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Aranhas a bordo, autocolantes que descolam e outros ‘recalls’ estranhos

Aracnofobia (Parte 1) Se é dos que não gosta de aranhas, saber que no seu carro há um ecossistema delas pode ser o seu pior pesadelo. Mas isso foi mesmo o que aconteceu por duas ocasiões com marcas japonesas. Em 2011, a Mazda deu a conhecer um problema com 'amigos de oito patas' nos depósitos dos seus Mazda6, numa situação que se repetiu por duas vezes. À primeira, em 2011, a marca chamou 52.000 unidades do Mazda6 a gasolina de 2009 e 2010 devido à entrada no depósito de gasolina de aranhas de saco amarelo (Cheiracanthium mildei e Cheiracanthium inclusum), que apreciam os vapores do combustível. As suas teias poderiam causar pressão negativa no depósito, potencialmente resultando em fissuras. Na época, foi instalada uma mola para impedir a intrusão dos aracnídeos, mas a solução não chegou: em 2014, foram chamadas 42.000 unidades do mesmo modelo, construídas entre 2010 e 2012 para resolver de vez o problema. A marca não reportou nenhum incidente sério.
Aracnofobia (Parte 2) Outra marca afetada foi a Toyota, que em 2013 chamou à oficina 885.000 exemplares devido à existência de aranhas no sistema de ar condicionado, com as teias a causarem bloqueios das tubagens de drenagem e consequentes fugas de água para os módulos de airbag, com estes a poderem apresentar mau funcionamento subsequente. Para precaver este risco nos seus modelos, a Ford, por exemplo, desenvolveu um sistema para manter as aranhas afastadas dos seus carros.
Sensor preguiçoso A sueca Koenigsegg protagonizou uma situação pouco comum para 'recalls', chamando um único exemplar à oficina. Tratou-se de um Agera de 2012 que apresentava como defeito um sensor de pressão dos pneus que tardava a enviar as suas informações para o sistema de controlo de pressão dos pneus.
Problema à direita e autocolantes Entre as razões mais estranhas para o acionamento de 'recalls' estão aquelas invocadas pela Honda e Chevrolet. A primeira ordenou que todos os modelos Odyssey de 2013 fossem às oficinas para trocar a insígnia com o nome do lado direito. O correto seria ter a inscrição Odyssey no lado esquerdo, pelo que a sua colocação no lado oposto poderia sugerir uma reparação ou pintura após acidente. Nesse mesmo ano, a Chevrolet ordenou que quase 20.000 unidades do Camaro fossem à oficina para 'recolar' um autocolante na pala do sol do lado do condutor. Isto porque um dos autocolantes posicionados naquele elemento poderia descolar-se e nele estavam indicadas as normas da marca relativas ao sistema de airbag.
O passageiro trava? Um dos desafios levantados às marcas pelos mercados de volante à direita é a sua conversão. No caso das marcas francesas Renault, Peugeot e Citroën, o desafio tornou-se numa pequena dor de cabeça no Reino Unido, quando se descobriu que os passageiros, no lugar esquerdo, conseguiam travar o veículo pressionando com os pés no lugar onde usualmente costuma estar o pedal do travão nos veículos com volante desse lado. Sem que tenha sido um caso grave, a Citroën acabou por chamar mais de 20.000 unidades do C3 Picasso anteriores a 2011 para reparar a situação, que era causada por uma má proteção do cilindro mestre no lado esquerdo, com o passageiro a conseguir calcar e atuar sobre o sistema hidráulico.
K.I.T.T., Citroën 2CV... Subaru O que é que os dois primeiros carros têm em comum com a Subaru? Conhecidos pelas suas proezas autónomas – o primeiro na série 'Knight Rider', o segundo na ajuda à dupla de detetives mais famosa da TV portuguesa, 'Duarte & Companhia' –, ambos podiam ligar-se sozinhos e guiar-se de forma autónoma. No caso dos Subaru XV, Legacy, Outback e Impreza de 2010 a 2013 havia um caso semelhante, mas só de arranque nos modelos equipados com o sistema de ignição remota. Se a chave caísse ao chão, o sinal emitido pelo comando poderia levar o carro a ligar-se e funcionar até um máximo de 15 minutos, voltando a fazê-lo ciclicamente até que acabasse a gasolina do veículo ou a bateria do comando! A marca japonesa viu-se obrigada a 'chamar' 47.000 unidades com o sistema Audiovox de ignição remota, seguindo assim a recomendação da Administração Nacional de Segurança Rodoviária americana (NHTSA).
Chamada pessoal A história já foi aqui relatada no Motor24 e prende-se com o 'recall' de uma única unidade do Mercedes-Benz ML 350, em que, além de ter existido contacto direto da marca com o seu proprietário, a companhia viu-se também obrigada a fazer uma campanha na imprensa para a notificação. A razão é simples: o código de Defesa do Consumidor do Brasil dita que qualquer ação de recolha ou solução de problemas detetados após o lançamento do produto obriga a um anúncio publicitário na imprensa, rádio e televisão (Art. 10º da lei federal 8.078/90) por parte da companhia que o produziu, mesmo que os seus clientes já tenham sido alertados. O ML tinha de resolver um problema com os parafusos dos eixos dianteiro e traseiro do seu SUV.
Rolls com data específica Como já se percebeu, nenhuma marca está imune a 'recalls': a luxuosa Rolls-Royce também procedeu a uma pequeníssima ação, sabendo mesmo qual o modelo a chamar. Tratou-se de um caso único de um Ghost fabricado no dia 23 de janeiro de 2014, em que os airbags laterais dianteiros poderiam não estar em conformidade com as regras de segurança da marca, levando a que os mesmos pudessem não se ativar em caso de acidente.
'BMW, podemos trocar a Laura pelo Fritz?' Para fechar esta lista de 'recalls' estranhos, falta mencionar o efetuado pela BMW nos seus modelos Série 5 na década de 1990 por causa da voz do sistema de navegação. Tendo escolhido uma mulher para dar as indicações da rota a seguir, muitos dos proprietários queixaram-se do facto, referindo que preferiam uma voz masculina. Dito e feito – não sem antes a BMW ter tentado contra-argumentar com a ideia de que uma voz feminina era mais suave – e os Série 5 rumaram às oficinas para a instalação da voz do Fritz em vez da Laura (nomes fictícios...). A história surge em grande destaque num livro do professor de Comunicações da Universidade de Stanford, Clifford Nass, sobre as dificuldades de comunicação no mundo contemporâneo.
Um 'problemita' com os travões? Num caso insólito, a Chevrolet chamou à revisão um total de 4.296 unidades do Sonic (Aveo na Europa) produzidos entre 2 de junho e 21 de novembro de 2011. A causa? A possibilidade de não terem pastilhas de travão montadas. Os modelos foram todos produzidos no Michigan, nos Estados Unidos da América (EUA) e destinavam-se ao mercado local e ao Canadá. Sem que nenhum incidente tivesse sido reportado, a situação só foi descoberta quando um Sonic de uma empresa de aluguer de carros levou o veículo para uma revisão. O caso só afetaria entre 20 a 30 unidades, de acordo com a companhia.

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Na indústria automóvel, o termo ‘recall’ tornou-se muito mais banal nos últimos anos, demonstrando a atenção das marcas para a reparação de pequenos problemas ou na precaução do surgimento dos mesmos.

Para quem não sabe, uma ação de ‘recall’, traduz-se numa chamada à oficina de uma série de veículos para reparar uma situação anómala, geralmente sem qualquer tipo de encargo para o seu proprietário, até porque o ‘defeito’ a emendar é usualmente responsabilidade da marca. Aliás, o objetivo de um ‘recall’ é sempre o de melhorar a segurança, qualquer que seja o ponto de vista, pelo que não deve ser observado como algo de negativo, mas sim como um foco de uma marca para melhorar a segurança.

Quanto a números, tradicionalmente, os ‘recall’ afetam centenas ou milhares de veículos, mas há alguns que se destacam pelos números mais pequenos ou até, pela estranheza da razão para a chamada à oficina. Desde aranhas a fingir que são o ‘Oitavo Passageiro’ a problemas com a voz do sistema de navegação, já houve um pouco de tudo na indústria.