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Covid-19: Planeta começa a respirar melhor cumpridos dois meses de quarentena, garante a UVE

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Associação dos Utilizadores de Veículos Elétricos defende que o abrandamento das atividades não essenciais, em todo o Mundo, está a melhorar a qualidade do ar do Planeta. E não pretende voltar à “normalidade que nos trouxe aqui”…

O novo coronavírus tem feito vítimas mortais em todo o Mundo – mais de 154.000 à data de hoje – e obrigado os governos, a uma escala global, a decretar estados de exceção e de emergência, de modo a controlar a pandemia, encerrando todas as atividades não essenciais e confinando as populações às suas casas. Mas, além dos brutais prejuízos humanos e económicos provocados pelo covid-19, o abrandamento das atividades tem tido, como consequência paralela, “uma redução imediata das emissões de gases tóxicos, especialmente visível nas grandes cidades e áreas metropolitanas, com a paragem ou redução dos transportes rodoviários movidos a combustíveis fósseis, transportes públicos e veículos particulares, mas também a aviação comercial, com uma redução do tráfego aéreo de cerca de 90% a 95%, bem como a paragem da esmagadora maioria dos navios de cruzeiro”, salienta a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos, UVE em comunicado oficial.
Segundo a associação lliderada por Henrique Sanchez, as “consequências da gigantesca paragem da atividade humana sobre os territórios possibilitaram às diversas agências internacionais, como a NASA e a ESA, monitorizar quebras muito significativas dos níveis de CO2 e de gases tóxicos de nitrogénio (NOx), e obtiveram-se imagens comparativas, entre o antes e o depois destas restrições, que têm permitido confirmar, na prática, que sim, é possível tornar as cidades ambientalmente mais sustentáveis, com níveis de qualidade do ar compatíveis com as necessidades dos humanos, assim como níveis de ruído aceitáveis para os ouvidos humanos”.
A UVE vai mais longe. “Há também vários estudos que mostram que a severidade da Covid-19 – incluindo a letalidade – está intimamente ligada aos níveis de poluição atmosférica a que os afetados estiveram sujeitos no passado, com um aumento marcado da letalidade, mesmo em locais com níveis de poluição atmosférica moderados”, revela.
Na prática, segundo a associação, durante estes dois meses de quarentena, constatou-se, por exemplo, que, em Wuhan, a qualidade do ar melhorou 21,5%; que, na China, a redução de CO2 atingiu cerca de 25%; e que a poluição do ar em Barcelona e Madrid reduziu cerca de 50%”, sublinha.
Socorrendo-se dos dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a UVE adianta ainda que “o número de mortes relacionadas com a poluição atmosférica atinge os sete milhões de pessoas por ano”. E acrescenta. “Com a redução do ruído, também pudemos todos ouvir, de novo, o canto dos pássaros no interior das nossas cidades, mas também o atrevimento de certas espécies a invadirem territórios que os humanos tinham abandonado, rebanhos de cabras no País de Gales, veados no Japão, macacos na Tailândia, cervos em Odivelas, faisões em Madrid, javalis em Itália, peixes em Veneza, e um sem fim de situações que nos vieram lembrar que não estamos sós neste planeta”, afirma. E questiona. “Que reflexão podemos então fazer, destas consequências, destes efeitos colaterais do abrandamento da atividade humana, e da enorme redução do tráfego rodoviário, aéreo e marítimo, através da utilização de veículos com motores de explosão movidos a combustíveis fósseis?”.

Emissão de Dióxido de Nitrogénio na Península Ibérica (março 2019 vs. março 2020) Fonte: ESA (Agência Espacial Europeia)

Abandonar o “normal”
A UVE reclama a necessidade de “acelerar a eletrificação dos transportes públicos nas grandes cidades; avançar decisivamente para a eletrificação das frotas empresariais; promover o transporte ferroviário eletrificado como alternativa ao transporte aéreo; e apoiar e incentivar a eletrificação do transporte particular, individual ou coletivo”, pode ler-se no mesmo comunicado oficial.
Na sua opinião, de resto, “nunca se fez tão urgente promover a eletrificação de todos os veículos e formas de mobilidade!”, defende a associação. “Este ano de 2020, é o ano em que começaram a ser contabilizadas as emissões dos automóveis produzidos e comercializados na Europa, o CAFE (Clean Air For Europe), que impõe aos fabricantes emissões máximas de CO2 de 95 g/km, sob pena de imposição de pesadas multas a partir de janeiro de 2021. Com esta paragem brutal da atividade económica, aqui incluída a indústria automóvel europeia, temos assistido a algumas movimentações dos grandes fabricantes europeus, para a implementação de uma moratória na aplicação das regras do CAFE e para uma efetiva ajuda financeira às respetivas empresas por parte, quer dos respetivos governos nacionais, quer da própria União Europeia”, enquadra. E concretiza. “A UVE defende que esta é uma oportunidade histórica para avançarmos decisivamente para a eletrificação de todo o tipo de transportes, sendo que, qualquer moratória ou ajuda financeira deverá ser sempre acompanhada de exigências aos fabricantes que vendam no espaço europeu, de acelerarem os planos de eletrificação dos seus veículos, com prazos bem definidos e mais curtos do que os previstos antes da atual crise que atravessamos”, adverte.
Como nota final, a UVE deixa uma mensagem a todos os governos das cidades. “Que tenham essa capacidade e visão de transformar os sacrifícios e restrições que atravessamos atualmente em avanços claros e decisivos na construção de cidades mais amigas do ambiente, dos seus habitantes e visitantes. Que o governo nacional intervenha, através da adoção de políticas públicas, no sentido de promover a produção e a comercialização de veículos elétricos em Portugal, quer através de políticas fiscais ou de incentivos à aquisição dos mesmos, assim como do incentivo à criação de fábricas de baterias e de legislação simplificada que permita a conversão de veículos com motor de explosão em veículos elétricos. Esta é uma oportunidade para avanços significativos, quer no cumprimento dos acordos internacionais assinados pelo governo português, como o Acordo de Paris, quer para acelerarmos políticas nacionais, como seja o Roteiro para a Neutralidade Carbónica RNC2050”, afirma. E remata. “Não queremos voltar à chamada “normalidade” anterior à atual crise, pois foi essa mesma “normalidade” que nos trouxe até aqui”.