A poluição dos novos veículos a gasóleo atinge níveis que são mil vezes superiores aos valores normais, de acordo com testes realizados em dois dos veículos mais vendidos na Europa. Esta é a conclusão de um estudo feito pela Federação Europeia dos Transportes e Ambiente (T&E) e que em Portugal foi dado a conhecer pela associação Zero.
Segundo a T&E, aquando da limpeza/regeneração dos filtros de partículas dos veículos atingem-se picos de emissão que são particularmente graves para o coração. “Estas situações podem verificar-se em áreas urbanas a cada 15 km e são efetivamente ignoradas pelos testes oficiais de emissões”, denunciam os ecologistas que enfatizam que, de uma forma geral, as partículas inaláveis podem aumentar significativamente o risco de doenças cardiorrespiratórias.
A Zero destaca que três em cada quatro habitantes das cidades europeias estão expostos a níveis perigosos de partículas, um poluente relacionado com o risco de cancro e cuja exposição crónica afeta o coração e os pulmões.
Contas feitas pela Federação Europeia dos Transportes e Ambiente, mais de 45 milhões de veículos contêm estes filtros de partículas na Europa, o que representa um total de 1,3 mil milhões de limpezas (“regenerações”) por ano. Em Portugal, os cerca de 775 mil veículos a gasóleo equipados com filtros de partículas efetuarão, por estimativa, 23 milhões de limpezas por ano, diz a Zero.
Apelo às autoridades
A T&E, que encomendou os testes ao laboratório independente Ricardo (que aqui pode ser acedido), afirma que os legisladores europeus e nacionais devem aceitar definitivamente que os veículos a gasóleo ainda são altamente poluentes.O apelo da T&E é o de que os legisladores devem tomar medidas urgentes, como apertar os limites de emissão, bem como tornar mais rigorosos os testes de emissões.
O estudo de 57 páginas dá pelo nome de “New Diesels, New problems” e pode consultá-lo na sua versão original, em inglês, clicando aqui.
Para estas conclusões, foram usadas versões Diesel de dois dos modelos automóveis mais vendidos na Europa, o Nissan Qashqai (com o motor 1.5 dCi com 115 cv e caixa manual de seis) e o Opel Astra (com o motor 1.6 D com 110 cv e caixa manual de seis), ambos modelos com homologação Euro 6d-temp.
Segundo informa a Zero, o Nissan Qashqai e o Opel Astra que funcionaram como “cobaias” enquanto segundo e quarto modelos mais vendidos no mercado europeu nos seus segmentos, respetivamente, apresentaram valores entre 32% e 115% acima do limite legal de partículas, quando efetuavam as limpezas do filtro de partículas em testes independentes.
Falha ao nível da legislação
Partículas ultrafinas não são medidas
Tomando os casos dos veículos analisados, as emissões totais de partículas aumentaram ainda entre 11 e 184%, quando as partículas ultrafinas (que não estão regulamentadas) foram medidas em laboratório, sublinham os ecologistas.
“A nova Comissão Europeia deve exigir e dar mais poderes para que as autoridades nacionais de homologação, no caso de Portugal o IMT – Instituto de Mobilidade e dos Transportes, fiscalizem e penalizem os fabricantes que continuam a vender veículos a gasóleo altamente poluentes, como faz a Agência de Proteção Ambiental dos EUA”, consideram os responsáveis da associação Zero.
“Estas partículas ultrafinas não são medidas em testes oficiais, mas são consideradas as mais nocivas para a saúde humana, pois penetram profundamente no organismo e estão associadas com o risco de cancro”, diz a Zero.
Mediante essa constatação, os ambientalistas entendem que o próximo regulamento europeu que definir os limites de emissão Euro “deve acabar com estas falhas e estabelecer limites para todos os poluentes”, inclusive para as partículas ultrafinas, dada a ameaça que cientificamente representam e que é ignorada pelos testes oficiais.
“O OBJETIVO É QUE NAS ESTRADAS EUROPEIAS CIRCULEM APENAS VEÍCULOS ZERO EMISSÕES” DEFENDEM OS ECOLOGISTAS.
“Não há dúvidas que os filtros de partículas são um elemento fundamental e proporcionam uma enorme redução da poluição dos veículos a gasóleo, mas fica claro que a legislação tem problemas de aplicação e que as emissões de partículas, nomeadamente de partículas finas e ultrafinas são ainda significativas, pelo que só a retirada progressiva dos veículos a gasóleo permitirá resolver os problemas de poluição por eles causados”, refere a associação Zero.