A aura de Portugal nos ralis é incontornável, com especiais míticas, numa prova que anteriormente era uma verdadeira “volta a Portugal” em automóvel. Hoje em dia, por diversos motivos, o cenário não é o mesmo.

No entanto, pela mão do Automóvel Club de Portugal (ACP), existe uma forma de comemorar e relembrar essa época de ouro do automobilismo, na qual dezenas de milhares de pessoas se estendiam ao longo de quilómetros de especiais, onde passaram grandes nomes dos ralis, assim como máquinas inconfundíveis.

Fomos reviver o passado e sentar ao lado de um velho conhecido do público nacional, Miki Biasion, vencedor por três vezes da prova lusa e duas vezes campeão do mundo de ralis, em 1988 e 1989.

O cenário perfeito

Depois de uma noite passada na serra de Sintra, em troços como a ‘Lagoa Azul’, ‘Peninha’ ou ‘Pé da Serra’, onde foram feitas as delícias das centenas que se juntaram numa calorosa noite de outono, foi na reta do Estoril que tudo terminou. Esta XII edição do Rally Portugal Histórico contou com mais de 40 automóveis, que durante 5 dias percorreram centenas de quilómetros em paisagens fantásticas, como foi o caso da Serra da Estrela.

Os pilotos, nesta derradeira ‘especial’, fizeram as delícias dos muitos que estavam presentes, e que deram uma cor especial às bancadas do autódromo, mostrando que existe “vida” para o desporto motorizado em Portugal. No final, foi João Vieira Borges que, a bordo do Porsche 911 Carrera 3.2, conseguiu a tão desejada vitória, após duas passagens pelo pódio nas edições anteriores.

Em segundo lugar, ficou o belga Yves Deflandre, que já conquistou por duas vezes a derradeira vitória neste evento. A fechar o pódio ficou Michel Decremer, que sofreu de problemas de embraiagem no seu Opel Ascona 400.

E sem darmos por isso, já estávamos ao lado de Miki Biasion. O simpático Italiano convidou-nos para entrar a bordo ‘seu’ Lancia Delta Integrale, para partilhar connosco a emoção de um slalom em plena reta do belo circuito do Estoril.

Enquanto esperávamos, interrogamo-lo quanto à “potência deste Delta?”. Ao que nos responde:

“Fraquinho, o Delta S4 andava mais. Mas pronto, este deu-me dois campeonatos do mundo…”

Sem esperar mais, Biasion arranca e imediatamente o público ergue-se nas bancadas, aplaudindo o piloto e vibrando com o Lancia Delta com as míticas cores da Martini. Pais e filhos, em plena união, e naquele momento, para além de desfrutar da exclusiva boleia e de sentir o privilégio de ir a bordo de um dos carros de rali mais famosos do mundo, sinto também que em Portugal ainda há vida para lá do futebol…

Tudo passa num instante e, pouco depois, estamos de volta à partida. Cumprimento o piloto e espero por ele para mais umas perguntas. Logo de seguida, outro dos pontos altos, com o Audi Quattro S2 a fazer o mesmo percurso, mas pelas mãos do Sueco Stig Blonqvist. (No qual também andei ao lado, mas que não foi tão falador… Aqui tudo justificado pela questão cultural. Afinal, os suecos nunca foram de muitas conversas.)

Miki chega até mim, e peço-lhe para responder a umas pequenas perguntas:

Motor24: “Miki, venceu aqui por três vezes, que importância tem este país, para si?”

Miki Biasion:“Venci aqui três vezes, fui três vezes segundo e três vezes terceiro, e fiz só onze ralis (em Portugal). Foi o rali em que fui mais competitivo. Adoro o vosso país, para além de ser lindo e de ter umas belas estradas, acho que têm mesmo os melhores fãs do mundo. Sempre que me é possível volto cá, e regresso com bastantes souvenirs.”

M24: “Pensa que os pilotos da sua era são vistos mais como heróis, do que os atuais? Pergunto isto porque eu era muito novo, e até nem tinha nascido quando foi campeão, e conheço-o…”

MB: “Bem, os ralis no passado eram diferentes, eram muito mais longos. Mas nós estávamos muito mais em contacto com os pilotos, e não só nas provas, mas também nas service areas.Deixávamos o público chegar até nós, assim como conversar e tirar fotos connosco. Agora, as regras mudaram, estão muito mais longe dos espetadores. Os pilotos agora são muito mais VIP do que nós, na altura…”

M24: “Qual foi o carro de rally que mais gozo lhe deu pilotar?”

MB: “Eu gostei realmentedo Lancia Delta S4, porque um piloto gosta sempre de ter o máximo de potência possível. Mas também gostei muito do (Lancia) 037, mas também claro o Delta Integrale que me deu os campeonatos, por isso adoro o Delta!”

M24: “Agora, uma pergunta sobre o futuro. Como imagina os campeonatos do mundo, e os ralis em geral, daqui a 15 anos?”

MB: “Espero que não seja elétrico, porque temos de notar que estamos aqui, e temos muito espetadores, muito por causa dos carros antigos, pelo som dos motores antigos, e o som está cada vez mais a mudar. Espero que o futuro sinceramente não seja mesmo com automóveis elétricos.”


“O Rali de Portugal Histórico foi um sucesso. Basta olhar para as bancadas”

Falámos ainda com Miguel Fonseca, do Clube ACP para perceber se este rali foi, uma vez mais, um sucesso, e a resposta foi positiva:

“Desta vez, resolvemos fazer tudo diferente e juntar três dos nossos ex-líbris na mesma semana (Estoril Classic, Cascais Classic Motorshow e Rally de Portugal Histórico). Tomámos esta decisão porque as datas destes três eventos eram muito próximas, e achámos que isso podia retirar o interesse de alguns amantes do motor em regressar praticamente ao mesmo local. E a prova está aqui, basta olhar para as bancadas…”

E o Rally?

“Foi um verdadeiro sucesso. Este ano, percorremos, uma vez mais, locais com uma beleza grandiosa, onde destaco a Serra da Estrela. E se pensam que é um “rally chato” de regularidade, temos a dizer que as velocidades atingidas são bem consideráveis, e mesmo nós, para criar os troços, tínhamos dificuldade em manter as médias tão elevadas…”

E para o ano? Teremos novamente este RPH?

“Claro que sim, é uma aposta ganha, e voltaremos tal como ontem [5 de Outubro] a ter a Especiais na serra, que foram uma verdadeira loucura para aqueles que se lembram destas máquinas em ação”.

Rodrigo Hernandez

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