Carapaça de caranguejo usada para combater “marés negras”

23/02/2019

Uma equipa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra desenvolveu um conjunto de géis promissores com boas propriedades de limpeza de petróleo. Baseiam-se em quitosano (obtido da carapaça de crustáceos) e pectina (obtida da casca de algumas frutas).

Uma equipa do Centro de Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) desenvolveu e testou um conjunto de géis com elevada capacidade de limpar ambientes contaminados com hidrocarbonetos de petróleo, caso das “marés negras”.

O projeto, focado no desenvolvimento de uma solução inovadora e de baixo custo para recuperar ambientes contaminados com compostos (hidrocarbonetos) provenientes do petróleo, foi conduzido pelo investigador Cesar Cavalcante Filho.

A investigação decorreu no âmbito de uma tese de doutoramento em química, no ramo de especialização em química macromolecular e supervisionada por Artur Valente, professor do Departamento de Química da Universidade de Coimbra.

O investigador explica que optou por desenvolver um sistema polimérico constituído por géis porque “são sistemas de baixo custo, baseados em constituintes naturais, entre os quais quitosano (obtido da carapaça de crustáceos, como caranguejo e lagosta) e pectina (obtida da casca de algumas frutas). São géis promissores, desenvolvidos pela primeira vez neste trabalho e preparados através de metodologias simples”.

Solução inovadora de baixo custo

Sabendo-se que os hidrocarbonetos de petróleo podem ter efeitos adversos na saúde humana e afetam o ecossistema, a equipa de investigação procurou “uma solução inovadora, de baixo custo e alternativa para os métodos atualmente utilizados na recuperação de ambientes contaminados com compostos derivados do petróleo. Pretende-se a remoção eficaz de hidrocarbonetos do ambiente, quando ocorrem derrames de petróleo”, conta o investigador.

Os derrames de petróleo podem suceder frequentemente como resultado de erros humanos, atos deliberados, como vandalismo, ou na sequência de desastres naturais, como terramotos ou furacões.

Da bateria de testes realizados em amostras que mimetizam soluções reais baseadas em petróleo, “os resultados obtidos são promissores e indicativos para a aplicação destes géis no meio ambiente. Os géis apresentaram elevada capacidade de remoção dos hidrocarbonetos de petróleo”, considera Cesar Cavalcante Filho, sublinhando, no entanto, a necessidade de realizar “mais estudos para que estes materiais possam ser utilizados em condições ambientais complexas”.

Outras aplicações potenciais

A investigação foi financiada pela agência brasileira CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), através do Programa Ciência sem Fronteiras, e pelo Centro de Química da Universidade de Coimbra.

O grupo de investigação da Universidade de Coimbra está também a estudar o potencial dos géis produzidos neste trabalho “para a remoção de outros poluentes, que não os hidrocarbonetos aromáticos, demonstrando assim outras potenciais aplicações destes materiais”.

“Os resultados alcançados permitem prever as potencialidades dos géis sintetizados em aplicações ambientais reais, mas ainda há muito trabalho a fazer para que um produto com base nesta solução chegue ao mercado”, reforça.

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