Trata-se da única marca automóvel com nome no feminino. A comemorar os seus 120 anos, a Mercedes-Benz recorda a origem do nome Mercedes, que de uma menina de 11 anos passou para as carroçarias dos modelos alemães, naquela que foi a sua primeira marca de veículos de luxo do mundo.

Empresário e entusiasta dos automóveis, Emil Jellinek depressa cedeu à promissora competência técnica da Daimler-Motoren-Gesellschaft (DMG) para lhe fornecer automóveis, chegando mesmo a representar a marca para distribuir carros e motores da marca.

Mas a decisão de entregar à DMG a conceção e desenvolvimento de um novo carro com o nome da sua filha, Mercédès, viria a revelar-se um marco que, na época, nenhum poderia ainda antever. A 2 de abril de 1900, aquele empresário comissionou à DMG a produção desse veículo, que viria a ser chamado de Daimler-Mercedes 35 PS, em alusão aos seus 35 CV.

O nome Mercedes escolhido para a filha era, para Emil, um desígnio de sorte e boa fortuna. Sendo um homem supersicioso, entendeu por isso que todos os seus empreendimentos teriam aquele nome. Mais tarde, em 1903, viria mesmo a adotar o nome Jellinek-Mercedes, declarando, para a posteridade, que “deveria ser, muito provavelmente, a primeira vez que um pai usava o nome da sua filha”.

Regressando às origens do Mercedes 35, ao encomendar o carro à DMG, quase numa exigência profética, Jellinek terá dito que “não quero um carro para hoje ou para amanhã, será um carro para o dia depois de amanhã”. Embora a decisão de conceber o veículo tenha sido tomada a 2 de abril, apenas a 22 de dezembro de 1900 é que Emil Jellinek recebeu o primeiro carro em Nice, França.

Mercédès Jellinek, ao volante de um carro de corrida da Mercedes, fotografada presumivelmente em redor de 1906.

Esse veículo era não só o mais recente e potente alguma vez produzido pela DMG, mas também passou a ser visto como o primeiro carro moderno de luxo. Com efeito, o Mercedes 35 PS era pensado, sobretudo, para altas prestações, com peso reduzido, baixo centro de gravidade e longa distância entre eixos. O seu formato era também inovador, distanciando-se da imagem de uma carruagem, como os anteriores veículos.

A sua relevância foi tanta que Paul Meyan, fundador e secretário-geral Automobile Club de France (A.C.F.), terá dito as seguintes palavras: “Entrámos na era Mercédès”.

Desde então, as letras curvas “Mercédès” passaram a adornar os radiadores dos automóveis de passageiros Daimler. O nome foi registado como marca comercial a 23 de junho de 1902, tendo sido depois alterado para Mercedes-Benz após a fusão das empresas Daimler e Benz em junho de 1926.

A família Simplex

O surgimento deste Mercedes 35 CV (ou 35 PS/35 HP) foi também importante para a criação de uma linha de modelos menos potentes que orientou o princípio ‘Simplex’ a partir de 1902, que compreendia inicialmente três modelos. A denominação ‘Simplex’ dizia respeito a veículos de fácil operação pelos padrões daquela época. A mais potente era a Mercedes 40 PS, o sucessor direto do carro comissionado por Emil, surgido em 1902. Foi esse modelo que venceu também algumas das mais relevantes competições motorizadas de então, como a Rampa de Nice-La Turbie, seguindo-se, um ano mais tarde, o modelo 60 PS, que estabeleceu um novo recorde.

Os derradeiros modelos a surgirem com a designação Mercedes-Simplex apareceram em 1904, incluindo variantes 28/32 PS, tendo desaparecido da gama em 1905. Porém, a Mercedes-Benz não esqueceu as suas origens e, no ano passado, num projeto vincadamente retro, mostrou o Vision Mercedes Simplex, que simbolizava passado e futuro numa carroçaria limpa.
Vision Mercedes Simplex

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.