O faro de Henrik Fisker para criar uma marca rival da Tesla

17/08/2020

Dentro de cinco anos, a Fisker poderá tornar-se na nova Tesla. Os acionistas da empresa estão a trabalhar num plano de investimento (que passa pela entrada em Bolsa, à semelhança da Tesla) e uma estratégia de produto ambiciosa, mediante a utilização da plataforma modular da VW, a MEB, solução em estudo.

Fisker Automotive vs. Fisker Inc.: quais as diferenças?

A Fisker de que se fala agora não tem nada a ver com a Fisker Automotive. A Fisker Automotive surgiu em 2008, tendo ficado conhecida pelo híbrido plug-in Fisker Karma, cuja produção foi suspensa em novembro de 2012 devido à insolvência do seu fornecedor de baterias, a A123. Em agosto de 2012 o Departamento de Energia dos Estados Unidos congelou a linha de crédito da Fisker.

Fisker Karma PHEV

Em 2014, a fábrica da Fisker Automotive, em Delaware, foi comprada pelo conglomerado chinês Wanxiang Group.

Henrik Fisker, fundador da Fisker Automotive, garantiu os direitos da marca Fisker, tendo lançado uma nova empresa, a Fisker Inc., em 2016, mantendo o logótipo.

O Grupo Wanxiang rebatizou, entretanto, a sua empresa para Karma Automotive, cujo emblema é este aqui:

Logótipo de Karma Automotive

A entrada em Bolsa de Valores far-se-á através da aprovação de um processo de fusão com a Spartan Energy Acquisition, sendo estruturado pelo fundo de capitais Apollo Global Management.

A conjugação destes elementos permitirá que, até meados da década, o construtor apresente uma gama de quatro veículos elétricos.

Isto é tanto mais de destacar, na medida em que o primeiro veículo da empresa, o SUV elétrico Fisker Ocean só deve chegar ao mercado dentro de três anos (fabrico previsto para a reta final de 2022 e entrega a clientes em 2023).

Assim, caso se concretizem os planos e as previsões da marca norte-americana, a Fisker terá por volta de 2025 um SUV, um sedan desportivo (baseado no concept EMotion), um crossover de design desportivo e uma pickup elétrica que promete visar a Tesla Cybertruck.

A longo prazo, o emblema fala em sete modelos.

Naturalmente que tudo isto são estimativas que podem sempre redundar em nada. Porém, se tudo de desenrolar de acordo com os planos traçados pelos responsáveis do emblema americano, a Fisker – que nasceu em 2016 – pode tornar-se numa “segunda Tesla”, mas com a possibilidade de ter uma espécie de “fermento rápido”, pois poderia conseguir aproximar-se ao emblema liderado por Elon Musk, em menos tempo do que a Tesla precisou.

“Efeito Tesla” a ajudar

A própria Fisker pode beneficiar do trajeto precursor feito pela Tesla e do estatuto alcançado pela empresa de Musk.

Depois de, durante muitos anos, inúmeros especialistas, terem, insistentemente, duvidado da capacidade da Tesla se afirmar no mercado (baseado em anos a fio “no vermelho”), o facto é que o emblema de Musk deu o salto, logrando agora somar aos seus créditos automóveis, a credibilidade e robustez financeira que vinha faltando.
Fisker Emotion EV, um coupé elétrico apresentado ainda como um protótipo com 644 km de autonomia. Pretender concorrer com o Tesla Model S.

A Tesla vive, atualmente, um momento alto com a sua avaliação calculada em 300 mil milhões de dólares (cerca de 254 mil milhões de euros) e quatro trimestres consecutivos de lucro que a colocam elegível para integrar o S&P 500, o índice das maiores (em termos de valor) empresas americanas cotadas em bolsa (NYSE e NASDAQ).

Assim, o facto de a Fisker ter, em 2019, reportado prejuízos de 10,4 milhões de dólares (cerca de 8,8 milhões de euros) pode nem ser obstáculo à afirmação da empresa, sendo antes um sinal aos investidores de que, a médio prazo, a curva da capitalização vai inverter-se e de que o investimento num novo construtor de viaturas elétricas irá valer a pena.

Preços competitivos? Cortar nos intermediários

Um dos trunfos do Fisker Ocean é o seu preço: o SUV poderá vir a custar, nos EUA, à volta de 29.900 dólares, algo como 25.400 euros. Para se comparar, o modelo de entrada da Tesla, o Model 3, arranca nos 35 mil dólares, nos EUA.

À agência Reuters, Geoffrey Strong, CEO da Spartan Energy Acquisition, explica que o segredo para conseguir este tipo de preços competitivos está no facto da marca ter cortado nos intermediários.

Toda a interação entre a marca e o cliente (incluindo a escolha das especificações do modelo a adquirir e a própria conclusão do processo de compra e marcação de serviços de manutenção) acontece através de uma App.

“Entregamos da fábrica ao cliente diretamente; não existe ninguém entre a Fisker e o seu cliente”, diz Geoffrey Strong.

O período de encomendas do Ocean prossegue e para aliciar mais os interessados, a Fisker introduziu um modelo de leasing sem prazo em que o cliente poderá devolver o SUV um mês depois de usá-lo ou ficar com ele, no limite, para sempre.

Segundo a firma, a produção do Fisker Ocean está totalmente vendida para 2022 com base em 7062 reservas (depósitos) de clientes, um número que supera as 5000 reservas que Henrik Fisker tinha traçado atingir no final de julho deste ano.

O SUV recolheu ainda 30.277 indicações de interesse de potenciais clientes, o que leva a empresa a falar de uma taxa de conversão de interesse para reserva de 23%.

Henrik Fisker

Outro ponto que a Fisker pretende que se torne diferenciador diz respeito ao modo como a empresa se estruturá. Henrik Fisker já fez saber que a companhia vai concentrar-se no projeto, design, promoção e venda dos modelos, entregando a outros o processo de fabrico.

Em entrevista ao Business Insider, Henrik Fisker diz mesmo: “Seria estúpido para qualquer startup de elétricos criar uma fábrica totalmente nova”.

Só o tempo agora dirá se Henrik Fisker, que tem já o seu nome ligado ao design de ícones como o BMW Z8, Aston Martin DB9 e Aston Martin V8 Vantage, conseguirá tornar a nova Fisker numa verdadeira arqui-rival da Tesla.

Se tal acontecer e se levarmos em linha de conta que Elon Musk é considerado um visionário, será justo, igualmente, considerar que Fisker, o empresário nascido na Dinamarca e com nacionalidade americana, tem também faro para este negócio do século XXI, o da mobilidade elétrica “premium”.