Atingida e superada a fasquia das 500 mil unidades vendidas em 2019 a nível europeu, a Kia revelou uma ambiciosa estratégia de crescimento que pretende levá-la a uma posição de liderança no futuro do setor automóvel, abrangendo três pilares fundamentais: serviços de mobilidade e eletrificação de veículos, conectividade e autonomia. A marca apelida esta sua estratégia de ‘Plano S’, preconizando a transformação de um modelo de negócio centrado na produção de veículos de combustão interna para um em redor dos elétricos e serviços de mobilidade, sem com isso perder rentabilidade.

A estratégia prevê chegar já a 2025 numa posição de destaque, com os detalhes revelados recentemente na Coreia do Sul a apontarem para uma visão de empreendedorismo em diversos setores, não só no automóvel, mas no de serviços e à procura de colmatar lacunas em áreas de distribuição empresarial.

Na área automóvel, a Kia pretende disponibilizar uma gama de 11 modelos de veículos elétricos até 2025, com os quais pretende atingir uma quota de 6,6% no mercado global de veículos elétricos, ou seja, um mix de 25% das suas vendas com os modelos ecológicos. O objetivo em termos de números é vender 500 000 carros elétricos ao ano em 2026 num total de um milhão de veículos ecológicos (excluindo o mercado chinês), com alguma forma de hibridação.

Com recurso a uma nova plataforma, criada exclusivamente para veículos elétricos, a marca terá um modelo 100% elétrico em 2021 (que deverá ser revelado em outubro), que será um dos 11 modelos a lançar até 2025, entre veículos de passageiros, SUV e monovolumes a partir de 2022. Sobre o veículo a lançar em 2021, sabe-se que terá design de crossover mais evoluído, experiência de utilizador futurista, mais de 500 quilómetros de autonomia e carregamento rápido em menos de 20 minutos. Além disso, em toda a sua linha de elétricos, a Kia irá contar com outras soluções, desde versões elétricas de modelos existentes a modelos específicos, com recursos diferenciados e focados no cliente, tal como duplas capacidades de carregamento (400V/800V).

Apresentado no final do ano passado, o Futuron Concept mostra como serão os Kia do futuro, num visual bastante arrojado.

Esta estratégia de crescimento global, garante a Kia, não se fará a custo da rentabilidade, uma vez que a marca prepara uma diferenciação “personalizada e orientada para o mercado, que considera as diferenças regionais na regulamentação ambiental, subsídios e infraestrutura, entre outros”. Ou seja, a marca vai compensar os investimentos a fazer nos mercados mais evoluídos como os da Coreia do Sul, América do Norte e Europa, nos quais terá de respeitar padrões mais rígidos de eficiência de combustível, com a expansão, nos mercados emergentes, das vendas de veículos com motores de combustão interna, ao mesmo que estudará o lançamento seletivo de VE, dependendo da procura.

A Kia promete ainda inovações nos métodos de vendas: através da gestão integrada do ciclo de vida do veículo elétrico, a empresa irá analisar a viabilidade do plano de negócio, como no caso do modelo de subscrição personalizado, um programa de aluguer/leasing de baterias e atividades de negócio relacionadas com baterias usadas.

Relevante para o seu plano de eletrificação é o facto de, em maio do ano passado, a Kia ter investido no fabricante croata de superdesportivos Rimac Automobili, chegando em setembro a acordo com a rede IONITY para abrir o caminho no desenvolvimento da infraestrutura de carregamento rápido na Europa e em outros países relevantes.

Veículos a preceito

Paralelamente, a Kia oferecerá serviços de mobilidade baseados em veículos elétricos como parte do seu novo modelo de negócio, ajudando a resolver problemas urbanos globais, como a poluição ambiental. No mercado de Veículos com Fins Específicos (PBV ou Proposed Build Vehicles), no qual se espera uma expansão com base nos negócios de mobilidade partilhada e do comércio eletrónico, o Grupo Hyundai-Kia terá uma abordagem mais disruptiva, por via de um investimento de 110 milhões de dólares na startup Arrival, uma startup que desenvolveu uma base modular ao estilo de plataforma que lhe permite oferecer veículos elétricos a preceito para cada serviço ou cliente. Quer também criar hubs, ou centros de mobilidade, fora das cidades, para que os condutores possam deixar os seus carros com motor de combustão para usarem depois carros elétricos dentro da cidade. Nesse âmbito, a Kia observa com atenção a possibilidade de explorar novos modelos de lucro, como a logística e a manutenção dos veículos, através das Plataformas de Mobilidade, as quais podem ser também entrepostos para as empresas de distribuição.

De acordo com os dados iniciais revelados pela Kia, o ‘Plano S’ levará a um investimento total de 25 mil milhões de dólares até ao final de 2025. Até ao final desse período, a Kia Motors pretende alcançar uma margem de lucro operacional de 6% e um Return On Equity (rentabilidade de capitais próprios) de 10,6% para garantir o capital necessário e maximizar o valor para os acionistas.

O CEO da empresa, Han-woo Park, referiu que o “Plano S é um roteiro ousado e empreendedor para a futura transição do negócio da Kia, apoiado nos pilares dos veículos elétricos e das soluções de mobilidade. A nossa abordagem é colocar os clientes em primeiro lugar e a Kia revigorará a inovação da sua marca, desenvolvendo produtos e serviços que ofereçam novas experiências para os clientes”.

A longo prazo, a empresa tem como objetivo operar robot-táxis autónomos e carrinhas-robot a pedido em centros urbanos que também disponham de Plataformas de Mobilidade.

Foco em serviços e autonomia

A Kia ampliou recentemente a colaboração com empresas de soluções de mobilidade, tanto na Coreia como no exterior. Em 2018, investiu na Grab, a maior empresa do sudeste asiático em serviços de transporte individual, entrega de alimentação e soluções de pagamento e, em março de 2019, adquiriu uma posição na Ola, uma empresa da Índia que oferece serviços de car-sharing, de transporte individual, de táxi, de entrega de comida e outros serviços de mobilidade.

No capítulo tecnológico da mobilidade autónoma, note-se que a Kia (como parte do Grupo Hyundai) assinou um acordo de joint-venture em setembro de 2019 com a Aptiv, especializada no desenvolvimento de soluções de condução autónoma. Esta parceria ajudará a marca a progredir nas tecnologias de condução autónoma de nível 4 e 5.

Através desta cooperação, a Kia irá desenvolver uma plataforma de tecnologia de condução autónoma até 2022, para, no ano seguinte, colocar em atividade experiências-piloto em áreas selecionadas. Seguidamente, na segunda metade de 2024, arrancará a produção comercial para fornecer a plataforma para fabricantes globais e empresas de serviços de mobilidade.