isto que sente quando vê um UMM, então, não sei porque espera para comprar um… mas atenção, este 4×4 traz de série: chatices em casa e muitos amigos sempre que for dar um passeio.

A história deste automóvel remonta aos anos 60, nas montanhas de França, onde o Sr. Bernard Cournil, mecânico, adaptava os Willys de acordo com o seu gosto e as suas necessidades de trabalho, mas com o objectivo de serem capazes de trabalhar no campo. O trabalho no campo é árduo, duro, de Sol a Sol, sendo por isso necessário um 4×4 indestrutível… e assim nasce o tractor Cournil, um automóvel com um chassi inquebrável e um motor que o fizesse chegar aos terrenos mais inóspitos.

A produção inicial pode-se dizer que foi um sucesso, pois de uma oficina em cerca de 10 anos foram produzidos 1080 veículos, uma média de 100 veículos por ano… é um trabalho de mestre. Nesta época, o Sr. Cournil estava longe de imaginar que estaria a dar início a um movimento de fans tão forte como o chassi que havia criado.

Em 1977, a UMM, União Metalo Mecânica SA inicia a produção de veículos 4×4 através da licença de fabrico de origem francesa, que tendo por base o modelo inicial, iniciou a produção do modelo em território nacional… e já se sabe, que o que se faz cá, enche-nos de orgulho e é sempre melhor do que as coisas provenientes do estrangeiro. Aliás, este será um comentário que irá escutar muitas vezes, é que o UMM é feito cá não é!

Mais tarde, em 1980 inicia-se uma série de remodelações feitas pela marca, que passam pela alteração da carroçaria, bem como as motorizações, inicialmente o 2.5TD e mais tarde o 2.1TD, que foram aumentando de potência e de eficiência. A par destas mudanças, o UMM teve a sua aplicação em praticamente todos os serviços. Bombeiros, Guarda Nacional Republicana, ambulância na Cruz-Vermelha, exército, pick-up, cabine longa, utilizado em passeios, descapotável, autocaravana, Papa móvel… somando provas no Dacar… uma infinidade de utilizações que, ainda se mantêm hoje em dia. Não querendo ser injusto, mas é talvez um dos 4×4 que maior capacidade tem para receber alterações a nível de mecânica, seja a colocação de outros motores, ou outros componentes.

Este 4×4, de certeza que está associado a memórias de infância ou de adolescência de muitos de nós que crescemos na década de 80, sendo que, muitos poderão revivê-las, outros vivê-las… prepare-se, pois quando chegar com este carro a casa… o sofá deve ser confortável, pois a primeira impressão (no fundo é a realidade), é sempre que é um carro velho onde se vai gastar uma fortuna. E é verdade! Recuperar um UMM é um processo simples, mas como qualquer recuperação é dispendioso, mas a sua manutenção, se cuidada, terá uma vida de colocar gasóleo e andar.

Motorizações… bem, o turbo é sem dúvida uma excelente opção, com força e garra para vencer o alcatrão e os obstáculos fora dele, mas se não optar por esse motor, tenha em atenção a motorização 2.3L, que é no fundo um “tractor”… muito lento, mesmo muito lento… com velocidades máximas de 90 Km/h em estrada, e fora dela, devagarinho… vai passando de forma realista a maioria dos obstáculos. Repare-se que não estou a falar de um 4×4 modificado, mas sim a versão mantida original. Como diria o anúncio da época: “UMM… chega sempre”. Quando comprar tenha em atenção se tem ou não direcção assistida e se os travões são de disco, pois isso tem muita influência na sua condução que, prepare-se, de confortável vai ter muito pouco… mas de diversão vai ter muito muito. Se optar pela versão Cournil, então é mesmo uma viagem no tempo. O UMM pouco mais é que chapa e mecânica, um carro simples e honesto, por isso, não espere grandes luxos.

Onde entra a parte dos amigos… sempre que forem fazer um passeio! Se por um acaso tiverem a versão de bancos corridos atrás, então entram mais amigos, onde oficialmente cabem sete mais o condutor… e começa a diversão! Saltos, subidas, descidas, obstáculos que dentro do veículo ganham uma dimensão maior e a oportunidade de visitarem locais únicos onde a viagem é uma aventura, sem qualquer ajuda electrónica, apenas o barulhento motor que o ajudara a silenciar possíveis reclamações. Com um pouco de sorte, se forem muitos, podem sempre contribuir para uma bela da patuscada algures no percurso.

Quer mais aventura, caso tenha a versão de bancos corridos atrás, e não seja uma pessoa com 2m de altura, é colocar um estrado improvisado atrás e um colchão, provisões e rapidamente pode correr a Costa Vicentina sem se ter de preocupar onde dormir e os vários locais por onde passar. Desvantagem dos bancos corridos, é se necessitar de colocar uma cadeirinha para a criança, esta terá de vir no banco da frente ou então, optar pela versão com os bancos noutra disposição, sendo que, com um pouco de sorte, a sua versão é descapotável, então, é retirar a capota e viver as praias de outra perspectiva. Como vê, tudo coisas que fazer sozinho seria um verdadeiro aborrecimento.

Se este é o seu pensamento para o seu clássico, então gostaria muito de vos dizer que hoje, têm disponível o novo modelo UMM, que foi desenvolvido em protótipo em meados de 1991, inicialmente denominado A4, mas, infelizmente, foi abandonado, limitando-se ao protótipo existente, sendo possível vê-lo em muitos dos encontros do UMM. Assim sendo, ou é um dos felizes sortudos que adquiriu um dos cerca de 7778 modelos que foram vendidos em Portugal e manteve-o consigo, ou terá de procurar muito bem um destes para poder juntar os seus amigos em torno de um passeio seguido de um petisco. Só para terminar… as zangas em casa, depois com o tempo, costumam passar…

José Sebastião / Jornal dos Clássicos

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