“Temos de compreender o comportamento humano para tornar condução autónoma segura”

04/05/2021

Digitalização, condução autónoma e Realidade Virtual – três áreas incontornáveis dos atuais e, especialmente, dos futuros veículos.

Para termos uma perspetiva melhor sobre estas tendências e o que podemos esperar dos automóveis que estão a ser desenvolvidos nos gabinetes de engenharia, o Watts On publica um conjunto de três curtas entrevistas com diferentes responsáveis da Volvo ligados à conceção e desenvolvimento dos novos modelos da marca sueca.

As três entrevistas serão publicadas durante esta semana.

Cada conversa que mantivemos aborda um tema diferente: veículos autónomos; Realidade Virtual; e experiência de utilizador (User eXperience – UX).

Nesta primeira semana, destacamos os veículos autónomos, numa troca de ideias que mantivemos com Alexander Eriksson, Senior Design Engineer, especializado nos fatores humanos da condução autónoma.

condução autónoma
Alexander Eriksson, Engenheiro de design sénior, da divisão de fatores humanos de condução autónoma da Volvo

Watts On (W): Ao nível dos veículos autónomos, o desafio para os fabricantes de automóveis é criar automóveis que interajam com os passageiros numa perspetiva humana. O que pressupõe isto?
Alexander Eriksson (AE): Quando nos referimos à conceção de veículos autónomos centrados segundo a perspetiva e interação humana estamos a referir-nos a adaptar o veículo à medida da experiência do condutor. É termos a certeza de que o comportamento do veículo é o de proporcionar um sentimento que inspire confiança junto do condutor, de uma forma em que o tipo de informação que o automobilista precisa a cada instante é-lhe fornecida no momento exato em que ele necessita. Tem muito que ver com o modo como usamos a Inteligência Artificial e os dados (Big Data) para que o condutor tenha a certeza de que a experiência de guiar um automóvel autónomo é tão harmoniosa quanto possível. E que, dessa forma, o condutor possa, com tranquilidade, fazer uso do tempo numa viatura sem supervisão humana.

W: No ano passado, o CEO da Tesla, Elon Musk, desvalorizou o LIDAR. Do ponto de vista da Volvo, quais são as melhores e mais precisas tecnologias de sensores?
AE: Relativamente aos sensores, utilizamos todo o tipo de sensores e tecnologias disponíveis. Baseado naquilo que consideramos mais apropriado, assim escolhemos usar e incluir nos nossos sistemas e modelos. Claro que isso inclui a opção LIDAR.

“EM CIMA DOS STANDARDS EXISTENTES DE CONDUÇÃO AUTÓNOMA, TEREMOS OS NOSSOS PRÓPRIOS PROTOCOLOS PARA GARANTISMOS A NECESSÁRIA SEGURANÇA”

W: Todos os fornecedores OEM (Original Equipment Manufacturer) e de tecnologia estão a trabalhar em veículos autónomos. Podemos esperar alguma padronização a nível internacional?
AE: Relativamente aos padrões ISO decorrem trabalhos para tentar encontrar um conjunto mínimo de requisitos que terão de ser preenchidos para se poder lançar um veículo desses. Temos de ter a certeza de que nós, enquanto empresa, entregamos um produto seguro, de acordo com os nossos próprios padrões. Portanto, em cima dos standards existentes, teremos os nossos próprios protocolos para estarmos confiantes do que viermos a colocar no mercado garante a necessária segurança.

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W: Quais são os principais problemas para uma introdução rápida de automóveis totalmente autónomos?
AE: A Volvo Cars acredita que a tecnologia de condução autónoma oferece tremendos benefícios potenciais em termos de segurança no trânsito quando todos os veículos forem autónomos. A introdução desta tecnologia deve, obviamente, ser feita de forma segura. É por isso que é fundamental compreender o comportamento humano para tornar a tecnologia de condução autónoma o mais segura possível.

condução autónomaW: Nos anos 80, a série de TV americana “Knight Rider (“O Justiceiro” em Portugal) mostrou um veículo avançado, com Inteligência Artificial e autoconsciente. Esse veículo tinha a capacidade de falar de forma inteligente com o seu condutor. Entende que, no futuro, os carros autónomos também poderão ter esse tipo de flexibilidade de fala? Hoje em dia, temos Alexa, Siri ou Cortana com tecnologia ativada por voz, mas ainda com limitações. Qual será o próximo passo e o futuro nos próximos 20 anos em relação a isso?
AE:
Existem novas tecnologias lançadas diariamente e o campo do “machine learning” (“aprendizagem de máquina”) também está a progredir a um ritmo veloz. No nosso primeiro modelo totalmente elétrico, o XC40 Recharge, implementamos um novo sistema de infoentretenimento operado pela Google que permite o controle por voz, o que acreditamos representa uma melhoria do ponto de vista da segurança.

W: Os veículos de condução autónoma terão de tomar boas decisões, mesmo em situações de emergência extrema. O desenvolvimento de veículos autônomos também será apoiado em “algoritmos morais” que podem resolver dilemas como “que ser humano terá prioridade para ser salvo:‘ a ’ou‘ b ’? Quais são os tipos de pessoas prioritárias que os “algoritmos morais” classificarão em primeiro lugar?
AE:
Trabalhamos com segurança preventiva e com margens de segurança, evitando potenciais acidentes ao não colocar o veículo numa situação dessas. Quando confrontado com um potencial acidente à sua frente, o veículo irá travar para evitar ou mitigar acidentes.

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