A ultraconectividade será o futuro da mobilidade, antevê Critical TechWorks

25/08/2020

A Critical TechWorks trabalha com a BMW com o intuito de construir tecnologias que impulsionem a mobilidade do futuro.

A Critical TechWorks é uma “joint venture” estabelecida em 2018, sendo resultado de uma parceria entre o Grupo BMW e a Critical Software.

Em declarações exclusivas ao Watts On, o CTO (Chief Technology Officer) da tecnológica portuguesa levantou a ponta do véu sobre alguns dos desenvolvimentos em que a Critical TechWorks está empenhada e que, em breve, poderão chegar aos veículos que circulam nas estradas.

Na conversa com o Watts On com o apoio da agência The Square, João Esteves antevê ainda o modo como poderá a mobilidade desenvolver-se no futuro, atendendo aos tempos de pandemia.

Critical TechWorks no Porto

A mobilidade é um fator extremamente relevante para a vida de qualquer cidadão, seja na deslocação diária entre casa e o local de trabalho ou em tempos de lazer. Nesse contexto, a visão da Critical TechWorks acerca da mobilidade do futuro passa pela “redução do atrito causado pelas eventuais dificuldades que os cidadãos possam encontrar nas suas jornadas”.

Constante ligação entre veículo e dispositivos do condutor

João Esteves pormenoriza: “Tendo em consideração todas as variáveis que podem dificultar a mobilidade, acreditamos que a ultraconectividade – ou, por outras palavras, a constante ligação – entre o veículo e os dispositivos do condutor, seja o futuro da mobilidade”.

As soluções desenvolvidas pela Critical TechWorks “têm sido para reduzir este atrito. Isto é especialmente relevante numa altura em que o Grupo BMW está a apostar na mobilidade sustentável, tanto com veículos híbridos, como com veículos totalmente elétricos, que, pela sua natureza, podem apresentar dificuldades acrescidas à mobilidade, devido, por exemplo, à necessidade de carregamento mais moroso que um simples posto de abastecimento de combustível fóssil”, afirma o CTO da empresa tecnológica.

    • O carro a adaptar-se ao condutor e não o contrário

      Através dos suportes aplicacionais que a Critical TechWorks tem concebido – que fazem a integração entre os smartphones dos condutores e os seus veículos – é possível, por um lado, ter acesso constante ao “status” do carro, como perceber em que estado se encontra a bateria, assim como facilitar a navegação e planear atempadamente as rotas. “Por outro lado, temos também desenvolvido um sistema de preferências, em que acreditamos que crie maior valor junto dos condutores que partilham o carro. Através deste sistema, é possível definir características como a temperatura, modo de condução, o nível do banco e até a ‘playlist’ – tudo para que não sejam precisos ajustes e para que seja o carro a adaptar-se ao condutor e não o contrário”, adianta João Esteves.

Facilitar carregamento de elétricos

O responsável tecnológico da Critical TechWorks declara que a empresa com escritórios em Lisboa e Porto tem trabalhado noutros projetos que pretendem facilitar o carregamento de veículos de ligar à corrente, elétricos ou Plug-in. “Falo, por exemplo, do ChargeNow, uma solução especialmente facilitadora para as empresas que têm carregadores para os colaboradores abastecerem os próprios veículos de forma eficiente, sem gerarem sobrecarregamentos na rede elétrica. Refiram-se, ainda, projetos como o Android Auto e o Carplay da Apple, que têm sido desenvolvidos em constante comunicação com as principais fabricantes destes sistemas operativos. Ainda que não facilitem diretamente a mobilidade, fazendo parte da área de entretenimento, acreditamos que, mais uma vez, sejam soluções que diminuem o atrito entre o principal gadget dos utilizadores – o smartphone – e o veículo”, afirma João Esteves.

Relativamente a exemplos de projetos ou soluções que, em breve, poderão chegar aos modelos do Grupo BMW, João Esteves destaca a nova versão do Android Auto, acabada de lançar, e que “já conta com integração sem fios e com ligação direta aos ecrãs do carro. Vão também ser lançadas novas versões dos assistentes inteligentes pessoais (Intelligent Personal Assistant, em inglês), que estão, cada vez mais, desenhados para facilitarem a condução e ajudarem os utilizadores com as várias tarefas que já podem ser executadas enquanto estão a conduzir, como, por exemplo, participar reuniões através do Skype ou do Microsoft Teams”.

Cada vez mais soluções para os bancos de trás

BMW Concept i4

No que diz respeito ao infotainment ou infoentretenimento, o CTO da firma portuguesa adianta que teremos cada vez mais soluções para os bancos de trás dos carros, especialmente nos modelos topo de gama. João Esteves diz que “teremos também, em breve, novidades a partilhar sobre a tecnologia que temos desenvolvido para o novo BMW i4”, embora tenha optado por não acrescentar mais dados.

João Esteves afirma que a situação de pandemia não mudou a forma como a Critical TechWorks desenvolve tecnologia para os veículos do Grupo BMW e não despertou o desenvolvimento de nenhuma solução em específico: “As grandes linhas, como a mobilidade elétrica, já estavam em curso antes da pandemia e continuamos com forte investimento nessas frentes”.

Maior necessidade de nos transportarmos em veículos pessoais

Apesar de não ter criado nenhuma solução em específico para os veículos do Grupo BMW para colmatar os desafios derivados da pandemia, a Critical TechWorks desenvolveu uma aplicação interna de gestão dos seus dois escritórios (Porto e Lisboa), a Wally App. Essa aplicação permite que os colaboradores da empresa reservem o seu lugar no espaço de trabalho e verem qual a percentagem de ocupação do seu escritório, de forma a que consigam planear as suas idas de forma segura.

João Esteves salienta, todavia, que, na perspetiva da Critical TechWorks e olhando para a fase pós-confinamento, “vai haver uma maior necessidade de nos transportarmos em veículos pessoais por nos fazerem sentir mais seguros e, com isto em mente, acreditamos que algumas das aplicações já existentes, como é o caso das soluções de planeamento de rotas, podem ajudar os condutores, especialmente os que anteriormente optavam pelos transportes públicos para se deslocarem para os locais de trabalho”.

“O transporte particular tem ganho outra expressão nesta altura, visto que, face aos transportes coletivos, reduzem substancialmente o contacto com outras pessoas e aumentam a segurança individual. Não só falamos de carros, como também de motos, bicicletas e trotinetes, por exemplo. Neste novo ambiente, os automóveis ganham relevância nas deslocações, mas vão ser utilizados menos vezes, visto que a situação de pandemia trouxe também uma nova realidade no mundo do trabalho: o início da era alargada do trabalho distribuído, o que pressupõe uma diminuição da deslocação de pessoas”, salienta João Esteves.

Questionado pelo Watts On sobre como será possível conciliar a necessidade de, por um lado, se garantir uma mobilidade sustentável com, por outro lado, um eventual ímpeto dos cidadãos de abdicarem de usar os transportes coletivos, para salvaguardarem a sua saúde, João Esteves reconhece que nenhuma das formas possíveis de resolver é simples e “muito menos, imediata”.

► A tecnologia pode servir para ordenar o modo como as pessoas se movimentam nas zonas urbanas?
“Quando falamos de mobilidade, a tecnologia pode sempre ajudar, mas nunca é a solução absoluta. A título de exemplo, poderia ser criada uma aplicação integrada onde pudéssemos ter acesso a todos os métodos de transporte disponíveis perto de nós e que nos desse acesso a ferramentas de planeamento de rotas. Através de informação recolhida, poderia ser apresentada, em tempo real, a lotação dos vários transportes, para que os utilizadores pudessem optar pela que melhor se adequasse. No entanto, se uma ou várias frentes não apresentasse oferta suficiente, a solução de pouco ou nada serviria para o efeito. Atualmente, não estamos a trabalhar em nenhuma solução que tenha em vista esta questão”, refere João Esteves.

O lugar das bicicletas e trotinetes

O CTO da tecnológica avança com a sua visão: “No que diz respeito a percursos mais longos, como os que são comummente feitos via comboio, seria importante termos uma adoção mais alargada de veículos elétricos ou híbridos. Por outro lado, para jornadas mais curtas, como as feitas, muitas vezes, de autocarro ou de metro, seria importante que as pessoas utilizassem com mais regularidade as bicicletas e trotinetes. Acredito, no entanto, que no curto prazo, a solução passe por as cidades reforçarem os transportes públicos, fazendo com que autocarros, metros e comboios circulem com maior frequência”.

Pontos de carregamento elétrico em estacionamentos

João Esteves advoga ainda como importante o aumento da “dotação de pontos de carregamento elétrico nos parques de estacionamento e uma gestão integrada desses meios para minimizar picos na rede elétrica. Idealmente, a resolução deste problema passaria por uma mistura entre a oferta de transportes públicos, privados, preferencialmente elétricos ou híbridos, e de veículos ditos da economia partilhada, como bicicletas e trotinetes”.

O responsável da Critical TechWorks diz que “mais do que dos governos centrais, estou confiante de que este tipo de iniciativas tem de partir dos gestores das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, que conhecem as suas cidades e as necessidades dos seus habitantes”.